Família de idosa vítima de covid-19 diz que asilo não informou sobre casos
A filha de uma das idosas que morreu com covid-19 no Residencial Bem Viver, segundo asilo com surto de coronavírus em Piracicaba, no interior de São Paulo, afirma que a família não foi notificada de que a instituição recebeu um paciente com suspeita da doença. O homem, que era de São Paulo, morreu e o laudo comprovou que ele estava infectado com coronavírus. A instituição afirma que não sabia que ele havia chegado com sintomas.
Cecília Rossin, 85, estava no lar de longa permanência desde 2018, como explicou Gisele Rossin, filha da idosa. Ela começou a sentir febre e mal-estar uma semana depois da morte do homem que veio da capital paulista. Ele morreu em 16 de abril. "Não fomos avisados que um paciente com suspeita de covid-19 estava na instituição. Falaram que ela estava com febre, mas que a médica da clínica não podia atender porque estava no hospital atuando na linha de frente do coronavírus", afirma a dona de casa.
A partir daí, segundo Gisele, uma peregrinação começou. "Fui ao hospital de referência, e lá uma médica fez vários exames na minha mãe, e disse que havia a suspeita dela estar com o coronavírus, já que havia alguns pontos de pneumonia no pulmão e a febre que não baixava", explicou.
Sem um diagnóstico preciso, o estado de saúde de Cecília piorou, e ela precisou ser internada. "No dia 27, segunda-feira, por volta de meia-noite e meia, minha mãe foi encaminhada pelo Samu para o Hospital Regional de Piracicaba, e de lá não saiu mais", conta. Cecília morreu no dia 4 de maio.
A filha afirma que houve negligência da instituição em não comunicar os parentes da chegada de um paciente que tinha suspeita da doença. "Eu gostaria de uma explicação. Para mim, foi uma irresponsabilidade. Minha mãe foi a terceira paciente a se internar na clínica, desde o começo da existência dela. Acho que houve negligência, sim".
O Residencial Bem Viver tem 16 casos confirmados de coronavírus, sendo cinco funcionários e 11 pacientes. Dois idosos estão isolados. A terceira morte na instituição foi confirmada hoje. Era um homem, de 91 anos, que tinha problemas cardíacos. Ele também estava internado no Hospital Regional de Piracicaba.
O responsável pelo lar, Edvaldo Pereira, disse que o idoso da capital não passou nem 48 horas na instituição por problemas de adaptação. "Ele estava lúcido e não queria ficar na clínica. Ele não tinha nenhum sintoma que indicasse que tivesse covid-19, tanto que ficamos sabendo dias depois da morte dele pela Vigilância Sanitária", afirma.
Ministério Público abriu inquéritos em Piracicaba
Depois das confirmações das mortes na cidade, o Ministério Público (MP) decidiu abrir inquéritos para apurar possíveis responsabilidades e também as medidas de contenção tomadas pelas casas de repouso desde o início da pandemia.
O Lar Betel, primeiro a ser questionado, já entregou os documentos. Segundo o MP, a epidemia está "controlada" e nenhuma irregularidade foi constatada. Já o processo do Residencial Bem Viver ainda está em andamento.
Outros casos na região
O Residencial Bem Viver foi o segundo lar de longa permanência de idosos que teve casos confirmados de covid-19 na região. Também em Piracicaba, o Lar Betel tem quase 60 positivos, entre funcionários e pacientes. Só ontem, foram 16 novas confirmações. Oito idosos morreram até agora.
Em Hortolândia (SP), o Lar Feliz 1 tem seis óbitos confirmados por covid-19 de pacientes.
Nova Odessa (SP) também apura se duas mortes de pacientes internados em uma clínica foram causadas pelo coronavírus.
E em Itu (SP), a prefeitura decidiu intervir em uma casa de repouso após a terceira morte registrada. O local não foi informado pela administração municipal.
Cuidados devem ser redobrados em clínicas
O funcionamento das casas de repouso é padronizado pela Portaria 810 do Ministério da Saúde, publicado em 1989. Cada cidade também pode definir outras regras sanitárias. Em todos os municípios onde os casos foram registrados, as normas são parecidas: isolamento de pessoas com suspeita, notificação dos casos, e as medidas de higiene redobradas.
A médica geriatra Joyce Caseiro reforça que, neste momento, o uso dos equipamentos de proteção individual é fundamental. "O problema é quando um funcionário, por exemplo, é assintomático, fica difícil afastá-lo", diz.
Apesar de não haver um protocolo único, a profissional de saúde diz que, por se tratar de um grupo de risco, em geral, os cuidados já são redobrados.
"Mas os asilos estão criando protocolos, conforme cada uma das realidades, mas também estão se unindo em outras formas de evitar o contágio", conclui.
O governo do Estado liberou R$ 3,5 milhões para a compra de equipamentos de proteção e para 589 instituições de longa permanência de idosos do Estado.
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