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Corpos são achados após retirada de navio que naufragou no AP

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, de Ponta Grossa (PR)

05/04/2020 16h52

Depois de pouco mais de um mês do naufrágio do navio Anna Karoline III, que deixou 33 vítimas fatais no Sul do Amapá, equipes de resgate encontraram ontem (3) mais dois corpos. Eles estavam dentro da embarcação e foram localizados somente com a retirada do navio do fundo do rio Jari, afluente do rio Amazonas, onde ocorreu o acidente, em 29 de fevereiro.

Com a embarcação içada na vertical desde anteontem, o Corpo de Bombeiros passou a atuar na localização e retirada dos corpos que estão dentro do navio. Em razão do avançado estado de decomposição, não foi possível identificar as características de sexo e a estimativa de idade das duas vítimas inicialmente encontradas pelas equipes.

Há chances de mais corpos estarem no navio, pois cinco vítimas ainda não foram localizadas. O número, contudo, é incerto porque a embarcação não possuía uma lista oficial de passageiros e tripulantes. Ao todo, 51 pessoas sobreviveram.

O Governo do Amapá e Capitania dos Portos se baseiam em uma lista elaborada a partir de nomes informados pelas famílias, mas existe a possibilidade de o número variar por eventual imprecisão de dados repassados pelos parentes.

"A operação está em andamento, mas o pessoal que trabalha nas buscas já tinha verificado corpos lá dentro. A quantidade e características das vítimas ainda não temos. Na verificação inicial avistaram dois corpos na tarde de ontem, mas hoje ainda estavam retirando água da embarcação para vasculhar com segurança", confirmou ao UOL coronel Janary Picanço, da Defesa Civil do Estado.

Os corpos serão levados para Gurupá, no Pará, e depois seguem para o Instituto Médico Legal (IML) em uma aeronave, onde passarão por identificação para serem liberados às famílias, informou Picanço.

O Anna Karoline III seguia de Santana (AP) para Santarém (PA) e naufragou por volta de 5h de 29 fevereiro. De acordo com relato do comandante da embarcação às autoridades na ocasião, uma forte ventania virou o navio. Na hora do naufrágio, uma balsa passava pelo local e resgatou os sobreviventes até os primeiros socorros chegarem.

Reflutuação do navio

Desde 21 de março as equipes atuam na reflutuação do navio do fundo do rio para encontrarem mais corpos, além da realização de perícia das investigações criminais pela Polícia Civil do Amapá e Ministério Público Federal (MPF) e administrativa pela Capitania dos Portos.

Para realizar o procedimento, o governo do Amapá contratou em caráter emergencial uma empresa especializada, no valor de R$ 2,4 milhões. A Procuradoria-Geral do Estado pedirá na Justiça o reembolso à empresa dona do navio.

A empresa contratada pelo governo amapaense é de Belém (PA) e chegou ao local em 21 de março, com guindastes, geradores de energia e bombas de reflutuação. Depois de ser amarrada aos cabos de aço, a embarcação foi levada à superfície com o apoio de 39 bombas de ar, ainda na posição que tombou, em 31 de março.

De acordo o coronel Janary Picanço, as equipes retiraram a carga com a embarcação ainda tombada de lado. Depois, o Anna Karoline III foi levado para 1.200 metros do local do acidente a fim de dar estabilidade no processo de colocá-lo na posição normal, o que ocorreu anteontem.

Paralelamente, o Corpo de Bombeiros monitorou a operação para verificar se algum corpo tinha saído do navio durante o deslocamento.

"Os locais onde a maioria dos passageiros estavam eram fechados. É difícil ter a perda de um corpo neste ambiente. Pode acontecer a perda de um corpo? Pode, mas pelas características do navio, é muito difícil, apesar de ser uma possibilidade. Além disso, tem as equipes lá para saber se caiu algum corpo no processo", explicou Picanço.

Naufrágio e investigações

O navio Anna Karoline III saiu do Porto do Grego, no município de Santana, às 18h de 28 de fevereiro, com destino a Santarém, no Pará, e por volta das 5h do dia seguinte naufragou no rio Jari, em Laranjal do Jari. A viagem dura em média 36 horas e a previsão era chegar ao destino em 1º de março.

O pedido de socorro foi realizado pelo próprio comandante. Uma balsa que passava pelo local conseguiu resgatar 51 pessoas. O acidente aconteceu em uma região de difícil acesso e comunicação. O primeiro resgate de órgão oficial chegou por volta das 14h do mesmo dia.

Ao todo, 27 mergulhadores do Amapá, Amazonas e Pará atuaram no resgate dos corpos, além de cinco aeronaves e dezenas de embarcações de apoio cedidas por órgãos de segurança pública.

Inquéritos na Polícia Civil, MPF e Capitania dos Portos foram abertos para investigar as causas e responsabilidades do acidente.
A suspeita é que a balsa usada para resgatar os sobreviventes tenha relação com o acidente, pois testemunhas relataram que ela estava abastecendo o Anna Karoline III enquanto outros afirmam que havia troca de mercadoria entre as embarcações.

O comandante da embarcação foi preso em 26 de março, em Belém, mas negou a prática de transporte irregular de combustível, porém, admitiu que se aproximou do navio para receber mercadorias, o que levou a Polícia Civil do Amapá a seguir a linha de investigação de excesso de carga. Ele foi solto em 29 de março pelo Tribunal de Justiça (TJAP).

Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o navio Anna Karoline III tinha capacidade para 242 passageiros —sem qualquer adicional de carga0- e não estava autorizado a fazer o trajeto Santana-Santarém. A embarcação estava cadastrada para operar na linha Santarém-Manaus.