'Negro não pode andar de moto?', diz mãe em velório de jovens mortos por PM
Os corpos dos dois jovens negros encontrados mortos após serem baleados em uma ação policial registrada em vídeo no último final de semana foram enterrados hoje à tarde no Cemitério Municipal Belford Roxo (RJ), município da Baixada Fluminense onde aconteceu o crime.
Eles não podiam andar de moto só porque são negros? Eu tô colocando a minha cara a tapa porque o seu filho pode ser o próximo."
Renata Santos de Oliveira, mãe de Edson Arguinez Júnior
"Alguém viu o meu filho roubando ou fazendo alguma coisa ilícita? Não podemos nos calar", desabafou Renata Santos de Oliveira, mãe de Edson Arguinez Júnior, 20, que aparece no vídeo com um ferimento na cabeça tentando estancar o sangramento com uma camiseta.
O jovem que conduzia uma moto — ainda não localizada — no momento do tiro dado pelo soldado da PM Jorge Luiz Custódio da Costa.
Jorge e o cabo da PM Júlio César Ferreira dos Santos, que também estava na ação, foram presos em flagrante no sábado, horas após o crime, por suspeita de serem os autores do crime de homicídio qualificado após serem flagrados por câmeras de segurança em uma rua pouco iluminada. Nas imagens obtidas pelo UOL, um dos PMs aparece atirando nas vítimas em uma moto sem qualquer motivo aparente.
A prisão foi convertida em preventiva ontem. Os dois fuzis e as duas pistolas deles foram entregues à Polícia Civil pela Corregedoria da PM.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) tenta identificar o motorista do veículo branco que estava no local no momento do disparo flagrado em vídeo.
Os cadáveres estavam na Estrada de Xerém, no bairro de Babi, região sob o domínio de paramilitares, a menos de 3 km do local onde foram baleados.
"Covardia dos 'polícia'", disse pai
O rosto de Dinho, como Edson é conhecido entre os amigos, apareceu em todos os momentos do enterro, estampado na camisa usada por amigos e parentes.
"Covardia o que fizeram contigo... Covardia dos 'polícia'", disse baixinho Edson Arguinez, pai do garoto, inclinado sobre o caixão fechado do filho durante o velório, que ocorreu no começo da tarde de hoje, acompanhado por cerca de cem pessoas.
Por volta das 15h, foi enterrado o corpo de Jhordan Luiz Natividade, de 17 anos. Assim como no sepultamento de Edson, também havia camisas espalhadas com o rosto do jovem para outro sepultamento com caixão fechado.
Não posso tocar, não posso ver o rosto dele. Não era para o meu filho estar aqui."
Alecsandra, mãe de Jhordan
O avô dele, o pastor Bira de Sá, fez uma oração durante o velório. "Senhor, gostaria de pedir que tenha um lugar reservado para ele", pregou.
No sepultamento, uma mulher gritava: "Levanta, preto! A tia tá aqui."
Um amigo beijou uma bola de futebol com mensagens dos amigos, a colocou sobre o caixão e se despediu: "Eu te amo. Fica com Deus, Pelé", disse, identificando o jovem pelo apelido que ostentava nas peladas.
Perto do caixão, a mãe de Jhordan se despediu do filho com uma frase: "Perdoa a tua mãe por eu não estar sentindo a sua dor."
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