Perícia aponta asfixia como provável causa da morte de homem no Carrefour
Análises iniciais dos departamentos de Criminalística e Médico-Legal do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul apontam asfixia como provável causa da morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, espancado ontem por seguranças de uma unidade do Carrefour na zona norte de Porto Alegre.
Em nota, o IGP informou que o corpo de Beto, como era conhecido, foi submetido à necropsia pela manhã e, após análise, liberado para os familiares. Ainda que a perícia inicial indique asfixia como causa da morte, esta não é a conclusão definitiva, uma vez que existem exames laboratoriais em andamento.
"Os laudos devem ser concluídos nos próximos dias", comunicou o instituto.
Mais cedo, a delegada Roberta Bertoldo, responsável pela investigação do caso, já havia comentado sobre essa suspeita. "Se supõe que ele tenha sido asfixiado, ou seja, não conseguia respirar bem naquele momento e, por isso, entrou em óbito", disse.
A investigação foi iniciada já durante a madrugada pelo delegado plantonista Leandro Bodoia, que foi ao local fazer o atendimento. De manhã, a 2ª DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), da qual a delegada Bertoldo é titular, assumiu o caso.
Dois homens, ambos brancos, foram presos: um segurança do local e um policial militar temporário — na tarde de hoje, a Justiça decretou prisão preventiva dos dois.
Não há previsão de quanto tempo levará para a conclusão da investigação, mas Bertoldo considera que o caso não é complexo, uma vez que a autoria já está definida e os agressores foram presos em flagrante. A delegada, contudo, não descarta que mais pessoas sejam responsabilizadas pelo crime.
A causa do conflito, por enquanto, ainda é desconhecida. "Se verificou que provavelmente houve algum incidente entre a vítima e fiscais do supermercado, o que não está esclarecido", afirmou Bertoldo. Segundo a delegada, as imagens que já foram observadas não apresentam nada de anormal e que, nem a vítima, nem a caixa do supermercado pareceram ter se alterado durante sua interação.
Segundo a esposa de Freitas, Milena Borges Alves, 43, ela e o marido foram ao mercado após passarem o dia fora, com o pai dele. O Carrefour fica a cerca de 600 metros do apartamento do casal, na Vila Iapi. Freitas queria um pudim de pão e o casal foi ao mercado comprar os ingredientes, além do necessário para o jantar. Compraram beterraba, alface, tomate, ovos, leite, pão e leite condensado. Gastaram cerca de R$ 60.
O casal ficou poucos minutos no interior do estabelecimento escolhendo os produtos. Ao chegar ao caixa, segundo MIlena, seu marido acenou para uma segurança. Para ela, isto teria desencadeado as agressões.
Vídeos que mostram o espancamento e a tentativa de socorristas de salvar o homem circulam nas redes sociais desde a noite de ontem. As imagens mostram Freitas recebendo de um dos homens vários socos na região do rosto, enquanto o outro tenta segurá-lo. Uma mulher que estava usando proteção facial é vista perto deles, assistindo às agressões.
Quando eu fui tentar ajudar o segurança me empurrou e aconteceu essa tragédia. A última coisa que ele falou para mim foi: 'Milena, me ajuda'
Milena Borges Alves
Funcionários do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegaram a se deslocar até o local, fizeram massagem cardíaca, mas ele acabou não resistindo. O laudo pericial deverá apontar a causa da morte de Freitas.
À Folha de S.Paulo Bertoldo também disse que o caso não se trata de racismo.
O episódio gerou comoção e revolta nas redes sociais. Muitos internautas lembraram que o caso ocorreu à véspera do Dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta-feira.
Freitas era participante de uma torcida organizada de futebol em Porto Alegre, do clube São José, e foi homenageado com posts com mensagens como "vidas negras importam"
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