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Médico usa próprio carro para salvar bebê no Rio; ele diz que foi criticado

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

03/12/2020 17h21

O médico emergencista Glauco Gomes, que trabalha na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio, socorreu ontem uma criança de um ano, no seu próprio carro. A menina Lavínia chegou na unidade de saúde, no colo da mãe, com um corte no pescoço.

Devido à necessidade de cirurgia imediata e à ausência de ambulância para transferir a paciente para um hospital, o médico levou a criança, juntamente com a equipe médica, até o hospital Albert Schweitzer, em Realengo.

"A Lavínia chegou à unidade com um corte no pescoço e com sangue em jato. Ela precisava de uma cirurgia imediata. Eu comprimi a artéria e decidi levá-la para um hospital com a equipe. Levamos três bolsas de soro, oxigênio e fomos estancando o sangue dela no carro. No momento não tínhamos ambulâncias na unidade e o estado dela era gravíssimo", contou o médico, ao UOL.

As ambulâncias na unidade estavam em atendimento aos pacientes com coronavírus. De acordo ainda com ele, a comunidade da Vila Kennedy se envolveu no socorro para ajudar a equipe médica.

"Os motoboys da Vila Kennedy fecharam a rua, saímos pela contramão da Avenida Brasil e chegamos ao hospital. Fomos direto para o centro cirúrgico. Fizemos contato com a equipe e conseguimos salvar a Lavínia".

Críticas

Gomes contou ainda que o socorro à criança gerou críticas negativas de outros médicos por ter infringido o Código de Ética ao utilizar o próprio veículo para transportar a paciente.

"Eu faria tudo de novo se fosse preciso. Estou até agora recebendo mensagens e sendo criticado por infringir o Código de Ética, estou até agora respondendo aos meus colegas, mas eu faria tudo de novo. Essa história poderia ter sido completamente diferente. Se essa criança fosse a óbito, eu responderia com louvor ao código de ética, pois o que vale é a vida humana", contou o médico, ainda emocionado.

Glauco Gomes trabalha há 20 anos na Vila Kennedy. Antes de se tornar médico, ele era professor de biologia e já dava aulas na região. Há dois anos, o médico emergencista atua na UPA da Vila Kennedy — um bairro carente do Rio situado às margens da Avenida Brasil.

O médico emergencista Glauco Gomes com os profissionais que o ajudaram a salvar a vida da pequena Lavínia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O médico emergencista Glauco Gomes com os profissionais que o ajudaram a salvar a vida da pequena Lavínia
Imagem: Arquivo Pessoal

Criança brincava em casa

A mãe de Lavínia, Rhayane Alves, contou que a criança brincava no quintal de casa quando caiu e rasgou o pescoço em um caco de vidro. De acordo com Gomes, se a equipe demorasse mais dez minutos, a menina poderia ter morrido. Rhayane tem 19 anos e está grávida de sete meses do segundo filho. Ela chegou na unidade desesperada com a criança no colo.

"Estou sem acreditar até agora. Muita felicidade pelos médicos que me ajudaram. Foram uns anjos. Deus os enviou ao meu caminho. Não consegui nem dormir essa noite, fiquei olhando ela". De acordo ainda com Rhayane, ela não pôde ir no carro com a equipe médica devido à falta de espaço.

"Um moço lá da UPA, que eu nem sei quem é, me pagou um [carro por aplicativo] para eu poder ir atrás deles. Cheguei lá e já estava tudo encaminhado. Salvaram a minha filha".

A menina passou por uma cirurgia ontem mesmo no hospital Albert Schweitzer e segue internada na unidade. Segundo a família, ela deve ficar mais dois dias no hospital. O estado de saúde dela é considerado estável.