Gêmeos se encontram 23 anos após serem adotados por famílias diferentes

Foram 23 anos de um sentimento que faltava um pedaço de si. Bastou um nome escrito atrás de uma foto para que o mistério fosse descoberto: os jovens Gabriel Mateus Ferreira, 23, e Tomaz Maranhão, 23, são os gêmeos univitelinos, foram adotados por famílias diferentes - em Fortaleza e Uberaba (MG) - e passaram duas décadas sentindo a falta um do outro. No último dia 2, eles se encontraram virtualmente e, todos os dias, mantêm contato para compensar o tempo que passaram separados. Ontem, enfim, ocorreu o primeiro encontro presencial entre eles.

Os gêmeos nasceram em uma maternidade de Fortaleza no dia 25 de junho de 1997 e a família, muito pobre, decidiu doar Tomaz com 15 dias de nascido a um casal da cidade. A família morava no bairro Padre Andrade, periferia da capital.

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O segundo gêmeo ainda ficou com os pais por sete meses. Novamente, a dificuldade financeira levou os pais biológicos de Gabriel, que passava problemas de saúde, a doarem o filho para uma família de Minas Gerais.

Os gêmeos não sabiam do paradeiro um do outro e o pior: Gabriel tinha recebido a falsa informação que o irmão tinha morrido aos 12 anos de idade. Gabriel e Tomaz contam que nunca deixaram de sentir o vazio que tinham em não conviver um com o outro e ainda não saber notícias deles. Apesar da falta de informação, os gêmeos afirmam que nunca perderam a esperança de se encontrarem.

"Eu sempre soube que você estava bem, mesmo que a única informação que eu tinha a seu respeito era de que você tinha sido morto com 12 anos. Nunca acreditei nessa história, pois a nossa ligação também era minha fonte de energia vital e tenho certeza que se você não estivesse nesse mundo, eu também não estaria. Não quero te perder jamais, irmão! Eu preciso de você todos os dias da minha vida! Eu te amo", enfatizou Gabriel em um texto nas redes sociais em homenagem ao irmão.

"Após a separação adoeci, senti febre, senti a falta. Vivi com a solidão e um buraco profundo, obscuro e que doía. A minha vida foi por uma busca. Nunca soube quem era, mas o via em mim. E a força da sua existência e da nossa ligação era viva e pulsante. Na minha memória havia momentos que eu não havia vivido", relata Thomaz.

O reencontro dos irmãos, mesmo virtual, só foi possível devido à destreza de Tomaz. Aos 16 anos, ele recebeu a visita da mãe biológica, que levou uma foto do aniversário de um ano do irmão Gabriel, com o nome da mãe adotiva escrito atrás da imagem.

O jovem relata que ao ver a foto ficou abismado com tamanha semelhança física com o irmão e que passou a buscar incessantemente por Gabriel, mas sem sucesso. "A busca foi incessante e a angústia só me acompanhava", conta Tomaz.

Somente no último dia 2, ele teve a ideia de procurar pelo nome da mãe adotiva de Gabriel nas redes sociais. Com pouco tempo de busca, ele conseguiu achar a mulher e várias fotos do irmão gêmeo no perfil dela no Facebook. O jovem imediatamente entrou em contato. Gabriel estava no meio do expediente do trabalho quando recebeu um telefonema da mãe adotiva sobre o contato do irmão.

"A vida se encarrega de tudo, e nossa história não terminaria sem o encontro do nosso amor um pelo outro. Diferente de todo aquele que vê o auge da sua vida em realizações financeiras, vivo o auge da minha vida hoje, mês do meu aniversário, ano do meu 23º ciclo de vida, com meu irmão gêmeo Gabriel. Ainda estamos em estado de choque", diz Tomaz, relatando que está vivendo um sonho difícil de ter sido realizado.

"Tremo ao ver sua foto e ouvir sua voz. A força da sua existência me invade a cada chamada de vídeo e a cada minuto ouvindo-o tocar violão e cantar."

"Um pedaço de mim que eu não conseguia encontrar, um vazio dentro do meu coração que não tinha como preencher. Você andou longe, irmão, eu estive longe de você durante 23 anos, mas te sentia perto de mim todos os dias, o meu ser te gritava, clamava para ter você perto de mim. Que falta me fez o seu abraço, o seu carinho, as nossas vivências juntas, que falta me fez as nossas brigas de irmão e a sua presença", destacou Gabriel.

O reencontro presencial dos gêmeos aconteceu ontem. Tomaz viajou de Fortaleza para Uberaba para comemorar o primeiro aniversário junto com o Gabriel neste dia 25. O encontro dos gêmeos foi articulado pela mulher de Gabriel, Carol Polato, que fez uma surpresa com o cunhado para que o marido não desconfiasse que o irmão estava viajando para comemorar o aniversário deles juntos.

"Ver vocês se abraçando para mim foi a realização de um sonho. Quando abracei Tomaz, não parecia ser real, que abraço tão esperado. Em menos de um mês nossas vidas mudaram para sempre e, agora, no 23º ciclo de vida vocês se reencontraram e que encontro de almas", disse Carol, mulher de Gabriel e cunhada de Tomaz. "Vocês mudaram minha vida. Esposo maravilhoso, companheiro, melhor amigo, carinhoso, amoroso. Cunhado amável, doce, encantador, parceiro e admirável", descreveu Carol.

Além das semelhanças físicas, os gêmeos têm gostos parecidos: eles são fotógrafos. Tomaz trabalha como assessor da coordenação geral do Museu da Fotografia de Fortaleza. Começou a fotografar ainda no ensino médio e virou profissão.

Já Gabriel chegou a atuar como fotógrafo de festas, mas atualmente trabalha em uma farmácia. Ele tem a fotografia como hobby.

Os dois afirmam que não têm ressentimento da mãe biológica e que até tiveram contato com ela por chamadas de vídeo. Os gêmeos afirmam que entendem que a mãe os colocou para adoção pela dificuldade financeira e por querer o melhor para eles, que poderia ser dado por outras famílias.