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Mãe morre de covid-19 antes de conhecer a filha recém-nascida em Goiânia

Patrícia Beatriz Albuquerque Correia morreu no último sábado (25), sem ter contato com a filha, que tanto desejou, devido à covid-19 - Arquivo Pessoal
Patrícia Beatriz Albuquerque Correia morreu no último sábado (25), sem ter contato com a filha, que tanto desejou, devido à covid-19 Imagem: Arquivo Pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Recife

27/07/2020 17h47

A dona de casa Patrícia Beatriz Albuquerque Correia, 38, morreu sem conhecer a filha, Ana Beatriz, que nasceu prematura, há um mês, no hospital no município de Colíder (MT), quando a mãe já estava internada por complicações de uma eclampsia e da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A mulher morreu no último sábado (25), sem ter contato com a filha, que tanto desejou, devido à doença.

No dia 23 de junho, Patrícia foi internada às pressas no hospital de Colíder e, logo, precisou de uma cesárea de urgência, com 34 semanas de gestação. Além da covid-19, Patrícia lutava contra complicações de uma eclampsia. Já a bebê foi diagnosticada com covid-19 logo após o nascimento.

Mãe e filha foram transferidas em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) aérea para hospitais em Goiânia e Cuiabá, respectivamente, devido ao grave estado de saúde que se encontravam.

Mulher morre de covid-19 antes de conhecer a filha recém-nascida em Goiânia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Patrícia estava em um leito de UTI do hospital Ruy Azevedo, em Goiânia. Segundo a família, o tempo que permaneceu internada, ela estava intubada, em coma induzido e isolada.

"Ela deu entrada no hospital com falta de ar. Foi diagnosticada também eclampsia e ela logo precisou fazer a cesárea para Ana Beatriz nascer. Ali, ela já foi intubada e morreu sem colocar nos braços o maior sonho que era ter uma menina. Patrícia estava com 95% do pulmão comprometido. Semana passada, os médicos foram tirando a sedação e ela abriu os olhos, mas nunca falou. Depois que ela entrou no hospital, que fizeram o parto, ela não conversou mais", relata Machado, que é casada com Luiz Fernando Correia, irmão de Patrícia. O casal tem uma filha, de oito anos.

O marido de Patrícia, Valtair Porto, foi para Goiânia para tentar acompanhar de perto o tratamento da mulher. Porto teve acesso aos boletins médicos diários e, como a mulher estava isolada devido à covid-19, não pôde ter contato com ela. Ele contou que foi o primeiro a ser infectado pelo novo coronavírus, mas que teve sintomas leves da covid-19 e se recuperou. Dois dos três filhos do casal também se infectaram com o novo coronavírus, mas já estão recuperados.

"É um sofrimento que estamos vivendo pela perda da minha mulher e uma alegria pela nossa filha. Só Deus para nos dar força, pois é tudo muito assustador. Ana não chegou a conhecer a mãezinha dela", contou Porto.

A filha do casal, após nove dias de tratamento contra a covid-19, no hospital estadual Santa Casa, em Cuiabá, recebeu alta e ficou aos cuidados da tia Paula Evelyn Moreira Machado à espera da mãe, em Colíder. A família aguardava ansiosamente a recuperação de Patrícia para que ela e a filha tivessem o primeiro contato. "Acompanhei Ana Beatriz em Cuiabá e, quando ela recebeu alta, veio para Pontes e Lacerda, para minha casa. É aqui que mora a família da Patrícia e do marido dela", destacou Machado.

Mãe da mulher, Carmem Albuquerque contou que a recuperação de Patrícia era esperada por toda a família porque Ana Beatriz foi um bebê muito desejado por todos os familiares e foi separada da mãe ao nascer devido à covid-19.

"Com apenas 12 horas de nascimento teve que ser transferida para Cuiabá, em uma UTI aérea. Uma guerreira, viajou apenas com a equipe de emergência de atendimento aéreo, por motivo de prevenção. Minha netinha venceu a covid-19", contou Albuquerque.

O corpo de Patrícia foi enterrado na manhã de hoje, no município de Pontes e Lacerda (MT), cidade onde ela nasceu. Antes do enterro, familiares e amigos fizeram uma carreata da entrada da cidade até o cemitério que ela foi enterrada.

A prefeitura de Colíder explicou que Patrícia precisou ser transferida para Goiânia devido ao agravamento do quadro clínico e lamentou a morte dela."Ela não chegou a conhecer a filha bebê, que nasceu prematura quando ela já estava internada com a doença. A criança está recuperada e passa bem", destacou o texto assinado pelo prefeito Noboru Tomiyoshi (PSD).

A nota afirma ainda que Patrícia era uma jovem de "vida honrada, feliz e cheia de boas lembranças" e que, agora, "sejam sempre reavivadas para a pequena Ana Beatriz que perde a mãe neste momento tão difícil para todos nós", completou o prefeito de Colíder.

Sonho de ter filha

Mãe de três filhos, Patrícia sonhava em ser mãe de uma menina. Aos 38 anos, ela engravidou de Ana Beatriz e desde então vinha curtindo a maternidade. Em um ensaio fotográfico realizado com a família, Patrícia fica com "cara de espanto" junto dos três filhos e o marido puxando as roupinhas de menina. Em outra foto, ela aparece entre os filhos com a barriga completando a palavra "love", amor em inglês.

Mulher morre de covid-19 antes de conhecer a filha recém-nascida em Goiânia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

A saída do hospital de Ana Beatriz foi filmada pela equipe que assistiu a bebê. Numa parte da saída, Ana Beatriz é levada por uma enfermeira, depois é entregue nos braços para a tia Paula Machado, que está de branco, levá-la para casa. "Ela está sendo uma benção de Deus cuidar dela e meu coração se enche cada dia, mais amor."

A roupinha rosa que Ana Beatriz usou ao receber alta do hospital em Cuiabá foi a peça escolhida pela mãe para saída da maternidade. A cunhada de Patrícia relata que não sabia da predileção e que ficou muito feliz ao saber que tinha acertado na escolha.

"Ana Beatriz nasceu com 2,150 kg, nasceu uma bebê forte, chorou no primeiro momento em que nasceu, mas ela foi encaminhada para Cuiabá para se tratar da covid-19. É uma criança que venceu a covid-19 e não apresentou nenhuma dificuldade respiratória. Mama e dorme bem. Criança risonha e inteligente, já conhece as vozes de todo mundo. É um bebê que se você olhar não nota que é prematuro de tão esperta", destaca Paula.

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Imagem: Arquivo Pessoal

Agora, o marido de Patrícia tenta transferência do frigorífico one trabalha em Colíder para Pontes e Lacerda para ficar junto da família dele e dela. Desta forma, segundo Paula, a família conseguirá dar apoio ao marido e aos filhos de Patrícia.