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PM do Acre captura suspeitos de participar de chacina de família boliviana

Suspeito de 25 anos foi detido e ouvido hoje - Polícia Civil do Acre
Suspeito de 25 anos foi detido e ouvido hoje Imagem: Polícia Civil do Acre

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa (PR)

18/09/2020 14h01

A Polícia Militar (PM) do Acre prendeu no início da noite de ontem um homem de 25 anos e apreendeu um adolescente de 17 suspeitos de participarem da chacina de três pessoas de uma família boliviana na fronteira com o Brasil. As capturas aconteceram em Acrelândia, a 118 quilômetros de Rio Branco. As mortes foram registradas no domingo (13). Uma menina de 13 anos sobreviveu e denunciou a autoria dos brasileiros.

A chacina ocorreu por volta das 7h de domingo. O inquérito aponta que a garota de 13 anos sofreu estupro de um brasileiro de Acrelândia que extraía madeira na propriedade onde a família dela morava, na Bolívia. O pai da vítima flagrou o abuso sexual ao retornar da lavoura. O boliviano desferiu um golpe de madeira no brasileiro, o amarrou em uma árvore e saiu para acionar a polícia.

O suspeito de estupro estava acompanhado de um parente. O familiar correu até em casa para pedir ajuda no resgate. Pelo menos seis brasileiros que moram na região rural de Acrelândia, interior do Acre, se dirigiram ao local e conseguiram desamarrá-lo enquanto o pai da vítima do abuso sexual ainda buscava o socorro policial na Bolívia. Ambas as famílias se conhecem, diz a investigação.

Durante o resgate, três dos familiares executaram a família a tiros. Eles atiraram primeiro na mãe e depois mataram os dois filhos homens. O trio também alvejou a garota vítima de estupro. Os corpos foram colocados embaixo de uma árvore, mas a menina sobreviveu e esperou os suspeitos irem embora para pedir socorro à margem do rio Abunã, que banha o seringal onde moram.

Os suspeitos estavam escondidos na mata quando as equipes da PM chegaram ao local ontem. Segundo o tenente Dário Almeida, as duas armas de fogo supostamente usadas na chacina foram encontradas na residência dos suspeitos.

O menor de idade estava com mandado de apreensão preventiva expedido pela Justiça. O suspeito de 25 anos também é apontado como participante da chacina, mas sem mandado em aberto, porém como as espingardas supostamente usadas no crime se encontravam na residência dele, acabou sendo preso por porte ilegal de armas. Além dos dois capturados ontem, outro suspeito está preso desde o dia do crime.

"Apreendemos duas armas de fogo usadas nos assassinatos. Eles agora serão ouvidos no inquérito. O suspeito mais velho teve participação no crime, mas não estava com mandado, porém o prendemos em flagrante porque essas armas estavam sob sua posse", ratificou o oficial.

O delegado Samuel Mendes, que comanda as investigações garantiu que o inquérito vai permanecer no Brasil porque as prisões ocorreram no país, apesar de o crime ter ocorrido na Bolívia.

Os investigadores vão ouvir até o fim do dia de hoje os dois capturados ontem pela PM. Ainda resta o depoimento da menina que sobreviveu à chacina. Ela está internada e sendo acompanhada pelo pai em Rio Branco e tem quadro estável de saúde, segundo o delegado.

"Está sendo apurado no Brasil porque houve o crime na Bolívia, mas os autores entraram em território brasileiro, permitindo que a investigação ocorra aqui. Vamos agora terminar de ouvir os suspeitos, iremos listar os elementos de provas que estão faltando, como analisar os laudos, verificar se há mais testemunhas ou outro autor ainda não investigado", comentou o delegado Samuel Mendes.

Nenhum dos suspeitos ainda constituiu advogado em suas defesas.

Boliviano pede Justiça

O UOL ainda não conseguiu contato com patriarca da família boliviana. Em entrevista ontem à Rede Amazônica enquanto acompanhava a filha no hospital em Rio Branco, ele pediu justiça à família morta.

"Chegaram armados, cada um com espingarda e rifle. Escutei quatro tiros de espingardas. Entraram na minha casa e colocaram fogo. Mataram e destruíram a minha família. Quero justiça", relatou Carlos Crivas, de 65 anos.

"Nós somos trabalhadores, não temos nenhum problema em Acrelândia. Quero que se cumpra a lei e que paguem pelos delitos", disse em outro trecho da entrevista.

O crime

Segundo a Polícia Civil, os assassinatos desencadearam depois que parte dos familiares do suspeito de estupro retornaram à casa dos bolivianos para pegarem as armas apreendidas pelo pai da vítima do abuso sexual.

Na residência, eles discutiram com um dos irmãos da garota. A mãe tentou proteger a família e levou um tiro. A bala atravessou o corpo e atingiu um filho adolescente, que levou um segundo disparo na cabeça. Outro filho dela também morreu a tiros ao ser flagrado filmando o crime.

A vítima de estupro também filmava a ação escondida, mas acabou sendo vista pelos suspeitos. Eles a balearam, imaginaram que estava morta e a esconderam com o restante da família no meio do seringal. A garota sobreviveu e conseguiu chegar à margem do rio Abunã para pedir socorro.
Todo o crime aconteceu enquanto o pai dela buscava socorro da polícia após flagrar o estupro da filha.

Os suspeitos ainda queimaram a casa dos bolivianos após a chacina, conforme mostra um vídeo gravado pela Polícia Militar do Acre.
Uma força-tarefa montada para encontrar os corpos permaneceu 36 horas na mata para achar os cadáveres.