PM branco suspeito de agredir policial civil negro em SP é afastado
Resumo da notícia
- Secretaria da Segurança afirma que polícias Civil e Militar investigam dinâmica do caso
- Policial civil que conduzia suspeitos para a delegacia foi abordado e agredido por PM
- Ele conta que o PM ordenou que deitasse ao chão, apesar de ter avisado que era policial
- Ao ver outros policiais civis, PM tirou identificação e fugiu na moto, disse a Polícia Civil
- Para delegado, caso demonstra que cidadãos estão à mercê de abusos de autoridade
O policial militar branco suspeito de abordar e agredir um policial civil negro de 39 anos na tarde de segunda-feira (8) em frente à delegacia onde a vítima trabalhava, no centro de São Paulo, foi identificado e afastado do serviço operacional, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública). A secretaria, no entanto, não revelou a identidade do PM.
O caso foi revelado pelo UOL na noite de quarta-feira (10). Segundo o policial civil W.V.S., que pediu para ter sua identidade preservada, enquanto ele levava três jovens que estavam sob suspeita para averiguação na delegacia, um PM o abordou e o agrediu. Ao se identificar como policial, ouviu do PM: "Vai, negão, deita no chão" e "que polícia que nada, seu filho da p***".
Ao perceber que estava abordando um policial civil, o PM retirou sua identificação da farda e fugiu. Porém colegas de delegacia do policial vítima anotaram a numeração da motocicleta do PM, o que permitiu sua identificação.
A Polícia Civil oficiou a PM e a Corregedoria da corporação. O policial civil registrou BO (Boletim de Ocorrência) de lesão corporal, injúria e violência arbitrária.
Suspeitos viraram testemunhas
Segundo narrou W.V.S. no BO, ele estava em frente à 1ª Deatur (Divisão Especializada de Atendimento ao Turista), onde trabalha, quando viu três jovens montados em bicicletas e suspeitou que eles poderiam estar aguardando uma vítima para furtar, na região do Mercado Municipal.
Decidiu abordá-los. Após a abordagem, o agente decidiu atravessar a rua com eles até a delegacia. Lá, iria consultar os antecedentes dos três.
Já na calçada da delegacia, em frente ao estacionamento do local, surgiram policiais militares em quatro motocicletas da corporação. Três desses PMs pararam. O quarto, na moto número 07058/11, jogou a roda dianteira contra a perna direita do policial civil, que gritou ser policial. Ele afirmou que usou uma mão para segurar um dos suspeitos e a outra para erguer o distintivo da corporação e se identificar como policial.
Ainda de acordo com W.V.S., o PM desceu da moto, o empurrou, deu uma "peitada" e uma "cabeçada" usando o capacete da PM. O agente afirmou ter perguntado: "Você não está vendo que sou policial?". Mesmo assim, ouviu do PM a determinação para deitar no chão. Os outros PMs ficaram sem reação. Quando colegas de delegacia do policial civil foram interceder pelo colega, os quatro PMs fugiram.
O que o policial W.V.S. narrou foi visto pelos três jovens que estavam sendo levados por ele para a delegacia, num primeiro momento como suspeitos. No entanto, eles terminaram como testemunhas contra o PM na Deatur. Além deles, um funcionário da prefeitura também testemunhou a favor do agente.
Delegado critica violência policial
O delegado Marcos Paulo Cavalcante da Silva escreveu uma crítica ao policial militar no BO: "A conduta lamentável praticada contra um policial civil, em frente a uma delegacia de polícia, demonstra o quanto que cidadãos de bem estão à mercê de abusos praticados por agentes do estado".
Se um policial, devidamente identificado, em frente a uma unidade oficial do estado, na região central de São Paulo, foi vítima de abuso, o que pode acontecer a um cidadão abordado nos rincões da cidade? No período noturno? Sem nenhuma testemunha?
Delegado Marcos Paulo Cavalcante da Silva
Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "o caso é investigado pelo 1º Distrito Policial (Sé) e pelo 7º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M)" e que o "policial militar foi identificado e afastado do serviço operacional".
Ainda segundo a pasta, "a autoridade policial já e ouviu a vítima, assim como testemunhas. As polícias Civil e Militar trabalham para esclarecer todas as circunstâncias relacionadas à ocorrência".
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