SP: rodízio mantém 1,5 milhão em casa, diz prefeitura; trens viajam cheios
Resumo da notícia
- Semana de rodízio rigoroso tira 1,5 milhão de pessoas das ruas, diz Prefeitura de SP
- Demanda por trens sobe; CPTM tem alta de 12%, e Metrô registra 8% mais passageiros
- UOL percorreu linhas e flagrou aglomerações; exigência de máscara é cumprida
Na primeira semana de rodízio emergencial da cidade de São Paulo, determinado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), a demanda de usuários aumentou em 12% na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e 8% no Metrô, na comparação com a semana anterior.
A prefeitura afirma que a medida tirou 1,5 milhão de pessoas das ruas na primeira semana vigente. Os dados foram fornecidos pela STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos), do estado, e SPTrans (São Paulo Transporte), da capital.
O UOL acompanhou, por dois dias, a movimentação em seis linhas do sistema. O percurso foi feito em 3h30 em cada dia, passando por filas, vagões cheios, plataformas lotadas e longo de tempo de espera, com aglomerações.
"Desde 4 de maio, existe um decreto-lei. Objetivamente, o cidadão que estiver a caminho do transporte público, tem que estar de máscara. Quando ele estiver na catraca do metrô, da CPTM, será proibido de entrar [se estiver sem máscara]. No ônibus, também será impedida a entrada sem máscaras", afirmou Alexandre Baldy, secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, no UOL Entrevista desta sexta-feira.
O trajeto foi feito nas linhas 9-Esmeralda e 8-Diamante da CPTM, 3-Vermelha e 2-Verde do Metrô, 4-Amarela da ViaQuatro e 5-Lilás da ViaMobilidade. Nos dois dias, todos estavam usando máscaras. Da zonas sul a central da capital paulista.
A distância entre os passageiros sentados um ao lado do outro não é de 1,5 metro, como recomendada. Também não foi vista nenhuma fiscalização. Autofalantes das estações alertam sobre o risco de contaminação, mas no interior dos trens avisos sonoros reprimem o comércio ambulante.
Segunda-feira (11), movimento aparentemente tranquilo
Antes da partida, com o trem parado na estação Grajaú, na linha 9-Esmeralda, a reportagem não presenciou serviço de limpeza higienizando os vagões. Ao chegar em Santo Amaro o acesso de passageiros já era maior, mas sem grande lotação.
Em Pinheiros, que dá acesso à linha 4-Amarela, pessoas desciam e o trem está completamente vazio. Já na estação Palmeiras-Barra Funda, que dá acesso a linha 3-Vermelha, a saída do trem era transformada em aglomeração para o acesso às escadas.
Porteiro, Raimundo Costa, relatou ao UOL, que está sendo prejudicado por causa do rodízio. Pois depende do seu carro para se locomover pela cidade nos locais que é mandado pela sua chefia.
"Sou folguista. Trabalho um dia sim e outro não. Rodo a cidade toda. Os dias que meu carro não pode rodar são justamente os dias que eu trabalho. Como vou fazer agora? A empresa não quer saber, nem vale-transporte ela paga, pois abri mão por causa do meu automóvel. Vou ter de me arriscar ir trabalhar e ficar doente por causa dessa loucura [rodízio]."
Já na estação Chácara Klabin, da linha 5-Lilás, filas eram vistas aguardando a chegada do trem com sentido ao Capão Redondo. Na plataforma do sentido Grajaú, o desembarque e embarque de pessoas poderiam ser comparados aos de dias normais, antes da pandemia do novo coronavírus.
Na quinta-feira (14), filas, aglomerações e tempo maior de espera
Apesar de sair vazio novamente do Grajaú, o trem da linha 9-Esmeralda chegou a Santo Amaro sem bancos vazios, e muitas pessoas em pé.
Na Granja Julieta e Morumbi, passageiros continuam entrando. Já não era mais possível ver vazio nos vagões na Vila Olímpia. Em Pinheiros, o coletivo torna a ficar vazio, mas sem bancos para sentar.
Na Barra Funda, a movimentação é ainda maior que no primeiro dia. Usuários reclamavam que aguardavam o trem por cerca de 30 minutos.
Morador de Perus, na zona norte, André Gonçalves trabalha em uma fábrica na região central. Ele diz que tem carro, mas nessa crise prefere usar o transporte público para evitar gastos, e achou mais cheio após o rodízio.
"Se eu precisasse usar o carro eu não poderia, por causa do rodízio. E se a gente precisar usar para alguma emergência? Olha a situação desse trem. Estamos aqui há 30 minutos. Do outro lado é um trem atrás do outro. Até agora não passou um pra gente", reclamou André.
Já para o seu colega de serviço, Juberval Santos, 24, está tudo "normal", não há distanciamento no transporte público. Ele continua utilizando o trem desde que a pandemia começou.
"Ninguém valoriza o pobre. A gente que pode trabalhar fica correndo risco com esse tanto de gente dentro um lugar só. Desde o começo ta assim, nunca esteve vazio. E quanto mais demora para chegar um trem, mais cheio ele sai",
Secretário de Transportes afirma ter dado suporte ao rodízio
Em participação no UOL Entrevista desta sexta-feira, o secretário dos transportes do estado evitou criticar o rodízio imposto pelo prefeito Bruno Covas.
"Agora, ao fim dessa semana, nós podemos fazer uma reflexão [sobre o resultado], e a prefeitura pode fazer uma análise aprofundada de quais são os impactos da ação que foi feita e todas as consequências geradas no transporte e em outras áreas de atribuição", afirmou Baldy.
Durante a entrevista, o secretário ressaltou que não há qualquer tipo de "racha" entre a prefeitura e o governo de São Paulo e afirmou que as medidas tomadas são feitas "com boa intenção" para combater a pandemia.
"Respeitamos a decisão que foi exclusiva da prefeitura, do prefeito Bruno Covas, e apoiamos a decisão do ponto de vista de aumentar a oferta de trens, houve a nossa interpretação de que haveria o aumento de pessoas no sistema de transporte, nós aumentamos fortemente o número de trens e ônibus pela EMTU, para que a gente suportasse e desse apoio para a medida tomada pela prefeitura para que nós entendêssemos qual seria a consequência", salientou Baldy.
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