Manifestantes atacam Carrefour em Porto Alegre; polícia dispersa com bombas
Um protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, reuniu cerca de 2,5 mil pessoas, segundo estimativa da Guarda Municipal, no final da tarde de hoje na zona norte de Porto Alegre (RS).
Após um início pacífico, um grupo de cerca de 50 pessoas tentou invadir o supermercado, que estava fechado. A Brigada Militar ocupou o interior do estabelecimento e passou a jogar bombas para afastar os manifestantes do portão, que acabou danificado. Uma pessoa conseguiu invadir e pichou a fachada do prédio. Outros colocaram fogo em materiais
Apesar do arremesso de bombas pela polícia, um grupo reduzido quebrou placas, partes do portão do mercado e telas de proteção para a passagem de pedestres de um lado a outro da avenida. Após a confusão, muita gente deixou o protesto.
Parte dos manifestantes que não se envolveu no confronto permaneceu em outro ponto da avenida, pedindo justiça e acompanhando de longe o embate.
Beto, como era conhecido, morreu após ser agredido ontem no Carrefour da capital gaúcha por um segurança do estabelecimento e por um policial militar temporário. Os dois estão presos.
Os manifestantes se concentraram em frente ao principal acesso ao mercado, na Avenida Plínio Brasil Milano. Inicialmente o trânsito estava sendo liberado aos poucos, mas acabou sendo desviado no trecho.
Os participantes carregavam bandeiras e cartazes em protesto à morte e estimulando o boicote à rede de supermercados. Além disso, gritaram "racistas não passarão".
Políticos participaram da manifestação
Mais cedo já houve protesto, em número menor de participantes, em frente ao mercado. O jovem Roger Zimmer da Silva carregou uma faixa com a frase "vidas negras importam".
"O Brasil foi construído por mãos negras. Estão matando negros, estão matando brancos como se fosse beber água."
A publicitária Regina Ritzel, 37 anos, participou da manifestação acompanhada da filha Raysa Ferreira, de nove anos. Regina, que é negra, conta que há dois anos estava fazendo compras em outra unidade do Carrefour na cidade e, após passar pelo caixa, foi levada para uma sala e teve que retirar a roupa. Os seguranças suspeitaram que ela tivesse escondido chocolates na bolsa ao atender o telefone. O caso corre na Justiça.
"Minhas compras ficaram espalhadas pelo chão. E eu estava com minha. Imagina a situação", disse.
Perícia aponta asfixia como causa provável
Análises iniciais dos departamentos de Criminalística e Médico-Legal do IGP (Instituto-Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul apontam asfixia como provável causa da morte de João Alberto Silveira Freitas.
Em nota, o IGP informou que o corpo de Beto, como era conhecido, foi submetido à necropsia pela manhã e, após análise, liberado para os familiares. Ainda que a perícia inicial indique asfixia como causa da morte, esta não é a conclusão definitiva, uma vez que existem exames laboratoriais em andamento.
"Os laudos devem ser concluídos nos próximos dias", comunicou o instituto.
Entenda o caso
João Alberto Silveira Freitas teria discutido com a caixa do estabelecimento e foi conduzido por seguranças da loja até o estacionamento, no andar inferior. Um deles, policial militar temporário - funcionário contratado pela Brigada Militar por tempo determinado, para atividades administrativas -, acompanhou o deslocamento, e colaborou no espancamento de Freitas.
Durante o percurso, acompanhado por uma funcionária do Carrefour, Freitas teria desferido um soco contra o PM, segundo afirmou a trabalhadora, em depoimento à polícia.
"A partir disso começou o tumulto, e os dois agrediram ele na tentativa de contê-lo. Eles (os seguranças) chegaram a subir em cima do corpo dele, colocaram perna no pescoço ou no tórax", disse o delegado plantonista Leandro Bodoia.
Os agressores foram presos, suspeitos de homicídio doloso. A cena vem sendo comparada nas redes sociais à que aconteceu com George Floyd, que morreu sufocado por policiais nos Estados Unidos.
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