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Benedita e Marina Silva ganham sala na 1ª universidade negra do Brasil

As ex-ministras Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Benedita da Silva (PT)  - Wilson Dias/Agência Brasil; Najara Araujo/Câmara dos Deputados
As ex-ministras Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Benedita da Silva (PT) Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil; Najara Araujo/Câmara dos Deputados

Paulo Eduardo Dias

Colaboração para o UOL

16/10/2020 04h00

Depois de terem seus nomes excluídos da lista de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares, as ex-ministras Benedita da Silva (PT) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade) vão passar a ter seus nomes gravados na Universidade Zumbi dos Palmares, localizada no Bom Retiro, região central da capital paulista. O centro de ensino é a primeira universidade negra da história do país.

A homenagem é uma iniciativa do reitor da universidade, José Vicente, que classifica as duas como "heroínas". Ela ocorre no momento em que ambas sofreram ataques de Sérgio Camargo, presidente da fundação, criada para preservar e promover a herança cultura afrobrasileira.

Em conversa com o UOL, Vicente explicou que nomear duas salas da instituição de ensino é uma "tentativa simples de repor as coisas ao seu devido lugar e reparar o ato de injustiça feito contra elas". A nomeação das salas está prevista para ocorrer nesta sexta-feira (16).

Para o reitor, a ação de Camargo é "uma agressão desmedida, uma atitude hostil e injustificada, que, de ponto de vista social, se constituiu como uma violência".

Publicações nas redes sociais

Na última terça-feira (13), Camargo anunciou em seu Twitter que o nome de Marina Silva, ex-senadora (1995 a 2011) e ex-ministra do Meio Ambiente (2003 a 2008), foi excluído da lista sob a justificativa de que "não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil".

A ex-senadora classificou a decisão como autoritária, em entrevista à GloboNews. "Você decreta a própria realidade. Todas as pessoas que são excluídas, com certeza não foram excluídas por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendiam", avaliou.

Já no caso de Benedita da Silva, ex-ministra da Secretaria Especial do Trabalho e Assistência Social (2003 a 2007) e ex-governadora do Rio de Janeiro (2002 a 2003), a decisão foi tomada, disse Camargo, porque ela "responde pelo crime de improbidade administrativa e seus bens foram bloqueados pela Justiça". No mesmo post, publicado no Twitter no dia 30 de setembro, ele sustentou que "o preto, o pobre e o favelado são as maiores vítimas da corrupção".

Em vídeo postado nas redes sociais, a deputada classificou o ato de Camargo como "abuso de poder" e relatou ataques racistas nas redes sociais. Ela afirmou que entrará na Justiça contra os agressores.

'Trabalhos reconhecidos internacionalmente'

Incomodado com as críticas feitas por Camargo, José Vicente ressaltou que mulheres são hostilizadas de todas as formas, além de não ter oportunidades no país. Ele afirmou que Marina e Bendita possuem alta relevância, com seus trabalhos reconhecidos internacionalmente.

O mundo inteiro aplaude essas mulheres. Todas as personalidades reverenciam suas lutas e por nunca terem desistido de um país com tantas injustiças. Ambas possuem conduta ilibada, honesta, sem usurpar de bens públicos. Você quer exemplo melhor do que esse?
José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares

A petista foi a primeira negra a ser eleita para o Senado em 1994, ocupando o cargo entre 1995 e 1998, e também a primeira negra vereadora na cidade do Rio de Janeiro, com mandato entre 1983 e 1986. Ela foi vice-governadora do Rio de Janeiro entre 1999 e 2002, e tornou-se governadora em 2002, quando Anthony Garotinho deixou o cargo para disputar a Presidência da República.

Benedita é acusada pelo Ministério Público de improbidade administrativa no período em que ocupou a secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, na gestão de Sergio Cabral no governo do Rio de Janeiro. Em 2015, a Justiça determinou o bloqueio de bens e quebra de sigilo bancário da deputada com o objetivo de recuperar R$ 32 milhões em supostos danos causados aos cofres do estado.

De acordo com o MP, ela teria dispensado licitações em contratações trazendo "grave prejuízo" ao estado. As supostas irregularidades teriam ocorrido na assinatura de convênios entre a Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) e ONGs e o Ministério da Justiça.

Ela não foi condenada no caso, mas, em agosto deste ano, o juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública do Rio, Bruno Bodart, decidiu manter o bloqueio de bens da candidata.