Na quarentena, o que era "corre" virou calmaria na zona sul de São Paulo
Em meio à quarentena, medida tomada pelo governador João Doria (PSDB) para manter a população paulista em casa durante a pandemia de covid-19, o vento preenche Santo Amaro, centro comercial da zona Sul de São Paulo.
O que se ouve e se vê são o silêncio e a calmaria em um bairro com grande circulação de pessoas até poucos dias atrás.
Faculdades fechadas, terminal municipal de ônibus vazio e os poucos comércios abertos idem. Alguns com apenas os proprietários dentro, sem funcionários.
Farmácias, apesar de serem tratadas como serviço essencial, estavam às moscas. As que possuem uma movimentação maior estão controlando o acesso de clientes ao interior da loja. Até três pessoas podem entrar. Mais que isso é considerado aglomeração pelos funcionários.
A revolta, pela crise, também é nítida entre os relatos ouvidos pela reportagem do UOL na tarde desta sexta-feira.
No calçadão da rua Tiago Luiz, praticamente apenas policiais militares e fiscais da prefeitura. Um ou outro ambulante se lamenta pela falta de clientes.
Na praça Floriano Peixoto, no mesmo bairro, garotas de programa vivem da incerteza do trabalho. Sem bancos para dormir, moradores de rua descansam nas calçadas. O local foi fechado pela prefeitura de São Paulo.
"Tudo muito complicado. Não temos mais clientes, eles não vêm com a praça fechada. Estamos sem comer. Não temos dinheiro nem para beber água", disse uma garota de programa, que se identificou como Maria, ao UOL.
Há quem diga que a quarentena no estado de São Paulo é a medida mais correta para evitar a proliferação do coronavírus.
"Um infectado irá transmitir para muitas outras pessoas. Temos de aceitar e respeitar. Se mantiverem os comércios fechados, logo voltaremos à normalidade", disse Francisco da Conceição, 57, morador do Grajaú. Ele estava em Santo Amaro porque precisava ir ao médico, pois já tinha consulta agendada em um hospital próximo.
Entre uma conversa e outra, a reportagem encontrou o senhor José Carlos Sacramento, 67, que é comerciante há 40 anos no bairro. Hoje ele está sem trabalho por causa da quarentena e se opõe à medida.
"Eu sou a favor de reabrir os comércios. As pessoas precisam trabalhar. Eles (governantes) precisam parar de politicagem e cuidar do povo. Moro em São Paulo há 60 anos, nunca vi isso aqui vazio. A gente fica apreensivo com tanta coisa ruim acontecendo e os políticos brigando. Não há diálogo?", questionou.
Fim de tarde na quebrada
A "quebrada" do Grajaú está se conscientizando e entendo os riscos que o covid-19 pode levar à população. No bairro, apesar da quarentena, há algumas portas abertas no comércio.
Há um ou outro que enfrenta o medo e prefere ver o mundo do lado de fora, na rua.
Lotéricas e bancos controlam o acesso às agências, e filas se formam do lado de fora. Filas para conseguir botijão de gás, em falta e com preço elevado em meio à crise, se formam nas portas das distribuidoras.
Mercados abertos, mas vazios. Bares e lanchonetes cheios. O jogo de baralho e dominó é "sagrado".
As crianças, que são poucas nas ruas, buscam maneiras de brincar com seus colegas através de grades de portão, sem medo, só querendo se divertir.
Assim o Grajaú, que possui mais de 500 mil habitantes, segundo dados da Rede Nossa São Paulo, vai sobrevivendo e mantendo sua nova rotina. Com os pés em casa, e os olhos na calçada.
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