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Vale foi informada em 2015 de problemas em monitoramento de barragem

Militares israelenses buscam por vĂ­timas em Brumadinho (MG) apĂłs rompimento de barragem  - Washington Alves/Reuters
Militares israelenses buscam por vĂ­timas em Brumadinho (MG) apĂłs rompimento de barragem Imagem: Washington Alves/Reuters

Aiuri Rebello

Do UOL, em SĂŁo Paulo

30/01/2019 17h31

A companhia mineradora Vale foi informada em 2015 sobre problemas nos sistemas de monitoramento da barragem 1 do complexo da empresa em Brumadinho (MG). A estrutura cedeu no dia 25 deixando dezenas de mortos e centenas de desaparecidos. A Vale nega qualquer irregularidade ou problema (veja mais abaixo). 

Naquele ano, um estudo de impacto ambiental encomendado a uma consultoria independente sobre o complexo de mineração alertava para o mau funcionamento de quatro piezĂŽmetros na barragem. Os equipamentos sĂŁo utilizados para medir a pressĂŁo exercida pelos rejeitos sobre a parede da estrutura, e foram instalados em 2006, de acordo com o relatĂłrio.

Outro problema verificado naquela vistoria foi a constatação de que alguns drenos utilizados na medição da vazão de ågua na barragem estavam secos, o que poderia indicar mau funcionamento do equipamento ou que a vazão havia cessado naqueles locais de medição.

Por fim, os auditores independentes concluĂ­ram que havia sedimentos nas calhas laterais da barragem, utilizadas para escoar excesso de ĂĄgua acumulada na parte superior da estrutura, e que havia presença de formigueiros em alguns pontos prĂłximos -- o que podia indicar que elas estavam cavando galerias no solo do local. 

À parte os problemas no monitoramento, a empresa Nicho Engenheiros Consultores Ltda atestou que a estrutura da barragem era estĂĄvel, estava segura contra infiltraçÔes e seguia todas as normas previstas na legislação brasileira. O relatĂłrio recomendava que a Vale verificasse os problemas o quanto antes, apesar de nĂŁo haver risco aparente ou imediato.

Questionada especificamente pelo UOL sobre as providĂȘncias tomadas em relação aos problemas no monitoramento da barragem apontados no relatĂłrio de impacto ambiental de 2015, a Vale nĂŁo respondeu. 

Tragédia de Brumadinho era tensão antiga de moradores

Band Notí­cias

Em nota enviada Ă  reportagem, a Vale afirma que "a barragem era monitorada por 94 piezĂŽmetros e 41 INAs (Indicador de NĂ­vel D'Água)". "As informaçÔes dos instrumentos eram coletadas periodicamente e todos os seus dados analisados pelos geotĂ©cnicos responsĂĄveis. Dos 94 piezĂŽmetros, 46 eram automatizados", continua a reposta da assessoria de imprensa. 

As Ășltimas DeclaraçÔes de Condição de Estabilidade, que atestam a segurança fĂ­sica e hidrĂĄulica da barragem 1, foram emitidas em 13 de junho de 2018 e 26 de setembro de 2018 pela TUV SUD do Brasil, uma empresa alemĂŁ especializada em geotecnia. A estrutura possuĂ­a, ainda, fator de segurança de acordo com as boas prĂĄticas mundiais e acima da referĂȘncia da norma brasileira.
Nota da Vale

Dois engenheiros responsĂĄveis pelo laudo emitido no ano passado foram presos temporariamente na terça-feira (29).  

Procurada pelo UOL a consultoria Nicho, responsĂĄvel pelo relatĂłrio de impacto ambiental de 2015, nĂŁo respondeu ou retornou Ă s tentativas de contato da reportagem feitas por email e telefone. Ao site "The Intercept Brazil", que revelou nesta semana a existĂȘncia do relatĂłrio de impacto ambiental, o dono da empresa afirma que "nĂłs que fazemos licenciamento sĂł recebemos o projeto pronto. PressupĂ”e-se que todos os critĂ©rios tĂ©cnicos e de segurança tenham sido obedecidos".

"A gente faz observação, [aponta que] tem tal problema. Mas dificilmente numa mina que jĂĄ estĂĄ operando o ĂłrgĂŁo ambiental vai dizer que nĂŁo pode operar mais. Se o ĂłrgĂŁo ambiental diz que nĂŁo tem problema, nĂŁo sou eu que vou dizer que tem", afirmou o engenheiro SĂ©rgio Augusto da Silva Roman ao Intercept. 

Plano da Vale era aumentar produtividade em 88%

O relatĂłrio de impacto ambiental produzido pela Nicho em 2015 fazia parte do processo de licenciamento ambiental concedido Ă  Vale no final do ano passado pelo governo de Minas Gerais.

A Vale buscava um novo licenciamento pois, a partir deste ano, pretendia fazer modificaçÔes no complexo de mineração em Brumadinho: a empresa iria reprocessar os rejeitos estocados na barragem 1, que se rompeu, e ainda criar uma nova barragem, alargar uma estrada e aumentar a retirada de minĂ©rio de ferro de uma das minas.

O plano da empresa em Brumadinho era aumentar a produtividade em 88% e manter o complexo funcionando pelo menos atĂ© 2032. Em meio ao processo de concessĂŁo, foi realizada em junho de 2017 uma audiĂȘncia pĂșblica de representantes da Vale com a comunidade e autoridades locais de Brumadinho sobre o projeto. Para a ocasiĂŁo, a Vale preparou uma espĂ©cie de resumo do estudo de impacto ambiental produzido em 2015, onde nĂŁo eram citados os problemas verificados no monitoramento da barragem. 

Questionada pelo UOL, por meio de sua assessoria de imprensa, a Vale afirma que "em virtude de audiĂȘncia pĂșblica, em 2017, foram novamente disponibilizadas cĂłpias do RelatĂłrio de Impacto Ambiental, que jĂĄ havia sido protocolado em 2015 na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentĂĄvel de Minas Gerais".