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"Arrancaram minha vontade de viver", diz mãe de menino morto pelo pai na BA

Familiares se despedem do menino Bernardo - Jéssica Nascimento/UOL
Familiares se despedem do menino Bernardo Imagem: Jéssica Nascimento/UOL

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, de Brasília

10/12/2019 17h54

O corpo do menino Bernardo, de 1 ano e 11 meses, foi velado e enterrado na manhã de hoje no cemitério da Asa Sul, área central de Brasília. O pai do garoto, Paulo Roberto de Caldas Osório, de 45 anos, confessou que sequestrou, matou e jogou o corpo da criança em uma rodovia em Palmeiras (BA), no dia 29 de novembro.

"Nunca pensei na vida passar por isso. Achei que esse tipo de história eu só via em filmes ou em lugares bem distantes. Quando bate na nossa porta a gente não sabe o que sentir, o que fazer. É uma dor tão profunda, uma angústia que eu não desejo nem para meu maior inimigo. Fiquei sem chão. Arrancaram de mim minha vontade de viver. Meu sorriso em alguns momentos até a minha razão", disse a mãe do garotinho, a advogada Tatiana da Silva, de 30 anos.

Segundo a advogada, o menino era o motivo para que ela levantasse todos os dias pela manhã. A mulher ainda tinha esperanças de encontrar o filho com vida. Só pensou na possibilidade da morte, quando a Polícia Civil encontrou o corpo de uma criança na quinta-feira (5) com as mesmas características do menino.

"Meu melhor sorriso era para ele, meu melhor amigo, o meu menino. O menino da mamãe. Agora, pelo menos, pudemos enterrar e temos um lugar para rezar e dar paz para a alma dele", disse.

O velório começou às 13h. Amigos e familiares lotaram a capela. O corpo do garoto foi velado em um caixão fechado, da cor branca. Ao lado, estava um banner com uma foto do garoto e um porta-retrato.

Segundo o Departamento de Polícia Técnica da Bahia (DPT), o corpo do bebê foi liberado pelo IML no fim da manhã de ontem e chegou em Brasília na madrugada de hoje. Uma funerária do DF foi à Bahia para fazer o transporte do garoto. A empresa disponibilizou dois motoristas para evitar atrasos e prolongar ainda mais o sofrimento da família.

Menino Bernardo foi morto pelo pai na Bahia - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Menino Bernardo foi morto pelo pai na Bahia
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Confirmação por DNA

A Polícia Civil do Distrito Federal confirmou por exames de DNA que o corpo encontrado na última quinta-feira (05) em Palmeiras, na Bahia, é do menino Bernardo, de 1 ano e 11 meses. O pai do menino confessou que sequestrou, matou e jogou o corpo da criança em uma rodovia.
O corpo do menino foi localizado por volta de 15h, na região de Barreiro, Povoado Campos de São João, zona rural do Município de Palmeiras, na Bahia. A criança vestia uma calça azul listrada e blusa branca de manga longa. A cadeirinha em que a criança estava também foi encontrado no local.

A avó do garoto viajou com os policiais até a região baiana para reconhecer o corpo. Porém, como ele foi encontrado em avançado estado de decomposição, não foi possível afirmar que era Bernardo.

No sábado (07), amostras biológicas do corpo encontrado na Bahia foram trazidas pela equipe da Divisão de Repressão a
Sequestros, chefiada pelo delegado Leandro Ritt. O material biológico foi encaminhado da Bahia em uma aeronave até o aeroporto de Brasília, onde foi entregue ao médico-legista, geneticista forense e diretor do Instituto de Pesquisa de DNA Forense, Samuel Ferreira.

O material foi prontamente para o Instituto de Pesquisa de DNA Forense para a realização dos exames periciais. Utilizando de técnicas avançadas de genética forense, os exames foram concluídos em menos de seis horas, inclusive com o laudo já redigido, confirmando a identificação genética.

"Com esse laudo, confirmamos que o pai agiu sozinho e criança foi morta ainda dentro de casa. O Paulo mentiu durante todo esse tempo, dando informações erradas sobre o corpo. O objetivo dele era matar e fazer com que os familiares nem pudessem enterrar a criança. Prova disso é que o corpo estava em um local completamente diferente do que o indicado", informou o delegado Leandro Ritt.

Ainda segundo o delegado, Paulo Roberto de Caldas Osório, de 45 anos, tinha a intenção de matar a criança e planejou o crime. Buscou o filho na creche na Asa Sul, em Brasília e misturou 4 comprimidos de remédio, utilizado para dormir, no suco de uva do menino. Além disso, trocou a roupa do menino antes de jogá-lo na mata. O objetivo era dificultar o reconhecimento do corpo.

"Não há dúvidas de que ele queria matar. A dose foi letal. A avó materna disse que as roupas que o corpo estava não eram do garoto, o que indica que o plano inicial era que de o menino nunca mais fosse encontrado", apontou o delegado.

Perfil psicopata, segundo a Polícia

Ritt acredita que o suspeito seja um psicopata. Segundo o delegado, durante horas de depoimento o homem não apresentou nenhum arrependimento. Osório ficou preso por 10 anos após matar a própria mãe. Ele ficou na ala psiquiátrica do presídio e foi colocado em liberdade.

Aos policiais, o homem contou que a mãe chegava de uma caminhada no parque. Ele teria pensado que se tratava de um ladrão e a golpeou a facadas. Depois, enforcou-a com uma corda e ateou fogo no corpo.

"Ele é extremamente frio. Pra nós, o o crime foi premeditado. Paulo disse que só iria viajar com a criança e que o dopou para que ele dormisse. Mas quem viaja com os filhos prepara malas, leva roupas, brinquedos. Ele não levou nada. Até esqueceu a televisão da casa e as luzes ligadas", concluiu Ritt.

Relembre o caso

O suspeito foi foi preso na região de Alagoinha (BA) na quarta-feira (4), suspeito de sequestrar e matar o próprio filho de 1 ano e 11 meses. Ele também matou a mãe em 1992 e ficou preso durante dez anos na ala psiquiátrica da Papuda.

O bebê era fruto de um relacionamento de Osório com a advogada Tatiana da Silva, 30. Os dois foram casados por três anos e se separaram assim que a criança nasceu. Na sexta-feira (29), o suspeito buscou o filho em uma creche, na região da Asa Sul, centro de Brasília. O combinado era que devolveria o menino no mesmo dia, mas, por volta de 20h, ele enviou uma mensagem para Tatiana, informando que iria fugir com a criança.

"Ele (suspeito) sempre foi tranquilo e presente na vida do meu filho. Era louco com o Bernardo. Meu filho também ama muito o pai. Como nunca tive problema, o Paulo pegava meu filho quando queria na creche e depois devolvia. Na quarta-feira passada, por exemplo, ele buscou o menino e devolveu normalmente", disse a advogada ao UOL.

Após receber a mensagem, a mulher procurou a delegacia para registrar boletim de ocorrência. Na noite de domingo, o homem voltou a entrar em contato dizendo que ela nunca mais iria ver o filho. A mulher acredita que a depressão do ex-marido tenha feito ele cometer o sequestro.

"Ele entrou em depressão depois que o pai morreu, no começo desse ano. Fiquei sabendo que ele está afastado do trabalho há 90 dias, por orientações médicas", disse Tatiana.

Paulo Osório é servidor do Metrô, na estação da 112 Sul. Em nota, a empresa informou que o suspeito é empregado da empresa e não comentará o assunto, uma vez que os fatos narrados não se "relacionam com suas atividades na Companhia."

Prisão

Em um vídeo cedido pela Polícia Civil, o suspeito confessou o crime. Disse que dopou a criança com medicamentos, colocou ela no carro e seguiram viagem para a Bahia. No meio do caminho, ele contou que o menino teria morrido e ele decidiu jogar o corpo na rodovia que liga Formosa-GO a Luis Eduardo Magalhães-BA.

Ainda no depoimento, Paulo disse que tinha a intenção de dar "um susto" na mãe da criança. Ele contou que para fazer o bebê dormir durante o trajeto, dissolveu quatro comprimidos de medicamento controlado — que ele toma por causa da depressão — no suco de Bernardo e deu ao garoto ainda em Brasília. Como ele não teria dormido, voltaram para casa onde o filho vomitou e dormiu.

No trajeto, ao parar para abastecer, o suspeito teria percebido que o menino estava "molenguinho". "Coloquei o ouvido no peito dele e não senti o coração", disse durante o depoimento. Ele então teria decidido jogar a cadeirinha com o garoto para fora do carro.