Policial civil negro é abordado e agredido por PM enquanto levava suspeitos
Resumo da notícia
- Policial civil conduzia três suspeitos para a delegacia quando foi abordado por PM
- Ele conta que o PM ordenou que deitasse ao chão, apesar de ter avisado que era policial
- Ao ver outros policiais civis, PM tirou identificação e fugiu em sua moto, diz a Polícia Civil
- Delegado escreveu no BO que "cidadãos de bem estão à mercê de abusos"
- Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública diz que "caso mostra o racismo institucional presente na PM de São Paulo"
- PM diz que, com base no BO, instaurou investigação para apurar com rigor a queixa formulada
"Vai, negão, deita no chão". "Que polícia que nada, seu filho da p***". Essas foram as ordens que o policial civil negro W.V.S., 39, teria recebido de um policial militar branco por volta das 12h45 de anteontem (8), em frente à delegacia em que trabalha, no centro de São Paulo, enquanto conduzia três suspeitos para o Distrito Policial.
O policial civil registrou BO (Boletim de Ocorrência) de lesão corporal, injúria e violência arbitrária. O PM fugiu sem ser identificado, porém a numeração da moto que usava foi anotada, assim como sua cor de pele. Com base nessa informação, a Polícia Civil oficiou a PM e a Corregedoria da corporação, requerendo o nome do policial e medidas a serem adotadas.
Segundo narrou W.V.S. no BO, na tarde de segunda-feira, ele estava em frente à 1ª Deatur (Divisão Especializada de Atendimento ao Turista), onde trabalha, quando viu três jovens montados em bicicletas e suspeitou que eles poderiam estar aguardando uma vítima para furtar, na região do Mercado Municipal. Decidiu abordá-los.
Durante a abordagem, segundo o policial civil, os jovens disseram que não estavam com os documentos, mas um deles afirmou que havia sido processado por crime contra o patrimônio. O agente decidiu atravessar a rua com eles até a delegacia. Lá, iria consultar os antecedentes dos três.
Já na calçada da delegacia, em frente ao estacionamento do local, surgiram policiais militares em quatro motocicletas da corporação. Três desses PMs pararam. O quarto, na moto número 07058/11, jogou a roda dianteira contra a perna direita do policial civil, que gritou ser policial —ele usava uma mão para segurar o suspeito e a outra para erguer o distintivo da corporação.
Ainda de acordo com W.V.S., o PM desceu da moto, o empurrou, deu uma "peitada" e uma "cabeçada" usando o capacete da PM. O agente afirmou ter perguntado: "Você não está vendo que sou policial?". Mesmo assim, ouviu do PM a determinação para deitar no chão.
"Os outros três policiais militares que estavam nas outras motos ficaram sem ação e nem desceram das motos inicialmente. Um deles chegou a gritar: 'Ele é polícia, meu, você está louco'", afirmou o policial civil. Na sequência, os colegas de delegacia de W.V.S. foram interceder por ele.
Segundo a Polícia Civil, "ao verificar a chegada de outros policiais civis da delegacia, a atitude daquele PM foi de retirar a sua tarjeta de identificação, obviamente para não ser anotado seu nome e, em seguida, subiu novamente em sua motocicleta e praticamente fugiu do local. Alguns segundos depois, os outros três PMs também deixaram o local".
Suspeitos viraram testemunhas
O que o policial W.V.S. narrou foi visto pelos três jovens que estavam sendo levados para a delegacia, num primeiro momento como suspeitos. No entanto, eles terminaram como testemunhas contra o PM na Deatur. Além deles, um funcionário da prefeitura também testemunhou a favor do agente.
O delegado Marcos Paulo Cavalcante da Silva escreveu uma crítica ao policial militar no BO: "A conduta lamentável praticada contra um policial civil, em frente a uma delegacia de polícia, demonstra o quanto que cidadãos de bem estão à mercê de abusos praticados por agentes do estado".
Se um policial, devidamente identificado, em frente a uma unidade oficial do estado, na região central de São Paulo, foi vítima de abuso, o que pode acontecer a um cidadão abordado nos rincões da cidade? No período noturno? Sem nenhuma testemunha?
Delegado Marcos Paulo Cavalcante da Silva
Rafael Alcadipani, professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ponderou que "o caso mostra o racismo institucional presente na PM de São Paulo. A instituição precisa reconhecer o problema e tomar medidas para lidar com ele".
Procurada pela reportagem do UOL, a assessoria de imprensa da PM informou que, "com base no boletim de ocorrência, a Polícia Militar instaurou investigação para apurar com rigor a queixa formulada. As ações descritas, se comprovadas, representam uma conduta inaceitável do policial militar".
Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "o caso é investigado pelo 1º Distrito Policial (Sé) e pelo 7º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M). A delegacia instaurou inquérito policial e ouviu a vítima, assim como testemunhas".
Ainda segundo a pasta, "o batalhão abriu um procedimento apuratório e trabalha para identificar os PMs envolvidos na ação. As polícias Civil e Militar trabalham para esclarecer todas as circunstâncias relacionadas à ocorrência".
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