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Plano prevê levar água a 3 mi de sertanejos com 40% do gasto com carro-pipa

Carro-pipa em Santa Bárbara (BA) - Fernando Vivas - 21.out.2016/Folhapress
Carro-pipa em Santa Bárbara (BA) Imagem: Fernando Vivas - 21.out.2016/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Plano de R$ 245 milhões custa menos da metade do gasto com a Operação Carro-Pipa
  • Projeto prevê obras por quatro anos e que sejam soluções definitivas
  • Ministério diz que plano está em análise por equipes técnicas

O Serviço Geológico do Brasil está buscando recursos para tirar do papel um plano inédito, de R$ 245 milhões, que pode beneficiar 3 milhões de pessoas sem água no semiárido nordestino. O plano feito por especialistas do órgão federal prevê um investimento em oito tipos diferentes de ações para oferta de água, com obras previstas por 48 meses.

O valor pode parecer alto num primeiro momento, mas é pequeno quando comparado ao gasto com abastecimento emergencial aos sertanejos ao longo de um ano. Somente em 2019, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, ligado ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), gastou R$ 610,5 milhões com a Operação Carro-Pipa.

A operação federal atende comunidades afetadas pela seca, e é operacionalizada pelo Exército. Ela atende em média, por mês, cerca de 2 milhões de pessoas em 657 cidades do semiárido.

Em 2019, o governo federal reconheceu 1.569 decretos de emergência por estiagem ou seca no Nordeste. O número de cidades que tiveram decretos, porém, é menor já que muitas deles tiveram dois decretos, já que cada um dura seis meses.

O plano

A ideia do Serviço Geológico é que as obras sejam executadas em um período de quatro anos e que sejam soluções definitivas.

Entre as ações estão:

  • mapeamento completo de poços para perfuração;
  • recuperação e melhoramentos dos poços;
  • construção de barragens subterrâneas;
  • recargas artificiais;
  • estações de dessalinização;

Segundo o Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), Antônio Carlos Bacelar Nunes, o plano nasceu de um projeto executado com sucesso em Pernambuco. Após ser procurado por parlamentares, o órgão decidiu ampliar e estruturar o plano à demanda por soluções hídricas para o Nordeste.

"Observamos que o Brasil vinha de cinco, seis anos de estiagem prolongada. Então, sensíveis ao clamor das comunidades, e como já havíamos feito o piloto em Pernambuco com grande alcance social, aprimoramos alguns gargalos e fizemos um macro projeto que incluiu todos os estados", diz Bacelar.

O projeto foi apresentado ao MDR, que encabeça as obras hídricas do país diretamente ou via órgãos como Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).

"Esse projeto já foi discutido em nível de governo. Estamos negociando para captação de recursos através de organismos federais. Estamos em processo avançado de negociação com a Sudene. Também estamos procurando recursos com alguns parlamentares, que podem propor emendas", explica.

Poços são principal solução

O principal ponto do plano é a implantação de campos de produção de água com perfuração de poços. Somente nesse item, o projeto prevê o investimento de R$ 173 milhões em 50 campos no semiárido, que devem beneficiar 2,1 milhões de pessoas. O prazo para as obras é de 36 meses.

Já a perfuração e recuperação de poços deve custar R$ 30 milhões e atender 300 mil sertanejos. "Nós iniciaremos esse plano com um cadastramento de poços que existem no Nordeste. Existe uma gama de poços muito grande no Nordeste, e esses poços estão subutilizados. Alguns não têm ligação com a rede de elétrica, outros produzem pouca água e salinizada, poço que está seco, seria o ponto inicial.

Um outro ponto citado no projeto é o estudo do Sistema Aquífero Urucuia, que ocupa os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Tocantins, Piauí e Maranhão. A ideia do plano é quantificar a reserva hídrica total e saber quanto pode ser explorada.

"Esse sistema é um dos grandes reservatórios que temos de água doce no país. É o maior aquífero que abastece o rio São Francisco, que não existiria sem ele. O que estamos estudando é a potencialidade dele. Vamos determinar a idade da água, saber quanto pode se retirar, estudar a recarga", pontua.

Ao UOL, o MDR confirmou o recebimento do plano e disse que o documento encontra-se em análise por equipes técnicas.

Ainda segundo a pasta, no ano passado foi lançado o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, pela ANA (Agência Nacional de Águas), que fez um "diagnóstico sobre a conjuntura do setor será discutido por parte dos setores usuários de recursos hídricos, academia, sociedade civil e governos".

"O documento servirá de base para a formulação do novo Plano Nacional de Recursos Hídricos, que valerá a partir de 2021 até 2040", finaliza.

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