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Após culpar população por enchente no Rio, Crivella pede desculpas

Chuva provocou estragos e deixou ao menos cinco mortos no Rio, Mesquita e Queimados - Cléber Mendes/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Chuva provocou estragos e deixou ao menos cinco mortos no Rio, Mesquita e Queimados Imagem: Cléber Mendes/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Igor Mello

Do UOL, no Rio

03/03/2020 14h46

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), recuou e decidiu se desculpar por ter culpado a população do Rio pelas enchentes que mataram três pessoas na capital no último fim de semana. Segundo ele, a conservação da cidade está aquém do esperado. Crivella esteve com todo seu secretariado em uma uma reunião de mais de duas horas no COR (Centro de Operações Rio), unidade de monitoramento dos serviços públicos da cidade.

Em entrevista coletiva após o encontro, ele recuou sobre as declarações dadas ontem em Realengo, zona oeste do Rio, um dos bairros mais afetados pela chuva. Na ocasião, Crivella afirmou que "a culpa é de grande parte da população, que joga lixo nos rios frequentemente". O prefeito foi hostilizado por moradores do local e teve o rosto atingido por uma bola de lama.

Diante da repercussão negativa, Crivella disse "ter se expressado mal" sobre o assunto, mas acusou a imprensa de ter deturpado a declaração. "Isso foi muito explorado pela mídia, sobretudo a Rede Globo, que é inimiga jurada do governo. Talvez eu tenha me expressado mal e quero até pedir desculpas, mas o apelo que faço é que a gente evite colocar lixo nas encostas", afirmou.

Crivella repetiu o mesmo tipo de recuo no Twitter, onde foi muito criticado pelas declarações desta segunda-feira. Após ser criticado pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) —com quem disputou o segundo turno da eleição de 2016— o prefeito afirmou que foi "infeliz", mas ironizou o adversário —que é pré-candidato à prefeitura neste ano: "Agora, com respeito a por a culpa na população, isso você tem razão, fui infeliz quando disse que há uma grande maioria jogando lixo nas encostas, beira de rio e bueiros. Isso deu margem a interpretações diferentes da minha intenção. Perfeito só o PSOL, né Freixo?!".

"Conservação não está perto do que gostaríamos", admite Crivella

Embora tenha reunido todo o primeiro escalão de seu governo, Crivella não anunciou nenhuma medida concreta para reduzir o impacto de novas tempestades sobre a cidade.

As providências que tomará limitam-se a retomar negociações para a desapropriação das casas de 200 famílias no entorno do rio Grande, em Jacarepaguá (zona oeste), um dos pontos mais atingidos pela chuva, e solicitar recursos federais para a construção de um reservatório de água no Maciço da Pedra Branca, também na zona oeste. Ele não deu prazos para que nenhuma das duas intervenções saiam do papel.

Crivella afirmou que a conservação da cidade enfrenta problemas. Ele responsabilizou a crise financeira pelos problemas de manutenção — ontem, o UOL revelou que a prefeitura não gastou nenhum real este ano com a manutenção da rede de drenagem, uma das principais ações de prevenção de enchentes.

"Nessa crise toda nós tivemos que dar prioridade para a educação e a saúde. A conservação da cidade realmente não está nem perto do que a gente gostaria", admitiu.

Crivella tentou justificar, porém, o fato de não ter aplicado recursos na manutenção da rede de drenagem. Segundo ele, a falta de repasses é só uma questão burocrática em decorrência do início do ano.

"Pode ter certeza que todos os serviços estão sendo feitos", disse. "Fizemos, trabalhamos. É que a gente só paga em março e abril".