Topo

Esse conteúdo é antigo

Primas de 4 e 7 anos morrem atingidas por bala perdida em Duque de Caxias

Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, brincavam no portão de casa quando foram baleadas - Arquivo Pessoal
Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, brincavam no portão de casa quando foram baleadas Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

05/12/2020 10h36

Familiares de Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, cobram por justiça pelas mortes das duas crianças. As meninas, que são primas, brincavam no portão de casa, ontem à noite, por volta das 20h30, quando foram baleadas. Emily foi atingida na cabeça e Rebeca no tórax. O caso aconteceu na comunidade Barro Vermelho, em Gramacho, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Segundo os moradores, policiais militares tentaram abordar duas pessoas que estavam em uma motocicleta e houve pelo menos três disparos. A PM disse em nota que os agentes estavam em patrulhamento quando ouviram disparos e foram até o local para checar o ocorrido. A corporação afirma que não houve disparos por parte dos policiais militares.

Muito abalados, familiares das crianças estiveram hoje no Instituto Médico Legal do município para realizar a liberação dos corpos. A prima das meninas, Ana Lúcia Alves de Souza, 51, conversou com o UOL e explicou como tudo aconteceu. Uma das crianças faria aniversário do fim desse mês, seria a primeira festa de aniversário.

"Era por volta das 20h30 quando elas estavam na calçada da casa delas e do nada parou um carro da Polícia Militar e atirou na direção em que elas estavam. Não estava acontecendo nada na hora. A Emily faria aniversário agora dia 23 e a gente estava preparando uma festinha que ela queria da Moana [personagem da Disney]. Ela inclusive vai ser enterrada com a roupinha da Moana. A Emily era uma criança muito ativa, querida por todos do bairro. A mãe dela está aqui [IML] a base de remédios. A Rebeca era uma menina doce, saudável. A mãe dela nem conseguiu vir aqui liberar o corpo. As duas eram muito coladas, moravam no mesmo quintal", disse Ana Lúcia.

"Eram crianças que estavam brincando. Elas tinham terminado de tomar banho e foram pro portão da casa da avó e aconteceu tudo isso. Estamos todos desolados. Infelizmente elas viraram estatística, não era o nosso sonho. A gente vê que cada vez o pobre é tratado com frieza. Eles não tiveram nem o cuidado de olhar para a direção de em quem eles poderiam acertar. Simplesmente atiraram, isso nos causa muita indignação. Vemos que nossos governantes não estão nem aí para a população pobre, pessoas que votam nele e não tem um pingo de valor. Eles chegam nas comunidades para atirar. Só que nas comunidades moram pessoas trabalhadoras. Todos nós da família, quando aconteceu isso com as meninas, estávamos voltando dos nossos trabalhos. O nosso salário paga a segurança, e qual a segurança que a gente tem? Nenhuma!", desabafou a agente comunitária.

"A gente sai pra trabalhar, pra contribuir com esse governo homicida e é isso que eles nos dão de troco, matam nossas crianças, nosso futuro. Isso tem que acabar, isso tem que parar. Até quando vão matar pessoas inocentes? Que preparação é essa que os policiais não conseguem distinguir entre adulto e criança? Não teve troca de tiros. A Emily levou um tiro de fuzil na cabeça. Você entende o que é isso? O que ela fez pra merecer um tiro de fuzil na cabeça? O que uma criança de 4 anos fez para merecer isso? Elas estavam com o que na mão? Vão dizer o quê? Que elas estavam com droga, com arma e que elas trocaram tiro? Isso nos causa muita revolta. A gente sabe que não vai acontecer nada, mas quero que todos saibam o que aconteceu. Quero saber o que eles vão dizer de uma criança de 7 e outra 4. Qual a justificativa?", finalizou a prima das crianças.

De acordo com os moradores, os vizinhos levaram Rebeca e Emily para a Unidade de Pronto Atendimento de Sarapuí. Porém, segundo a prefeitura de Duque de Caxias, elas chegaram mortas à UPA. Familiares informaram que o enterro das crianças deve acontecer hoje a tarde no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de Caxias.

O que diz a Polícia Militar

Em nota enviada ao UOL, a PM informou que "na noite de ontem, equipe policial do 15º BPM (Duque de Caxias) estava em patrulhamento na Rua Lauro Sodré, altura da comunidade do Sapinho, quando disparos de arma de fogo foram ouvidos. Não houve disparos por parte dos policiais militares. A equipe seguiu em deslocamento. Posteriormente, o batalhão foi acionado para verificar entrada de duas pessoas feridas na UPA Caxias 2 (Sarapuí). No local, o fato foi constatado e tratavam-se de duas crianças. Ocorrência a cargo da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense". A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) irá investigar o caso.