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Malafaia comemora decreto de Bolsonaro, mas cultos continuam vetados

O pastor Silas Malafaia e o presidente Jair Bolsonaro em culto no Rio em 2018 - Wilton Junior - 30.out.2018/Estadão Conteúdo
O pastor Silas Malafaia e o presidente Jair Bolsonaro em culto no Rio em 2018 Imagem: Wilton Junior - 30.out.2018/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

26/03/2020 15h46Atualizada em 27/03/2020 11h15

O decreto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que considera as atividades religiosas como essenciais, o que na prática libera os templos para serem abertos em meio às restrições por conta do novo coronavírus, foi comemorado pelo pastor Silas Malafaia, que chegou a entrar na Justiça contra o fechamento de igrejas.

Para o presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Bolsonaro "liberou o reconhecimento das religiões estarem abertas para atender o povo nessa pandemia de pânico".

Cultos e missas, porém, continuam barrados em razão da recomendação do Ministério da Saúde para que se evite formar aglomerações.

Mas a abertura de templos religiosos para prestar outros serviços, o que estava proibido em algumas cidades e estados, fica liberada.

Outros representantes de igrejas também apoiaram a decisão do presidente. Já a Igreja Universal do Reino de Deus informou que vai respeitar as decisões locais de estados e municípios para decidir realizar ou não cultos com a presença de fiéis.

Pastor vê "escolha de Sofia"

Malafaia é partidário, porém, da tese de Bolsonaro de que não seria necessária a quarentena e o fechamento de empresas e escolas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus. "Tem que abrir, irmão", comentou. "Nós temos que ver o que é o menos pior: o caos social ou o coronavírus?".

No Brasil, já foram registrados 2.433 casos com 57 mortes, de acordo com o balanço do Ministério da Saúde de ontem. Em todo o mundo, são mais de 460 mil pacientes infectados com quase 21 mil mortos. Especialistas têm recomendado o isolamento social como uma das medidas para barrar a proliferação da covid-19.

"Eu não sou a favor de morte, mas é escolha de Sofia. O que mata mais: coronavírus ou caos social?", questiona o pastor.

"Estou lá na igreja, estou vendo. Daqui a pouco não tem dinheiro para comprar comida. O que vai acontecer? Tem que abrir, irmão. Senão, vamos ter um caos social que vai matar mais gente que coronavírus."

Universal diz que mantém cultos onde for permitido

A Igreja Universal do Reino de Deus indicou, em nota, que continuará realizando cultos nos locais em que eles ainda não foram barrados. Nestes casos, "os presentes são orientados a se sentarem distantes uns dos outros, mantendo no mínimo uma ou duas cadeiras vazias entre si".

Já nas localidades onde está proibida a realização de cultos em templos religiosos, a Universal disse que "está aberta apenas para orações individuais e auxílio espiritual, e observando todas as cautelas sanitárias".

Associação recomenda não realizar cultos

Diretor da Aliança Cristã Evangélica, associação que representa 60 igrejas e organizações, Beto Barros diz que o decreto é importante porque "esclarece melhor os parâmetros para a atuação de todos durante a crise".

Barros ressalta que as atividades religiosas "são essenciais". "Mas ainda recomendamos que não sejam realizados os cultos, mas o atendimento espiritual, emocional e material para os que buscarem os templos".

A recomendação do grupo é que eles sirvam de base para ações sociais, promovidas pela igreja ou em parceria com prefeituras e ONGs.

A Aliança Cristã Evangélica diz ser a favor das medidas de quarentena e isolamento adotadas por estados, conforme documento divulgado ontem à imprensa.

"Sejam prudentes, escolhendo sempre a vida em primeiro lugar", traz o texto do grupo. "Não podemos ficar reféns da miopia de governantes que apostam na divisão como estratégia política. Devemos preservar a vida para o bem de todos."

O diretor da Aliança diz que o "momento é de bom senso, de respeitar as recomendações do OMS (Organização Mundial de Saúde) e do Ministério da Saúde, que tem feito um trabalho excelente".

E tudo é uma questão de tempo. O coronavírus vai passar e vamos voltar à normalidade
Beto Barros, diretor da Aliança Cristã Evangélica

Cultos à distância

Desde a última quinta-feira (19), Malafaia não realiza mais cultos em seus templos, mas eles continuam abertos. Ao mesmo tempo, ele viu os números de audiência de seus cultos via internet, passando de 7 mil para cerca de 150 mil.

Barros diz que, a tecnologia permite a "igreja virtual, levando assim a mensagem, o conforto e a salvação para muitos e em muitos lugares".

Procurada, a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) informou orientar "os bispos que as igrejas podem permanecer abertas, porém, do modo como tem sido feito até agora, apenas para orações individuais, transmissões online". A decisão considera "as orientações emanadas pelas autoridades competentes do Ministérios da Saúde, que indicam o distanciamento social".