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AP: Moradores dizem que rodízio de energia não chega a bairros periféricos

Ontem houve protestos da população em Macapá, contra o apagão que afetou o estado do Amapá - Ewerton França
Ontem houve protestos da população em Macapá, contra o apagão que afetou o estado do Amapá Imagem: Ewerton França

Gabryella Garcia

Colaboração para o UOL, Blumenau (SC)

09/11/2020 15h10Atualizada em 09/11/2020 18h06

Moradores de regiões do Amapá relataram à reportagem do UOL, hoje, que não estão recebendo energia elétrica, mesmo depois de a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) ter anunciado o cronograma do rodízio ontem.

O rodízio, conforme informou a CEA, deveria funcionar com intervalos de seis horas. Ou seja, de acordo com a planilha divulgada, determinada região teria fornecimento de energia por um período de seis horas, depois ficaria outras seis horas sem fornecimento, e assim sucessivamente.

Entretanto, Marcella Viana e Rayane Penha, moradoras da capital Macapá, afirmaram que a energia não chegou. Até a manhã de hoje, a ilha de Santana, algumas comunidades no quilombo do Curiau e o bairro Universidade não tiveram energia elétrica, dizem elas.

"O rodízio está furado! Não estão respeitando e nem seguindo, tem bairro que ainda não recebeu nada de energia", afirmou Marcella.

Rayane, que é escritora e jornalista, criticou a falta de solução para o problema. "A situação não normalizou como o Estado está dizendo. O centro da cidade tem, sim, energia, mas os bairros periféricos, os quilombos e outros municípios, não. O rodízio está acontecendo, mas em bairros específicos."

Outras comunidades quilombolas também não tiveram qualquer fornecimento de energia até as 17h20 de hoje, de acordo com o relato de Willy Miranda, que é nascido no quilombo do Curiau. Ele conta que as comunidades Casa Grande, Mata Fome, Ressaca, Pedreira, Mel, Cavalo e Conceição do Macacoari, todas localizadas na BR-210, permanecem sem eletricidade. O quilombo do Curiau, entretanto, teve algumas horas de fornecimento hoje.

Para Willy, há diferença de tratamento nas áreas mais nobres em detrimento de áreas periféricas. "Atualmente moro na orla da cidade, uma área nobre e privilegiada. Lá ficamos menos de 20 horas sem energia e agora temos energia o tempo todo, 24 horas. Mas também há comunidades há quase uma semana sem energia."

Outra consequência do apagão é a dificuldade com o transporte e locomoção. Willy afirmou que está com 90 cestas básicas para serem entregues nas comunidades quilombolas, mas, com a falta de combustíveis nos postos, não consegue fazer o deslocamento e entrega. Além disso, ele não consegue se comunicar com os moradores desses locais, pois a bateria do celular deles acabou.

São problemas isolados, diz CEA

A CEA admitiu, em resposta ao UOL, que o abastecimento não está 100%. O órgão informou que são problemas isolados, e não em decorrência de uma falha no cronograma do rodízio.

A assessoria da CEA afirmou que "às vezes é um problema em determinada área de um bairro que é causado por um transformador que queimou, um cabo que arrebentou ou outras ocorrências que são rotineiras. É preciso relatar essas ocorrências para as equipes de plantão, mas o rodízio está sim funcionando 80% de forma efetiva".

Já sobre uma normalização total dos serviços, o Ministério de Minas e Energia afirmou que o restabelecimento do suprimento de energia elétrica no Amapá é prioridade e que ainda nesta semana os transformadores estarão 100% recuperados, porém sem especificar uma data.

Protestos e repressão policial

Ontem, pelo terceiro dia seguido, moradores protestaram contra o apagão e a falta de soluções. As manifestações aconteceram na praça da Bandeira, no centro de Macapá, e também em outras localidades do Macapá e Santana, cidade vizinha a 15 km da capital.

Em algumas comunidades no quilombo do Curiau, por exemplo, Rayane reclamou das ações violentas da Polícia Militar, que chegou a utilizar balas de borracha para conter os protestos e manifestações. Atos também tiveram repressão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Rotam (Ronda Ostensiva Tática Motorizada).

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar não respondeu aos questionamentos sobre as ações nos protestos e manifestações.