Como é que pago minhas contas?, pergunta dona de pub após restrições em SP
O retorno temporário do estado de São Paulo à fase vermelha, anunciado hoje, desagradou comerciantes e empresários. Esta é a segunda vez em um mês que o governo paulista muda, em um curto espaço de tempo, as restrições das atividades para conter a pandemia do novo coronavírus.
"É revoltante que as coisas sejam feitas dessa forma, sem planejamento", diz a chef Danielle Borges, proprietária do pub Bia Hoi, no centro paulistano.
Ela reclama que, no final de dezembro, a situação foi semelhante, quando o governo anunciou o retorno do estado à fase vermelha durante as festas de fim de ano. "Natal e Ano-Novo também fechamos sem aviso prévio. Ainda estou tentando me recuperar dos prejuízos de dois finais de semana fechados seguidos."
A gente precisa trabalhar e manter os empregos que restam. Como é que eu pago as contas no próximo dia útil?
Danielle Borges, proprietária do pub Bia Hoi
Entidade pede diálogo
A ACSP (Associação Comercial de São Paulo) reclama da falta de diálogo. "Queria que, antes dessa decisão, o governo entrasse em contato conosco e buscasse uma posição intermediária", diz ao UOL Alfredo Cotait Neto, presidente da associação. Ele diz que tentará um diálogo com o governador João Doria (PSDB) a respeito da medida.
A partir de segunda-feira (25) e até o dia 7 de fevereiro, o governo paulista impedirá, aos finais de semana e no final da noite e madrugada, o funcionamento de atividades que não são essenciais, como salões de beleza e academias, como preconiza a fase vermelha. Restaurantes e bares podem funcionar, mas sem atendimento presencial aos sábados, domingos e feriados.
Durante a semana, o funcionamento será em horário reduzido, dentro das regras da fase em que se encontra cada cidade.
O governo alega que haveria risco de colapso no sistema de saúde caso medidas restritivas não fossem adotadas.
"O que nos causa é uma dor de cabeça maior porque ficaremos mais fechados. Não temos mais de onde tirar. As reservas já foram gastas", diz Gilberto Bertevello, presidente do Sindicato das Academias do Estado de São Paulo e vice-presidente da CNS (Confederação Nacional de Serviços).
Borges, por exemplo, tem nos finais de semana a origem de 60% de seu faturamento. "Agora que eu estou conseguindo colocar as coisas em ordem de novo, vem [o governo] com mais uma medida restritiva. Está muito difícil ser comerciante, ser empreendedora, neste momento", diz a chef.
Mais fiscalização
Ela e Cotait sugerem aumentar a fiscalização para que as medidas já implementadas contra a pandemia sejam efetivamente cumpridas. "Por que fecha restaurante no sábado e no domingo? [Mantenha aberto] desde que eles cumpram os protocolos", diz Cotait.
"O que me parece é que prefeitura e estado, em vez de fiscalizarem para que as regras sejam seguidas em todos os lugares, acabam optando pela saída mais fácil, que é proibir todo mundo", diz Borges.
Quem segue as regras acaba sendo penalizado. Você acha que quem já não segue antes [as regras] vai fechar?
Danielle Borges, proprietária do pub Bia Hoi
A ACSP vê um contrassenso na decisão do governo, já que a gestão Doria aumentou o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para alguns setores da economia, como bares e restaurantes.
"Não tem cabimento aumentar restrições e ter aumento do ICMS. Pelo menos, [deveria] postergar o ICMS", diz Cotait, questionando como haverá faturamento para que comerciantes arquem com a cobrança.
Estão penalizando o comércio. O comércio é que está pagando a conta.
Alfredo Cotait, presidente da ACSP
"Para a gente, que tem um governador que se vende como um gestor, dizer para qualquer estabelecimento que ele vai fechar no dia seguinte, na segunda-feira, é uma falta de respeito", afirma Borges.
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