Topo

Esse conteúdo é antigo

MS: Liderança indígena nega relatos de agressões contra moradores de aldeia

Vítima afirma que teve casa invadida por pessoas com pedaços de madeira, martelo e facão, que alegaram que ela praticava bruxaria - Reprodução
Vítima afirma que teve casa invadida por pessoas com pedaços de madeira, martelo e facão, que alegaram que ela praticava bruxaria Imagem: Reprodução

Aline Oliveira

Colaboração para o UOL, em Campo Grande

27/01/2021 20h05

Uma mulher indígena de 29 anos procurou a Polícia Civil de Amambai (MS), cidade localizada a 355 km de Campo Grande, a fim de denunciar agressões sofridas na aldeia Limão Verde, em decorrência de intolerância religiosa.

A vítima afirma que cinco pessoas invadiram sua casa com pedaços de madeira, martelo e facão, e alegaram que ela praticava bruxaria, a fim de justificar o espancamento. O caso foi registrado como lesão corporal dolosa e está sob investigação policial.

Em razão das agressões, um grupo de moradores procurou o MPF (Ministério Público Federal) em Ponta Porã (MS) para denunciar a situação de brigas, ameaças e agressões existentes na comunidade. O motivo, segundo os denunciantes, é a oposição contra o atual capitão da aldeia, Alimer Nelson, eleito por voto popular em novembro de 2018.

O UOL conversou com o líder indígena da etnia Guarani Kaiowá, que apresentou sua versão do acontecimento. "Foi realizada uma eleição e vencemos de forma honesta, porém, moradores de um grupo contrário não aceitaram e estão fazendo acusações muito sérias envolvendo meu nome. Tenho provas de que não houve qualquer agressão ou ameaça contra essas pessoas e vou processar quem fez essas calúnias", argumenta.

Investigação

Agressões MS - Reprodução - Reprodução
Atual capitão da aldeia, Alimer Nelson diz que acusações são fruto de diferenças políticas
Imagem: Reprodução

Segundo o MPF/MS, desde 2018 está em andamento um inquérito civil para apurar e esclarecer conflitos internos existentes na terra indígena Limão Verde. O órgão federal atua como mediador e titular da ação penal, promovendo reuniões com forças policiais, comunidade e lideranças indígenas, a fim de solicitar providências às autoridades competentes.

"Recentemente houve agravamento dos conflitos motivados pela escolha do capitão da aldeia Limão Verde, razão pela qual o MPF realizou uma reunião por videoconferência, a fim de ouvir os grupos envolvidos na disputa. Ao final houve consenso dos participantes que aceitaram o agendamento de nova eleição para liderança da comunidade no dia 31 de janeiro", informou a assessoria em nota oficial.

Apesar do acordo, os ânimos continuaram exaltados na comunidade e houve proposta de alteração da eleição para 7 de fevereiro, data que foi novamente aceita hoje pelos envolvidos. A fim de prevenir novos conflitos, o MPF solicitou apoio presencial da Polícia Militar, da Polícia Federal e Departamento de Operações de Fronteira para acompanhar a realização da nova eleição.

Opinião da comunidade

Um dos participantes do grupo contrário ao atual capitão declarou que participou da reunião com o MPF para tratar de vários assuntos envolvendo violência na aldeia. "Estamos preocupados porque aumentaram os casos de violência, tortura, ameaças e homicídios. Os moradores estão revoltados e por isso pediram uma nova eleição, a fim de acabar com as desavenças."

Outra moradora que pediu para não ser identificada reclama da falta de respeito contra a decisão da maioria dos residentes da aldeia. "Temos que respeitar a comunidade, o voto, o resultado da eleição e principalmente, a democracia. Eu acreditava que o representante eleito permaneceria no cargo por quatro anos, mas, agora querem nova votação. O que está acontecendo é falta de respeito com a comunidade, ouviram apenas algumas pessoas e decidiram mudar sem nos consultar", reclama.

Já o capitão da Limão Verde revela que a moradora que sofreu agressão e foi até a polícia mora em outra comunidade indígena. "Ela disse que mora na nossa aldeia, mas, na verdade, reside na terra indígena Amambai", afirmou Alimer.

A reportagem entrou em contato com a superintendência regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) para solicitar informações, mas, até o fechamento da matéria não obteve retorno.

A terra indígena Aldeia Limão Verde é formada por cidadãos da etnia Guarani Kaiowá, está localizada no município de Amambai, próxima a fronteira com o Paraguai e conta com uma população de 1.801 pessoas em uma área de 660 hectares.