Topo

Esse conteúdo é antigo

'Governo? Nem sei se existe', diz mãe de Ágatha, morta por PM em 2019

A perícia concluiu que Ágatha Félix foi morta por um tiro de policial - Voz das Comunidades
A perícia concluiu que Ágatha Félix foi morta por um tiro de policial Imagem: Voz das Comunidades

Colaboração para o UOL

07/12/2020 10h57

As mortes de crianças por balas perdidas chamaram atenção mais uma vez no Rio de Janeiro. Na semana passada, as primas Emily e Rebeca, de 4 e 7 anos, foram atingidas por uma bala perdida de fuzil. Cerca de um ano atrás, um crime semelhante aconteceu no Complexo do Alemão. Ágatha Félix, de 8 anos, morreu após ser atingida pelo tiro de um policial. Hoje a mãe dela, Vanessa Sales Félix, foi perguntada se tem recebido apoio do governo. Revoltada e emocionada, ela disse que não e lamentou os adiamentos da audiência do caso.

"Governo? Nem sei se existe. Não tive nenhuma assistência do governo. Tem governador? Pra mim não teve. Prefeito? Pra mim não teve. Tive assistência da Ordem dos Advogados do Brasil e de ONGs do Complexo do Alemão. E eu, mãe, com minha dor, sempre venho falar porque sei da importância, que dói profundamente, e não posso me calar. Sei o quanto dói. Mas governo? Existe? Pra mim não funciona", desabafou Vanessa em entrevista à Globonews.

Vanessa cobrou mudança na postura das autoridades diante dos moradores de comunidades do Rio de Janeiro.

"Primeiramente é muito desgastante para a família toda essa situação. É muita dor e sofrimento que a gente passa. E ainda ter uma reconstituição para provar o que viu, o que aconteceu. A polícia, que é para defender, nega aquilo que fez", afirmou ela, completando depois: "Ágatha não foi a primeira, a do meio e nem será a última enquanto as autoridades não tomarem uma tática que beneficie a população. Nós, moradores de comunidade, merecemos respeito pra que a gente consiga ir e vir".

Audiências adiadas

A primeira audiência do caso de Ágatha foi marcada inicialmente para julho deste ano, mas primeiro sofreu adiamento por causa da pandemia de covid-19. Depois ela foi marcada para 26 de novembro, mas na data o réu alegou que estava com covid-19. Então a audiência passou para 8 de abril do ano que vem.

"Mais uma vez a audiência foi adiada. Mais uma vez a gente se arrasta sem conseguir resolver, sem conseguir ter justiça", lamentou Vanessa

O réu é o policial militar Rodrigo José de Matos Soares, que atirou em Ágatha quando ela estava em uma kombi, com a mãe, indo para escola. A Polícia Militar alega que estava em um confronto com criminosos, mas a família da menina nega essa versão. Caso condenado, o policial poderá cumprir pena de 12 a 30 anos de prisão.