Jovens mortos por PM foram encontrados em área de milícia em Belford Roxo
Os corpos de Edson Arguinez Júnior e Jhordan Luiz Natividade, jovens negros mortos após serem baleados em uma ação policial no último final de semana, foram encontrados em uma área dominada pela milícia em Belford Roxo (RJ). O velório de ambos ocorreu na tarde de hoje.
Os cadáveres estavam na Estrada de Xerém, no bairro de Babi, região sob o domínio de paramilitares, a menos de 3 km do local onde foram baleados à queima-roupa pelo soldado Jorge Luiz Custódio da Costa sem motivo aparente ao passarem de moto por uma rua.
Fontes ligadas à Polícia Civil não descartam a hipótese de uma ligação entre o crime e a milícia, já que os jovens moravam em área dominada pelo tráfico. Contudo, essa ligação não é confirmada oficialmente.
Em depoimento, eles negaram o tiro que aparece no vídeo e justificaram a ação porque Edson e Jhordan estariam em "atitude suspeita".
O UOL ligou para os telefones dos escritórios dos advogados deles, mas eles não atenderam as ligações. Se enviados, seus posicionamentos serão incluídos nesta reportagem.
Belford Roxo
Ambos os policiais militares que aparecem no vídeo — o cabo Júlio César Ferreira dos Santos e o soldado Jorge Luiz Custódio da Costa — moram em Belford Roxo (RJ), mesmo município da área de atuação deles, que estavam lotados no 39º BPM.
O cabo Júlio César reside em Heliópolis, mesmo bairro de atuação de Marcio Cardoso Pagniez, conhecido como Marcinho Bombeiro (PSL), que concorreu ao cargo de vereador pela quarta vez nas eleições deste ano mesmo atrás das grades e ficou como suplente.
Acusado de chefiar uma milícia, Marcinho está preso preventivamente desde outubro de 2019 e é réu por suposta participação na morte de dois jovens em abril de 2017.
O PM Júlio César, de 41 anos, atuava no batalhão do mesmo município onde mora desde maio de 2015, quando foi transferido do 16º BPM (Olaria), na zona norte do Rio de Janeiro. Há dez anos na corporação, ele cumpria uma medida protetiva da Lei Maria da Penha, por violência doméstica.
O soldado Jorge Luiz, autor do disparo flagrado no vídeo, não tem anotações na corporação, onde atua há apenas quatro anos. Em junho de 2018, ele foi transferido do 15º BPM (Duque de Caxias) para o batalhão de Belford Roxo (RJ).
Os dois fuzis e as duas pistolas deles foram entregues à Polícia Civil pela Corregedoria da PM. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) tenta identificar o motorista do veículo branco que estava no local no momento do disparo flagrado em vídeo.
Velório de jovens negros mortos em abordagem da PM no RJ
'Negro não pode andar de moto?', questiona mãe
Os corpos dos jovens mortos foram enterrados ontem à tarde no cemitério municipal de Belford Roxo.
"Eles não podiam andar de moto só porque são negros? Eu tô colocando a minha cara a tapa porque o seu filho pode ser o próximo", desabafou Renata Santos de Oliveira, mãe de Edson Arguinez Júnior, que conduzia a moto e aparece no vídeo com um ferimento na cabeça.
"Não posso tocar, não posso ver o rosto dele. Não era para o meu filho estar aqui", disse Alecsandra, mãe de Jhordan Luiz Natividade.
O caso
No vídeo a que o UOL teve acesso, a viatura aparece estacionada durante uma blitz próximo a uma curva na rua Margem Esquerda, na Vila Medeiros, em Belford Roxo (RJ), onde há pouca visibilidade para os condutores.
O soldado Jorge Luiz está no meio da via, enquanto o cabo Júlio César faz a abordagem a um veículo próximo ao meio-fio. Quando a moto passa pela rua, o condutor reduz a velocidade e desvia do soldado Jorge Luiz, que atira à queima-roupa. Edson, que pilotava o veículo, perde o equilíbrio e os jovens caem.
Após a queda da moto, um dos jovens é chutado no chão pelo soldado, como registrado pelo vídeo. O cabo Júlio César, então, se aproxima para fazer a abordagem. Em seguida, os jovens são puxados pelos braços.
Jhordan se arrasta até a calçada sob a mira do fuzil do cabo da PM. Em imagens registradas por outra câmera, os jovens aparecem sentados na calçada. Nesse momento, Júlio César bate na cabeça de Jhordan com o cano do fuzil e parece iniciar uma conversa. Algemado mesmo sem motivos, já que não tinha antecedentes criminais, Jhordan é conduzido até a viatura com o amigo.
Após o desaparecimento dos jovens, no sábado, a própria família das vítimas tem acesso às câmeras de vigilância no local do crime e entrega o material à polícia. Os corpos são reconhecidos e os PMs que participaram da ação acabam sendo presos.
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