Motorista de aplicativo diz que não respeitará rodízio: "preciso trabalhar"
Às 9h50 de hoje, um motorista de aplicativo estacionava seu carro com placa de número final 8 na praça Silvio Romero, no Tatuapé, na zona leste da cidade de São Paulo, depois de quase três horas dirigindo para tomar um café e dar uma passada na igreja Nossa Senhora da Conceição. Pelas regras do novo rodízio que passou a vigorar hoje na cidade, ele não poderia estar rodando.
O motorista, de 58 anos, que pediu que não fosse identificado, disse morar na Mooca, zona leste da capital paulista, e trabalhar com transporte de passageiros desde que sofreu um acidente e não pode mais exercer a profissão de marceneiro. Crítico da nova medida, ele afirma que não respeitará o revezamento, apesar de saber que pode ter de pagar R$ 130,16, além dos quatro pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
"Conversei muito com a minha mulher. Minha situação é a seguinte: eu preciso trabalhar, eu tenho uma meta diária de quanto tenho que ganhar por dia para fechar a conta no mês. Se eu fizer um dia sim um dia não, minha conta não vai fechar. Sabendo que vou começar o dia com menos R$ 130, da multa, tenho que rodar o máximo possível todos os dias. É o jeito", disse enquanto caminhava até a igreja.
Questionado sobre os pontos na CNH, que podem fazer ele perder o direito de dirigir, ele diz ter uma família grande e, por isso, repassará os pontos, o que é ilegal. O motorista disse que vai tentar trabalhar todos os dias nesta semana, imaginando que a prefeitura voltará atrás em breve sobre esse novo rodízio e, assim, ele não terá dias perdidos de serviço.
"A medida vai ser derrubada em breve pelo prefeito. Não tem como. É um erro atrás de outro. Igual quando ele tentou fazer aquelas barragens. Viu que fez besteira e voltou atrás. Não tenho dúvida de que ele voltará atrás de novo", afirmou. "Bom, vou ali rogar para nossa senhora da Conceição ajudar a mim, a você e a todos nós", se despediu, entrando na igreja que fica na praça.
O novo rodízio estabelece que podem rodar na cidade carros com placa final ímpar em data ímpar, como hoje (11), e com placa final par em data par, como amanhã (12). A medida foi feita pela gestão municipal em meio à pandemia do novo coronavírus como tentativa de aumentar o isolamento social da população, que é considerado baixo até o momento.
Pela manhã, o secretário de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo, Edson Caram, afirmou que a redução do volume de veículos circulando por causa da implementação do novo rodízio ainda não era a esperada pelas autoridades — o objetivo do governo é a taxa de circulação fique entre 50% e 60%, hoje está abaixo dos 50%.
"A princípio, dá para notar que há uma diminuição no volume de carros andando na cidade de São Paulo. Ainda não é o esperado, a população ainda está se deslocando de uma forma além daquilo que nós queremos", disse em entrevista à TV Globo.
PMs afastados podem dirigir
Durante a manhã de hoje, a reportagem entrevistou três policiais militares que estão afastados do serviço operacional por problemas de saúde. Um está lotado no centro, outro na zona leste e outro na zona sul de São Paulo.
Dois deles estão afastados sob suspeita de estar com covid-19, a doença causada pelo coronavírus. Um outro está afastado por uma lesão na perna e deve voltar ao serviço na próxima sexta-feira (15).
Apesar de não precisarem se deslocar para o trabalho, os três credenciaram seus carros na prefeitura e, mesmo afastados, podem dirigir tanto nos dias ímpares quanto nos dias pares. O decreto da gestão municipal permite isso.
O policial que trabalha no centro e que está com suspeita de covid-19, afirmou que credenciou o carro porque, caso haja alguma emergência, terá agilidade de chegar ao hospital. "Sei que é importante ficar em casa, então não vou sair se não for necessário", disse.
Já o da zona sul, explicou que não sabe se o cadastro foi aceito, porque apenas lançou os dados necessários em uma planilha. "Caso precise ir ao médico com minha esposa grávida de oito meses e meio, tentarei a sorte com algum Uber. Não posso tomar pontos na carteira porque mais de quatro pontos na carteira perco a função de motorista na PM e fico inabilitado para concursos de promoção", disse.
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