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Atleta de highline sonhava praticar o esporte na montanha onde morreu em MG

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/06/2019 11h12

"Um montanhista quando está dentro da cidade, olha para frente, vê a montanha e deseja estar lá. O Thiago sonhava em fazer highline lá todos os dias. Era um lugar muito especial para ele." O relato é de Felipe Drews, 29, atleta profissional de highline, e que viu o amigo e atleta Thiago Guimarães Silva, 32, morrer após cair de 50 m de altura, enquanto praticava a modalidade em uma montanha no Parque Municipal das Mangabeiras, na Serra do Curral, zona sul de Belo Horizonte (MG).

O sonho antigo do "Pantufa", como era carinhosamente chamado pelos amigos, era praticar highline justamente na montanha onde se equilibrou, na última terça, em cima de uma fita pela última vez na vida.

Segundo o Corpo de Bombeiros, Thiago caiu de uma altura de 50 metros e chegou a ser socorrido com vida, mas, durante o atendimento, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

4.jun.2019 - Foto tirada por amigo de Thiago (primeiro da direita para a èsquerda) no dia em que o atleta sofreu acidente - Arquivo pessoal/Felipe Drews - Arquivo pessoal/Felipe Drews
4.jun.2019 - Foto tirada por amigo de Thiago (primeiro da direita para a èsquerda) no dia do acidente com o atleta
Imagem: Arquivo pessoal/Felipe Drews

Uma das modalidades do slackline, o highline é um esporte em que o atleta anda e faz manobras sobre uma corda presa a dois pontos fixos em locais de grande altitude, como montanhas e pontes.

Ao UOL, Felipe contou que Thiago insistia para explorar a montanha na Serra do Curral e que, na hora do acidente, usava os equipamentos de segurança.

"Eu achava o lugar legal, mas no local não tinha autorização [para praticar highline]. Eu sugeri fazer em outro lugar, mas ele [Thiago] ficava insistindo. Até terça, em que eu estava de folga, e aí aceitei [praticar highline no local]", afirma.

O acidente

4.jun.2019 - O bloco de concreto onde os atletas ancoraram a corda e que escorregou, provocando o acidente que levou Thiago à morte - Arquivo pessoal/Felipe Drews - Arquivo pessoal/Felipe Drews
4.jun.2019 - O bloco de concreto onde os atletas ancoraram a corda e que escorregou, provocando o acidente que levou Thiago à morte
Imagem: Arquivo pessoal/Felipe Drews

Felipe relata que era a primeira vez que praticavam highline naquela montanha. Ao chegarem no local, ele conta que os dois encontraram um bloco de concreto e decidiram utilizar como ponto fixo para ancorar a corda.

Nós fomos pela primeira vez, mas uma outra equipe já tinha ido. O bloco que a gente usou [para prender a corda] estava escrito 'segurança em altura'. Pensamos que estivesse chumbado no chão, então ancoramos a fita. Eu realmente confiei naquilo. Esse foi meu erro
Felipe Drews, explicando o que pode ter causado o acidente

Eles estavam em um grupo de quatro pessoas na ocasião e, ainda segundo Felipe, Thiago foi o último a andar na fita. Quando ele subiu, o bloco de concreto não suportou o peso, escorregou e caiu, arrastando-o para baixo.

"Eu sempre digo que é mais seguro andar de highline do que de carro. Lá é proibido porque não tivemos tempo de avaliar, fazer um estudo técnico do local", afirma Felipe. "Não é um esporte de aventura, tem todo um estudo por trás. Nós estudamos equipamentos, os tipos de rocha da região, sedimentação."

Referência, brincalhão e atencioso

Atleta profissional, Pantufa colocou os pés na fita do slackline pela primeira vez há nove anos e, atualmente, trabalhava na tirolesa do Parque Municipal das Mangabeiras.

Amiga de Thiago, Fernanda Mattar, 31, afirma que ele era brincalhão e uma das grandes referências da modalidade atualmente.

"Era um cara muito engraçado, sem maldade nenhuma. Com espírito jovem, nunca vi esse cara triste ou reclamar de alguma coisa. Meio bobão algumas vezes, sempre alto astral. A vida dele era 100% highline", relata a atleta de slackline.

Thiago Guimarães - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Em janeiro, Thiago postou foto em redes sociais praticando highline
Imagem: Reprodução/Facebook
Rafael Silva, 29, também atleta e instrutor de slackline, ressalta a importância de Pantufa para a modalidade.

"Ele me ensinava muito, era muito experiente. Era uma das referências no Brasil no esporte. Todo evento de slackline de grande porte, ele estava presente. Ele era uma luz para mim", afirma o educador físico.

Mesmo traumatizado com a perda do melhor amigo, o que vem à cabeça de Drew quando se lembra de Pantufa são as suas brincadeiras.

"Era o tempo inteiro fazendo piada. Uma pessoa diferenciada, não é porque ele morreu, não. A gente chamava o Pantufa para ele fazer piada. Tô sem saber o que sentir. Me sinto impotente", diz.

Amigos dizem que atleta de highline que morreu em MG era 'referência, brincalhão e atencioso'

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