Topo

Esse conteúdo é antigo

Família de primas mortas no Rio cobra governador; caso pode chegar à ONU

Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, brincavam no portão de casa quando foram baleadas - Arquivo Pessoal
Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, brincavam no portão de casa quando foram baleadas Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

07/12/2020 21h45

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), Renata Souza, afirmou que irá levar o caso das mortes das meninas Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, para a ONU (Organização das Nações Unidas).

Emily e Rebeca são primas e foram atingidas por tiros enquanto brincavam em frente de casa em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na noite de sexta-feira (5). Hoje, familiares das crianças participaram de reuniões e se encontraram com Renata Souza, deputada estadual, e também com o governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que ouviu cobranças dos familiares.

Ainda na esperança por justiça, Lidia Santos, 51, avó da Rebeca e tia da Emily, disse ao UOL como está cansativa a luta por justiça. Apesar disso, ela afirmou que vai continuar buscando por respostas e que quem deveria protegê-los, são os que "matam".

Hoje nós tivemos essa conversa com ela [Renata Souza], passei o dia na rua resolvendo essas questões das meninas. Eu não tenho mais vontade de voltar para casa, ainda mais quando se está perto das 20h [horário próximo em que ocorreram as mortes]. Só vem a lembrança delas na minha cabeça, delas brincando, mas agora não estão mais lá. Se eu pudesse, não voltava pra casa
Lidia Santos

Ela agradeceu o apoio que vem recebendo e afirmou que não desistirá. "As orações que as pessoas estão fazendo nos conforta. Eu vou continuar na busca por justiça pela minha neta e por todos os demais. Na maioria das vezes a violência contra os pobres parte do estado ao invés deles nos defender", disse Lídia.

"Até agora só estamos ouvindo 'podem nos procurar, podem nos procurar', 'podem contar no que precisar', mas nada é feito. Eu tô cansada disso, só queremos paz. Não estamos sentindo aquele sentimento de justiça, porque nada está sendo feito. E é revoltante ver a PM [Polícia Militar] falar que eles não atiraram, eu estava lá, eles atiraram. É mentira deles, com certeza", desabafou.

Lídia também afirmou que cobrou o governador do Rio de Janeiro. "Hoje estivemos com o governador e falei isso: do despreparo dos policiais. Ele disse que ia mudar a situação, mas a gente não sabe o que ele vai fazer. Ele só falou que era solidário com a gente e que ia fazer o possível para achar o culpado. Eu pedi para ele honrar a palavra dele e que o responsável pague pelo o que fez. Eu perguntei para ele 'de quem é a culpa?, porque não estava acontecendo nada. O policial não estava preparado'", explicou.

Emily e Rebeca família - Divulgação/Renata Souza - Divulgação/Renata Souza
Familiares das meninas Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, participam de reunião no Rio
Imagem: Divulgação/Renata Souza

A deputada Renata Souza (PSOL) disse que a demora das autoridades em encontrar os responsáveis pelos crimes também foi um fator crucial para entregar as informações das mortes das crianças à ONU.

"A ONU tem um papel importante de oferecer uma provocação ao governo brasileiro que deve explicações, a ONU precisa estar atenta a tudo o que ocorre no Brasil, em especial no Rio de Janeiro diante dessa política quase que genocida de segurança pública. É muito importante exercer esse tipo de pressão", disse a parlamentar.

A Defensoria Pública informou que vai ajudar juridicamente as famílias através do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos. De acordo com dados da ONG Rio de Paz, somente neste ano de 2020, 12 crianças morreram vítimas de balas perdidas. Desde 2007, são 79 crianças assassinadas no estado. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense informou que aguarda o laudo cadavérico das crianças para tentar localizar algum fragmento de bala nos corpos das meninas que ajudem nas investigações.