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Assessor parlamentar do PSL acusa seguranças do Metrô de SP de racismo

Cesar Calejon

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/06/2020 04h00Atualizada em 04/06/2020 12h47

O assessor parlamentar Caio Renan de Mello, do Partido Social Liberal (PSL), afirma que sofreu racismo por parte de seguranças do Metrô da cidade de São Paulo, na tarde de anteontem. Ele diz que o caso aconteceu durante o itinerário cotidiano que faz para o seu trabalho e conseguiu filmar parte da abordagem.

Segundo Mello, dois seguranças entraram no vagão para retirar um rapaz negro que fazia uma apresentação de rima. "Repentinamente, olharam para mim e simplesmente mandaram eu me retirar do Metrô junto com o outro rapaz, alegando que eu estava junto a ele, mesmo eu negando. Cheguei a mostrar a minha funcional de trabalho, e eles simplesmente disseram que aquilo não valia de nada para eles", afirma.

O assessor parlamentar conta que questionou a abordagem e seguiu viagem até a próxima estação. "Perguntei diversas vezes sobre o motivo daquele tipo de abordagem, se era apenas por causa da minha cor, porque tinha mais pessoas dentro do vagão e eles se dirigiram diretamente para mim."

Caio Renan de Mello - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O assessor parlamentar Caio Renan de Mello, do Partido Social Liberal (PSL)
Imagem: Arquivo pessoal

Ainda de acordo com a versão de Mello, os seguranças seguiram-no e ordenaram que abrisse a bolsa para ser revistada. Na sequência, ele relata que foi ameaçado. "Alguns passageiros me acompanharam para que eles [seguranças] não tentassem algo pior comigo, pelo fato de eu estar sozinho. Desci as escadas, com eles me conduzindo até a saída do Metrô e me ameaçando, dizendo: 'a gente vai se encontrar uma próxima vez e você não vai escapar'."

Informada sobre o caso, a assessoria de comunicação do Metrô respondeu que "o incidente supramencionado pelo senhor Caio Renan de Mello (...) está sendo investigado e que as devidas providências serão adotadas". Após a publicação da reportagem, a assessoria emitiu nova nota: "A Companhia do Metrô lamenta o ocorrido e ressalta que tem por missão oferecer transporte público com qualidade e com cordialidade. O funcionário será reorientado sobre os procedimentos padrões de atendimento da Companhia, entretanto, diante das imagens registradas no vídeo apresentado, é justo afirmar que não se verifica prática de racismo ou mesmo a proibição do embarque".

Veja depoimento de Caio Renan de Mello

"Eu estava dentro do metrô, como sempre, e tinha um rapaz também de pele negra no mesmo vagão que eu. Chegando à estação Carandiru, entraram dois seguranças para retirar o rapaz, porque ele estava fazendo um tipo de rima, uma cantoria no vagão.

Repentinamente, [os seguranças] olharam para mim e simplesmente mandaram eu me retirar do Metrô junto com o outro rapaz, alegando que eu estava junto a ele, mesmo eu negando. Cheguei a mostrar a minha funcional de trabalho, e eles simplesmente disseram que aquilo não valia de nada para eles.

Aproximaram-se de mim com tom de intimidação, porque estavam em dois seguranças, insistindo repetidamente para que eu saísse, porque eles queriam conversar comigo. Perguntei diversas vezes sobre o motivo daquele tipo de abordagem, se era apenas por causa da minha cor, porque tinha mais pessoas dentro do vagão e eles se dirigiram diretamente para mim.

Peguei meu celular para gravar toda a situação, que foi muito constrangedora. Fiquei me perguntando se a reação deles seria a mesma se estivesse uma pessoa branca no meu lugar.

Apesar disso, [os seguranças] continuaram me seguindo até a Estação Santana, onde tentaram me parar, ordenando que eu abrisse minha bolsa, porque eles tinham direito de fazer isso e que iriam olhar minha bolsa de qualquer jeito.

Alguns passageiros me acompanharam para que eles não tentassem algo pior comigo, pelo fato de eu estar sozinho. Desci as escadas, com eles me conduzindo até a saída do Metrô e me ameaçando, dizendo: 'a gente vai se encontrar uma próxima vez e você não vai escapar'.

O que me deixa mais triste é saber que não estou sendo a primeira e muito menos serei a última pessoa a passar por esse tipo de tratamento diante dessas pessoas. Eu estou tendo uma oportunidade de expor o que aconteceu comigo, mas fico pensando quantas pessoas já passaram por isso e não tiveram esta chance. Até quando?"