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Aparecimento de caixas em praias do Nordeste intriga região desde outubro

12.jun.2019 - Caixas misteriosas encalham em praias do Nordeste - Divulgação/Instituto Biota de Conservação
12.jun.2019 - Caixas misteriosas encalham em praias do Nordeste Imagem: Divulgação/Instituto Biota de Conservação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/06/2019 11h18Atualizada em 13/06/2019 17h12

A origem de centenas de caixas de borracha que encalharam em praias do Nordeste intriga a polícia desde outubro do ano passado, quando surgiram os primeiros registros no litoral nordestino. Até agora, investigações da Polícia Federal para descobrir o responsável pelos blocos misteriosos não foram concluídas. Especialistas dizem que há indícios que o material possa ter vindo do alto-mar.

Desde a semana passada, novos pacotes vêm aparecendo no litoral de Alagoas, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Em 2018, foram registrados encalhes dos objetos em todos os estados do Nordeste, exceto Bahia. No último sábado, um buggy bateu em um bloco que estava na praia de Santa Rita, em Extremoz (RN), e duas pessoas morreram no acidente.

Um passageiro ferido está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Walfredo Gurgel, em Natal, e o estado de saúde é estável, segundo boletim médico divulgado hoje. O motorista do buggy quebrou uma das pernas e se recupera em casa.

Não há um número oficial sobre a quantidade dos fardos de borracha depositados nas praias do Nordeste, pois o recolhimento foi feito por prefeituras, PF (Polícia Federal) e Ibama (Instituto Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que não centralizaram a contagem. Além disso, parte da população levou pacotes para casa sem o conhecimento das autoridades.

Alagoas foi um dos primeiros estados a registrar o encalhe de pacotes. Em outubro de 2018, a PF no estado e o Ibama iniciaram investigações para descobrir a origem das caixas, mas até agora não houve conclusão nos trabalhos.

"Quanto a informações sobre o mesmo assunto e relativas às investigações iniciadas em 2018, não há atualizações possíveis de serem difundidas no momento, de modo que as investigações ainda se encontram em andamento", disse a PF.

A Polícia Federal em Alagoas informou ontem que não tem notificação oficial sobre o aparecimento e recolhimento de novos fardos de borracha, que voltaram a aparecer este ano na costa alagoana.

O Instituto Biota de Conservação, que monitorava o litoral de Alagoas no ano passado, observou que alguns blocos encontrados na costa continham as inscrições "duzan" e "yen" e desconfiou que o material viesse da China. Porém a procedência não foi confirmada.

Caixa é de borracha sintética

O IMA (Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas) colheu amostras do material em 2018 para verificar se havia algum risco para a população e descobriu que se trata de borracha sintética. Inicialmente, pescadores acreditavam que se tratava de couro de cobra devido ao relevo e cor do material.

"Imediatamente, os técnicos perceberam que se tratava de material sintético e não biológico, até então já havia rumores de que poderia ser couro de algum tipo de animal", disse o IMA.

Técnicos dos setores de laboratório e do gerenciamento costeiro do IMA analisaram as amostras recortando o material e realizaram a queima localizada. Eles concluíram que os blocos são compostos de borracha sintética, pronta para uso.

"Não se trata de látex e sim de uma borracha sintética, derivada de petróleo. A base é o hidrocarboneto. Aparentemente, parece que era borracha compactada e já pronta para uso", explicou o gerente de laboratório do IMA, Manuel Messias dos Santos.

Índicios apontam que material veio do alto-mar

Outro ponto destacado pelo IMA é que há indícios que os blocos tenham se dispersado desde o alto-mar até a costa. "Há organismos incrustados que são comuns de águas profundas. Isso mostra que esse material está há muito tempo no mar e que, provavelmente, estava muito longe da costa", ressaltou o biólogo Juliano Fritscher, do IMA.

Segundo a entidade, além do impacto ambiental, os pacotes podem causar perigo para embarcações, principalmente as de pequeno porte. A Capitania dos Portos foi informada e, em seguida, alertou às marinas e federação de vela e motor sobre possíveis riscos de acidentes.

"Ainda não se sabe qual a origem desses pacotes por causa da grande quantidade e da forma como dispersou, já foi encontrado até no Ceará. Há algumas hipóteses, uma delas é a de que alguma embarcação que fazia o transporte tenha naufragado, mas não temos como afirmar", informou o coordenador de gerenciamento costeiro do IMA, Ricardo César de Barros.

Tanto o IMA quanto o Ibama, na época do surgimento dos primeiros pacotes recomendaram às prefeituras o recolhimento e armazenagem em local apropriado.

O biólogo Cláudio Sampaio, professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca, coordenador do laboratório de ictiologia e conservação do campus Penedo da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), explica que os fardos de borracha podem ter sido descartados por embarcações em alto-mar e que os pacotes chegam até a costa trazidos pela corrente marinha e ventos.

"Essas estruturas de borracha só mostram o quanto subestimados são os resíduos sólidos e materiais descartados das embarcações. O aparecimento pode estar relacionado com correntes e ventos, que neste período do ano sopram mais no quadrante sul e leste, empurrando esse material para a costa", disse o professor.

Ele destaca também o perigo causado pelos pacotes, que vai desde o naufrágio de pequenas embarcações a problemas aos animais marinhos.

"A princípio, todo resíduo sólido pode causar prejuízo a vida marinha e atividades econômicas, como a pesca. Uma pequena embarcação batendo pode levar a naufrágio ou enganchar na rede e danificar o equipamento. Pode causar prejuízo ao turismo, reduzindo a beleza cênica e desconforto dos turistas num estado como nosso que tem o turismo de praia", enfatizou Sampaio.