Boate Kiss: réu fala pela 1ª vez e culpa MP e prefeitura pela tragédia
Luciano Bonilha Leão, réu na tragédia da boate Kiss, que aconteceu em 2013 e matou 242 pessoas, falou pela primeira vez sobre o caso em entrevista para o SBT Brasil. Ele, que é acusado de comprar os sinalizadores que provocaram o incêndio, afirmou que os verdadeiros culpados são o Ministério Público, a prefeitura de Santa Maria (RS) e o Corpo de Bombeiros.
"O que eu mais peço no dia do julgamento é que os pais me olhem. Eu não tenho nada a temer no júri, porque sou vítima igual aos filhos deles. Eu acho que os pais estão certos, precisam pedir justiça, mas uma correta", afirmou Luciano, que indicou ainda que o extintor de incêndio da casa noturna estava vazio e não pôde ser utilizado.
"Os verdadeiros responsáveis teriam que estar ao meu lado, já que vou para júri popular. O Ministério Público deveria estar aqui, os Bombeiros, não sei quem da prefeitura deveriam estar aqui. Por que não estão? Por que o privilégio é para eles? Por que a corda estoura no lado mais fraco?", questionou.
Para o réu, a boate Kiss nunca poderia ter existido já que não tinha a fiscalização correta para receber shows. "Você entra em uma casa que não era ilegal. Eu vejo que as pessoas acreditaram que a casa era segura. Você não imagina que vai entrar dentro de uma casa que tenha espuma tóxica que possa matar as pessoas em três ou quatro minutos. E os órgãos públicos dizem que a banda que botou fogo."
A perícia confirmou na ocasião que o tipo de espuma usada no teto e nas paredes da casa noturna liberou gases tóxicos durante a queima, como cianeto e monóxido de carbono. Os investigadores apontaram também todas as pessoas que morreram dentro da boate foram vítimas de asfixia, e não de queimaduras ou outros ferimentos.
Luciano diz que o MP "perdeu a credibilidade" para ele e que nunca foi procurado para conversar, apenas para ser acusado. Ele será julgado sozinho no dia 16 de março. Os outros três réus conseguiram na Justiça a transferência do júri para Porto Alegre, com data ainda indefinida.
Mesmo após sete anos desde a tragédia, Luciano explicou porque não saiu da cidade de Santa Maria, a 300 quilômetros da capital Porto Alegre. "Eu quis ficar em Santa Maria porque minha vida é aqui. Como vou sair [da cidade] para pedir que pessoas de fora me absolvam? Eu tenho que olhar para os pais e para os jurados, é para eles que eu preciso falar."
Por fim, Luciano declarou que, se soubesse, teria comprado os sinalizadores com uma qualidade melhor para o show. Segundo ele, a banda apenas pediu para que ele comprasse os artefatos e não deu opções. Os sinalizadores usados no show eram acionados automaticamente com um sistema elétrico, que causou um incêndio após curto-circuito.
"Na loja, nunca foi falado que existia [sinalizadores] para área interna e externa. E essa é a grande situação que me deixou bem complicado. Porque pais falam que eu comprei o mais barato e matei seus filhos. Eu não tive a oportunidade de comprar o mais caro ou mais barato", disse.
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