Escolas de SP têm 117 crimes registrados ao dia; furto e ameaça puxam lista
Resumo da notícia
- UOL traz com exclusividade o número de crimes cometidos em escolas de SP
- Principais ocorrências são furto, ameaça, lesão corporal, injúria e dano
- Estado tem 3.652 policiais militares exclusivos para rondas escolares
Na última quinta-feira (16), um adolescente de 14 anos colocou no status de seu WhatsApp que, ao chegar na escola, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, mataria seus colegas, nos moldes do massacre de Suzano.
Ele foi levado à delegacia. Seria documentado um ato infracional de incitação de ameaça, mas o delegado decidiu registrar como incitação ao crime. Em depoimento, o jovem disse que era uma frase de um jogo de videogame.
Nos últimos cinco anos, a ameaça foi o segundo maior crime em volume registrado em estabelecimentos educacionais de São Paulo, incluindo escolas públicas e privadas, faculdades, cursinhos e cursos de idiomas. Entre janeiro de 2014 e março de 2019, foram registrados 16.073 boletins de ocorrência em todo o estado por este motivo.
O dado, da SSP (Secretaria da Segurança Pública), faz parte de um raio-x da violência nas escolas de São Paulo, obtido com exclusividade pelo UOL através da LAI (Lei de Acesso à Informação).
117 crimes por dia
Nos últimos cinco anos, foram registrados 225.522 boletins de ocorrência em estabelecimentos educacionais. O que representa uma média de 117 crimes por dia.
Entre as infrações, há registros de homicídios, estupros, apreensão irregular de arma de fogo, estelionato, calúnia, maus-tratos e até mesmo associação criminosa e captura de procurados. Entre alguns crimes, estão atenuantes de intolerância, como homofobia, transfobia, racismo e preconceito religioso. Apenas 1% desses crimes tem o registro em flagrante.
Professora levou soco no rosto
Há crimes além dos registrados acima, casos que não chegam até a delegacia. Um destes aconteceu recentemente em uma escola do bairro Tremembé, na zona norte da capital. Uma professora foi agredida com um soco no rosto por um aluno.
Uma professora colega da que foi agredida afirmou ao UOL, sob anonimato, que "falar de violência dentro da escola, para todo professor, é considerado normal". A vítima não registrou a agressão.
Ano passado, na escola em que leciono, aqui na zona norte, no último bimestre, dois alunos do 9º ano começaram a discutir por conta de um boné durante o intervalo. Na hora da saída, um atingiu o outro com um pé de carteira, abrindo o supercílio do aluno.
Ela critica a falta de acompanhamento de pais e polícia. "Não tem ronda escolar, não tem pais na porta da escola. Professor não separa nenhuma briga porque não pode colocar a mão no aluno. Nessa hora, nossa preocupação é não deixar ninguém filmar para não cair em grupo de WhatsApp."
Escola furtada seis vezes em dois meses
Em Ribeirão Preto (SP), uma escola foi furtada pela sexta vez apenas entre fevereiro e março deste ano. Criminosos entraram na escola Doutor Paulo Gomes Romeu e levaram materiais de estudo, cobre e até alimentos que serviriam para a merenda escolar.
No ano passado, uma professora de uma escola municipal do Artur Alvim, zona leste da capital, afirmou à reportagem ter sido ameaçada por um pai de um aluno, porque a criança, do 3º ano, reclamou que ela foi ríspida em uma bronca. Ela registrou boletim de ocorrência. Neste ano, se mudou de casa e de escola. Ela pede para ter a identidade preservada.
Desde que vim do Nordeste, sempre morei na zona leste. Hoje, tenho pavor daquela região. Não consigo ir para lá. Fui para o outro extremo da cidade. O que me dói é saber que posso passar pelo mesmo problema em qualquer lugar. Estamos a Deus dará.
"Faltam agentes de organização escolar"
A reportagem entrevistou dois membros titulares da Comissão de Educação e Cultura da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) questionando quais medidas públicas poderiam ser realizadas para tentar diminuir o índice em um curto e em um longo prazo.
A presidente da Comissão de Educação e Cultura da Alesp e presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), deputada Professora Bebel (PT), afirmou que "o problema da violência nas escolas é grave e crescente. Infelizmente, houve um recuo do governo estadual no programa de mediação escolar, que vinha dando resultados".
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) afirma que tem denunciado que o estado tem cortado programas que auxiliavam na gestão da segurança nesses ambientes. "Com a retirada do programa Escola da Família, a segurança ficou fragilizada", afirmou.
O programa promove atividades para alunos e familiares. Segundo o deputado, a manutenção dele é uma ação preventiva contra a violência. "Além disso, faltam agentes de organização escolar, que fazem função de inspetores, segurança interna e vigia. Faltam pessoas, afirma o deputado, que é diretor de escola pública.
3.652 PMs fazem ronda escolar em SP
O comandante da PM (Polícia Militar), coronel Marcelo Vieira Salles, afirma que o trabalho policial para combater a violência deve ser preventivo. "Se temos a ciência de que uma escola termina a aula 22h30, o comandante regional tem que colocar uma viatura ali. Se há uma rua escura, a polícia tem que estar ali. É um trabalho preventivo."
Por meio de nota, a Secretaria da Educação informou que tem fortalecido a parceria com a ronda escolar da PM para policiamento no entorno das escolas. "A rede estadual conta com equipes de mediação escolar e de supervisores de ensino, que têm a função de fomentar projetos e atividades restaurativas e de promoção à cultura de paz", informou.
"Além disso, está em estudo um projeto para reforço à segurança nas escolas mais vulneráveis, assim como os procedimentos de segurança em todas as 5.300 escolas estão sendo revisados", complementou a pasta.
Os dados publicados nesta reportagem se referem não só às escolas estaduais, mas também municipais e privadas.
Segundo a PM, cada ronda escolar cobre, em média, oito escolas. Ela é aplicável aos municípios com mais de 15.000 habitantes, abrangendo atualmente 287 cidades do estado. Ao todo, a PM tem 3.652 policiais militares exclusivos para esse tipo de policiamento.
"O programa não é uma forma de prevenção isolada. Há interface com o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), programa eminentemente educativo, voltado ao público jovem", complementou a corporação.
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