AP: Menino de 13 anos leva tiro de bala de borracha no olho em ação da PM
Sem energia elétrica há sete dias, desde que um incêndio atingiu uma subestação de energia em Macapá na terça-feira (3), moradores do Amapá também relatam violência e repressão da PM (Polícia Militar) durante atos que cobram uma solução para o problema. Em uma manifestação que ocorreu na sexta-feira (6), Lucas Matheus Cavalcante Abreu, de 13 anos, foi atingido por um tiro de bala de borracha e acabou perdendo a visão do olho direito.
De acordo com Edilene Rangel dos Santos, madrasta de Lucas, ela, seu marido e o menino estavam sentados em frente ao depósito de água da família quando a manifestação começou, por volta das 19h. O estabelecimento fica localizado no bairro dos Congós, próximo à Sétima Avenida.
Edilene disse ao UOL que não estava participando do ato, e assim que os manifestantes começaram a colocar fogo na rua sua família correu para fechar o depósito de água.
"Quando fechamos, a polícia já chegou atirando em todo mundo, os manifestantes correram embora e a gente ficou lá. Foi aí que uma bala da PM atingiu o olho do meu filho. Eu coloquei ele dentro do carro para sair de lá", relatou.
Ainda de acordo com Edilene, a PM se negou a prestar socorro para seu filho. "Quando cheguei no meio dos policiais eu parei o carro e pedi socorro, falei que atiraram no meu filho e pedi para me levarem para o hospital. Mas a PM não fez nada, saiu do local e foi embora sem prestar socorro. A gente só quer justiça pelo nosso filho, só isso".
Depois da negativa de socorro dos policiais, segundo ela, o garoto foi levado para o Hospital de Emergências por seus pais. No local, foi constatada a perda da visão do olho direito da vítima.
Lucas foi operado no sábado e, segundo os médicos, não há possibilidade de recuperar a visão do olho atingido. Edilene também relatou que seu filho sentiu muito medo. Um boletim de ocorrência foi registrado na Dercca (Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente).
A Polícia Militar, em nota, afirmou que não tinha conhecimento dos fatos até ser informado pela imprensa. A nota também informa que, assim que tomou conhecimento, entrou em contato com a família para iniciar o procedimento administrativo para a apuração do caso. Sobre medidas internas tomadas em relação aos responsáveis, a corporação não respondeu.
Violência nas comunidades
Além do fato ocorrido no bairro dos Congós, moradores também relataram ação violenta da polícia na comunidade de São Francisco da Casa Grande, localizada na rodovia AP-70.
De acordo com Thais Chagas, também no sábado, policiais militares chegaram ao local atirando para intimidar os manifestantes.
"Um dos policiais atirou e quase pegou no pé de um dos nossos. Umas 21h também fomos orientados a parar o protesto porque o governador havia mandado reforço do grupo tático e do choque para acabar com o protesto. Chegaram limpando tudo, vieram a caráter mesmo e nós recolhemos porque não somos bandidos".
Thais também afirmou que, depois do protesto de sábado, não foi realizado nenhum outro na comunidade. Mas, mesmo assim, relatou que diariamente uma viatura da PM "dá voltas na vila" para se certificar que não ocorrerão novas manifestações e protestos.
A PM, também por meio de nota, afirmou que até o momento registrou mais de 50 manifestações, desde o dia 3, início da falta de energia no estado. De 50, 45 manifestações foram resolvidas com diálogos entre a Polícia Militar e os manifestantes.
Ainda de acordo com a corporação, houve o registro de cinco manifestações de caráter violento (nos bairros Açaí, Casa Grande, Residencial São José, da Capital; e bairros Igarapé da Fortaleza e Provedor, do município de Santana). Segundo a PM, os manifestantes atiraram rojões, paus e pedras nos policiais militares e não foi possível o diálogo, sendo necessário o "uso proporcional da força por meio de instrumentos de menor potencial ofensivo para dispersão dos manifestantes".
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