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RJ: jovens achados mortos após ação policial tinham marcas de tiro no corpo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

15/12/2020 10h28

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que foram encontradas perfurações ocasionadas por arma de fogo no corpo dos dois jovens encontrados mortos após uma abordagem policial, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no último sábado.

O corpo de Jhordan Luiz de Oliveira Natividade, 17, tinha duas marcas que podem ser de entrada e saída de projétil; já o de Edson dos Santos Arguinez, 20, tinha três perfurações.

A polícia ainda aguarda o laudo de necropsia feito pelo IML (Instituto Médico Legal) que vai apontar a causa das mortes. Os dois policiais militares que participaram da operação anterior à morte dos rapazes foram presos.

Um vídeo publicado pelo UOL mostra o momento em que os dois jovens são interceptados por dois PMs na Rua Margem Esquerda, na Vila Medeiros, em Belford Roxo. Eles estavam em uma moto e a viatura da PM, estacionada. O soldado Jorge Luiz aparece no meio da via, enquanto o cabo Julio César faz a abordagem de um veículo próximo à calçada.

Quanto a moto passa pela rua, o condutor reduz a velocidade e desvia do soldado, que parece atirar contra a dupla - ele nega ter atirado (leia mais abaixo). O motorista perde o equilíbrio e os jovens caem. Abordados pelos policiais, um dos jovens é retirado do meio da rua por um dos PMs e outro se arrasta até o canto da via. A dupla foi conduzida até a viatura. Um PM saiu dirigindo o carro e o outro seguiu com a moto atrás. Horas depois, Edson e Jhordan foram encontrados mortos.

Os corpos dos jovens foram achados em uma área dominada pela milícia na Estrada de Xerém, em Belford Roxo, a menos de 3 km do local onde eles foram abordados.

No enterro dos rapazes ocorrido ontem, a mãe de Edson questionou a abordagem. "Eles não podiam andar de moto só porque são negros? Eu tô colocando a minha cara a tapa porque o seu filho pode ser o próximo", disse Renata dos Santos de Oliveira.

Câmera flagra PM atirando em jovens negros em blitz em Belford Roxo (RJ) na madrugada de sábado (12). Em seguida, eles são levados em uma viatura. Corpos aparecem em outro bairro da cidade com sinais de tortura - Reprodução - Reprodução
Câmera flagra PM atirando em jovens negros em blitz em Belford Roxo (RJ); PM negou o disparo, mas corpos tinham marcas de tiros
Imagem: Reprodução

Policiais foram presos e negaram tiro

Os dois policiais militares que aparecem no vídeo, obtido pela própria família dos jovens, foram presos em flagrante, por suspeita de serem os autores do crime de homicídio qualificado. A prisão foi convertida em preventiva e as duas pistolas dos PMs foram entregues à Polícia Civil pela Corregedoria da PM. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) tenta identificar o motorista de um veículo branco que estava no local no momento da abordagem.

O UOL tentou contato com os advogados dos policiais, mas não obteve retorno.

Em depoimento à Polícia Civil, o soldado Jorge Luiz e o cabo Júlio César negaram o disparo que aparece no vídeo, sob a alegação de que a moto caiu porque o condutor acabou perdendo o equilíbrio ao desviar na via. Jorge Luiz disse, ainda, que os jovens estavam em "atitude suspeita".

Os PMs também citaram o ferimento na cabeça de Edson que pode ser visto no vídeo. Segundo eles, possivelmente causado na queda do veículo. Ambos disseram ter pedido para que o jovem usasse a própria camisa para estancar o sangue e questionado se eles queriam ir ao hospital, mas os jovens teriam dito que não, segundo o relato prestado pelos PMs.

Jorge Luiz confirmou ter pilotado a motocicleta, seguida pela viatura conduzida por Júlio César, a caminho de uma delegacia. Mas disseram que os jovens acabaram sendo liberados 40 metros depois, porque não tinham antecedentes criminais. Questionado, falou que o episódio não foi relatado aos superiores porque não haveria motivo.