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Porta-voz da PM que atacou repórter ganha novo cargo um dia após exoneração

A tenente-coronel Gabryela Dantas, da PM do Rio de Janeiro, no vídeo em que atacou um jornalista - Reprodução
A tenente-coronel Gabryela Dantas, da PM do Rio de Janeiro, no vídeo em que atacou um jornalista Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio e Janeiro

10/12/2020 09h50

A tenente-coronel Gabryela Dantas, exonerada ontem do cargo de coordenadora de comunicação da Polícia Militar do Rio de Janeiro por fazer ataques a um jornalista, assumirá o comando do Batalhão da PM do Leblon, na zona sul da cidade. O 23º BPM é responsável pelo policiamento nos bairros do Leblon, Ipanema, Gávea e Jardim Botânico.

Para o cargo de coordenador de comunicação da PM, o comando da corporação nomeou o major Ivan Blaz, que já passou pela função em outros anos.

A exoneração foi uma determinação do governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, após a tenente-coronel aparecer em um vídeo divulgado nos canais da PM nas redes sociais fazendo críticas pessoais a um repórter dos jornais Extra e O Globo.

"Todos os dias somos questionados e muitas vezes vítimas de acusações. Ainda assim, defendo o diálogo com a imprensa. O debate de ideias é importante, mas é preciso preservar e respeitar ambos os lados", escreveu o governador no Twitter ao falar sobre a exoneração ontem.

"Covarde e inescrupulosa", disse PM sobre reportagem

Os comentários da tenente-coronel foram feitos depois da publicação de uma matéria que usava dados oficiais da própria corporação para mostrar o aumento do consumo de munição por policiais no batalhão investigado pelas mortes das meninas Emily e Rebeca, no último sábado (5).

A porta-voz da corporação qualificou o trabalho jornalístico como "covarde e inescrupuloso", entre outros adjetivos, além de citar o nome do profissional e incentivar o compartilhamento do vídeo. A fala dela provocou uma onda de ataques ao jornalista.

Castro tomou a decisão na tarde de ontem e também exigiu a exclusão do conteúdo das redes sociais. Ao governador, disseram que a decisão de gravar o vídeo foi tomada pela própria tenente-coronel.

A Polícia Militar do Rio também divulgou uma nota após a exoneração, onde "esclarece que, ao personalizar o descontentamento em um repórter, [a porta-voz] ultrapassou um limite que feriu o equilíbrio de sua atuação. Reconhecemos o valor da liberdade de imprensa".

Entidades de imprensa criticam PM

Entidades de classe e órgãos que atuam em defesa da liberdade de expressão manifestaram repúdio à atitude da policial.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disse que "incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter". A Abraji também questionou as afirmações feitas pela tenente-coronel no vídeo e relatou um "linchamento virtual" ao repórter.

Os jornais Extra e O Globo também se manifestaram. "Faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação. No entanto, a Editora Globo repudia os ataques feitos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, que, por meio de um vídeo oficial, classificou o repórter como inimigo da corporação e incentivou a população a divulgar o vídeo. Não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele", diz um trecho.

Crianças mortas na Baixada

Policiais do 15º BPM (Duque de Caxias) são investigados pelas mortes das meninas Emily, de 4 anos; e Rebeca Santos, de 7, atingidas por um tiro de fuzil quando brincavam na porta de casa, na última sexta-feira (4). A PM nega que os cinco policiais que estavam de plantão no dia do crime tenham feito disparos, mas os fuzis e as pistolas que eles usavam foram apreendidos e enviados para perícia.