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Chefe da Rota que defendeu abordagem diferente nos Jardins é promovido

Coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, comandante da Rota - Marcio Komesu/UOL
Coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, comandante da Rota Imagem: Marcio Komesu/UOL

Leonardo Martins e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

01/03/2019 04h01Atualizada em 01/03/2019 12h55

O comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, foi promovido pelo comando-geral da Polícia Militar de São Paulo a coronel. Em 2017, ele defendeu abordagens diferentes em áreas ricas, como o bairro dos Jardins, em São Paulo, e nas periferias. Em nota, a PM informou que a promoção ocorreu por tempo de serviço.

A promoção foi publicada na terça-feira (26) no Diário Oficial do Estado de São Paulo. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) não informou as razões que levaram à ascensão, nem o salário exato que o comandante passará a receber.

Foi informada apenas a faixa salarial dos coronéis: de R$ 20 mil a R$ 31 mil. A SSP também afirmou que ele receberá, no máximo, R$ 23 mil -- salário do governador do Estado e teto dos servidores públicos em São Paulo.

"Realmente ganho muito pouco e se fiquei na polícia não foi por dinheiro, longe disso, tenho três faculdades, uma especialização, mestrado", disse o comandante ao UOL.

No cargo que ocupava até então, tenente-coronel, Mello Araújo tinha salário bruto de R$ 20,4 mil.

27.fev.2019 -  governador João Doria durante coletiva sobre a concessão de marginais, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo (SP), nesta quarta-feira (27) - Flavio Corvello/Folhapress - Flavio Corvello/Folhapress
27.fev.2019 - O governador João Doria durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo
Imagem: Flavio Corvello/Folhapress

Para especialista, falta transparência

O professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani afirmou que as polícias brasileiras deveriam ser mais claras quanto aos critérios utilizados para promover seus servidores. "A gente não sabe se exatamente os mais competentes estão realmente sendo promovidos", argumentou.

"Em qualquer país desenvolvido, se um membro do comando de uma força policial faz uma declaração como aquela, perderia o cargo. Não foi isso o que aconteceu", disse Alcadipani sobre a declaração do comandante.

O advogado Julio Cesar Fernandes Neves, ouvidor das polícias de São Paulo à época, sugeriu a retirada de Mello Araújo do cargo após a declaração. "Se o governo do Estado não fez nada no sentido de retirá-lo do cargo, é porque o governo passado pensava e o novo também pensa daquela maneira", afirmou. 

"O governo Doria retrata a realidade dele. Na campanha, ele falou que ia prestigiar policiais com esse tipo de postura. Já era previsível esse tipo de atitude. A população que elegeu ele queria isso aí", complementou o ex-ouvidor. Procurado, João Doria não se manifestou sobre o assunto.

Abordagem da polícia nos Jardins e na periferia deve ser diferente

UOL Notícias

Comandante destaca riscos da função

Mello Araújo tem os 700 homens da Rota sob suas ordens desde agosto de 2017. Antes, ele comandava um batalhão da PM de oito cidades do interior de São Paulo.

Sobre a promoção, ele destacou o risco que a função lhe impõe.

"Não consigo comer uma pizza em restaurante sem estar de frente para porta com arma na mão para possível intervenção com esposa e filhos preparados para se jogar ao chão a qualquer momento", afirmou.