Personalidades pedem por justiça por menino que caiu de prédio em PE
A morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que caiu do 9º andar de um prédio do condomínio Pier Maurício de Nassau, localizado no bairro São José, área central de Recife, gerou protestos nas redes sociais feitas por internautas, personalidades e ativistas, que pedem por justiça ao caso. Na noite de hoje, o nome Sarí Corte Real, patroa da mãe da criança que ficou responsável por ela, está entre os assuntos mais comentados do Twitter, com mais de 80 mil menções.
A criança acompanhava a mãe ao trabalho, a empregada doméstica Mirtes Renata Souza, funcionária do prefeito do município de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker (PSB), na última terça-feira (2), quando morreu ao cair prédio depois que foi deixada sozinha no elevador pela primeira-dama de Tamandaré, Sarí Mariana Gaspar da Corte Real.
Imagens do circuito interno do condomínio, que foram recolhidas pela Polícia Civil, mostram o menino entrando no elevador de serviço e a patroa da mãe dele segurando a porta, pedindo para ele voltar, mas depois ela resolve apertar um botão superior do painel do equipamento, solta a porta e o menino fica sozinho. O elevador para em um primeiro andar, mas depois segue para o 9º, onde o menino desembarca e sai pela porta que dá acesso à área de serviço do andar. Em seguida, o menino foi encontrado caído no térreo.
O menino procurava encontrar a mãe, que havia saído para passear com o cachorro de estimação dos patrões e deixou o menino com a empregadora, que estava fazendo as unhas com uma manicure. Os dois filhos dos patrões, de três e seis anos, estavam no apartamento.
Miguel morreu a caminho do hospital da Restauração, em um carro particular, depois que um médico que mora no prédio disse que o caso era gravíssimo. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado, mas chegou depois que o menino foi socorrido.
O UOL tentou contato com Sérgio Hacker e com Sarí Corte Real, por meio de ligações telefônicas e mensagens pelo aplicativo WhatsApp, mas eles não deram retorno. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do prefeito, por meio de telefonemas e mensagens em WhatsAPp e até a publicação deste texto não obteve resposta.
Protestos
Usado a Hastag #JustiçaPorMiguel, os deputados federal, Túlio Gadêlha (PDT), David Miranda (Psol) e Marcelo Freixo (Psol), a apresentadora Luisa Mell, a chef de cozinha Paola Carosella, a ex-ministra Marina Silva, entre outras personalidades, comentaram nas redes sociais sobre a morte de Miguel fazendo menção à campanha.
Familiares de Miguel e ativistas sociais questionam a tipificação do crime imputado à Sari Corte Real, que foi definido pelo delegado Ramon Teixeira, responsável pelas investigações, como homicídio culposo - que tem direito à fiança e o acusado pode responder em liberdade ao ser denunciado à Justiça. Eles afirmam que Sari assumiu a responsabilidade ao deixar o menino sozinho no elevador e apertar o botão do elevador para um andar que não foi o térreo.
Desta forma, questionam o porquê de a polícia não ter enquadrado o caso como homicídio com dolo eventual (quando o autor assume o risco). O crime não tem direito a fiança em caso de flagrante. Amanhã, familiares e grupos de ativistas vão realizar protestos em frente ao condomínio Pier Maurício de Nassau para cobrar das autoridades justiça para o caso. As manifestações estão marcadas para ocorrer a partir das 15h e os manifestantes vão vestidos de branco, simbolizando a paz, e de preto, simbolizando o luto da morte do menino. Eles disseram que também levarão faixas e cartazes.
Há um abaixo-assinado cobrando justiça na morte do menino. O documento já consta com 700 mil assinaturas.
"Se iludem os que acham que a #JustiçaPorMiguel será feita com facilidade. As famílias Corte Real e Hacker são famílias tradicionais da política pernambucana com muito poder e influência nas instituições. Vocês verão que Pernambuco ainda vive sob o comando de oligarquias familiares", escreveu o deputado federal por Pernambuco Túlio Gadêlha.
"Mais um retrato da casa-grande brasileira. De um lado, a empregada doméstica obrigada a trabalhar em plena pandemia. Do outro, a patroa mais preocupada com o passeio do cachorrinho do que com a vida de uma criança negra. E o racismo despedaça mais uma família", criticou o deputado federal Marcelo Freixo.
"Miguel tinha 5 anos e foi deixado à própria sorte pela patroa de sua mãe enquanto a madame fazia as unhas. A mãe de Miguel estava sendo obrigada a trabalhar em meio à pandemia. A vida da criança negra vale menos do que os caprichos de uma mulher branca e rica", protestou o deputado federal David Miranda.
"O que aconteceu em Recife é um triste exemplo das complexidades do racismo. A negligência com a vida de Miguel é resultado de uma lógica racista onde os filhos de mulheres negras tem menos valor que as vaidades de mulheres brancas", rebateu a gastrônoma argentina Paola Carosella.
A ativista e atriz Luisa Mell afirmou que ficou com o coração despedaçado ao saber do caso Miguel e ofereceu pagar um advogado para a família do menino cobrar justiça pela morte do menino. Ela criticou que "a patroa mandou sua funcionária ir passear com os cães e ficou de tomar conta da criança. Mas, irritada com o choro de uma criancinha assustada, ela o colocou no elevador sozinho".
"Queremos justiça para Miguel. Por favor, quem conhecer a mãe, entre em contato comigo. Quero ajudar a pagar um advogado para o caso. Me ajudem a não deixar esta mulher [Sari Corte Real] ficar impune porque é rica e influente. E aproveito para perguntar para nossos governantes: As mães estão tendo que voltar a trabalhar, mas as escolas e creches estão fechadas sei lá até quando. Vão deixar as crianças com quem?", escreveu Luisa no Instagram.
A ex-ministra Marina Silva afirmou que Miguel foi "vítima de uma desumanidade cruel e covarde, do descaso com a vida em sua fase mais vulnerável, a infância."
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