Ela era linda e não precisava de silicone, diz companheiro de mulher morta

A atendente de lanchonete Susana Thais Ferreira da Silva, 33, que morreu após realizar procedimento estético nos glúteos de forma irregular, com injeção de hidrogel, em um quarto de um resort do litoral norte de Alagoas, tinha o sonho de aumentar a parte do corpo, juntou dinheiro para conseguir pagar R$ 4.000 e, assim, ter o bumbum do tamanho que desejava.

No entanto, ela não imaginava que o sonho custaria a vida dela. A mulher morreu de embolia pulmonar, no HGE (Hospital Geral do Estado), em Maceió, na madrugada do último domingo (31), horas depois de uma mulher chamada Mariângela, que tem uma clínica de estética em Salvador, injetar a substância nos glúteos da vítima. A Polícia Civil investiga o caso e está à procura da mulher que realizou o procedimento.

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A jovem conheceu os serviços de Mariângela em anúncio nas redes sociais, em um perfil chamado de Curva Feminina, que foi apagado depois que a mulher soube da morte da cliente e fugiu.

Mariângela, segundo a Polícia Civil de Alagoas, tem uma clínica de estética em Salvador e realiza procedimentos em todo o país. A profissão dela é desconhecida. O pagamento do procedimento ocorreu dividido. Susana deu uma entrada de R$ 1.000, que foi depositado na conta da mulher, e os outros R$ 3.000 foram pagos em mãos.

Em troca de mensagens entre a vítima e Mariângela, Susana perguntava várias vezes "quando é que você vem a Maceió para realizar meu sonho?" O relato é do companheiro de Susana, Wanderson Dias, que teve acesso às conversas depois que ela morreu.

Tem hora que me pego olhando para o tempo, nem tem como explicar que do dia para noite mudou tudo. Eu perdi minha esposa e quero justiça, pois ela não sabia dos riscos, pelo que li nas mensagens e acho que não me contou para me fazer uma surpresa. Ela era linda, não precisava desse procedimento, se eu soubesse, não tinha a deixado ir fazer
Wanderson Dias

Ele contou que viu nas mensagens trocadas entre Susana e Mariângela que elas combinaram como seria o procedimento, que precisaria de anestesia para ela aguentar as injeções de hidrogel no glúteo.

Ele contou que viu nas mensagens que Mariângela disse a Susana que o procedimento não era perigoso, pois ela tinha experiência porque tinha sido, por 15 anos, assistente de um médico cirurgião plástico.

O companheiro disse ao UOL que ainda está sem entender o que aconteceu com Susana, pois, segundo ele, ela não informou que iria realizar o procedimento naquele dia. Ele disse que meses antes, ela citou a vontade de fazer implante de silicone, mas o companheiro afirmou que não via necessidade no procedimento.

"Ela saiu sem dizer para onde ia e voltou sem conseguir falar o que tinha acontecido. Chegou em casa passando muito mal, sem conseguir respirar, sem força, babando, vomitando, pálida e mordendo os lábios. Foi quando fui dar um banho nela para ver se melhorava, afinal, eu não sabia o que estava acontecendo e vi que o glúteo de Susana estava avermelhado e com 13 perfurações", relatou Dias.

Ele disse ainda que Susana deveria ter sido socorrida para o hospital pela mulher que realizou o procedimento, mas ela largou a cliente próximo a casa e foi embora.

Como Susana só piorava, o companheiro resolveu procurar ajuda médica. "Ela só piorava e acabei levando-a para o mini-pronto socorro da Chã da Jaqueira contra vontade dela. Devido ao grave estado de saúde, ela foi transferida para o HGE acompanhada de um médico. Lá me informaram que ela já estava em choque. Só deu tempo eu voltar para casa para pegar documentos dela que a assistência social me ligou dizendo que ela entrou em óbito", relatou o companheiro da vítima.

Ele mantinha uma união estável com Susana havia seis anos, e o casal tem um filho de quatro anos. Susana tem uma filha de 13 anos, de um relacionamento anterior. Ela trabalhava em um espaço de foodtruck como atendente de lanchonete, localizado no bairro da Jatiúca.

O corpo dela foi enterrado no cemitério do município de Major Isidoro (AL), região do sertão, no domingo. Familiares estavam revoltados com a morte dela e cobram por Justiça. "Os irmãos, primas, todo mundo pede por justiça. Que essa mulher seja presa e pague pelo que fez. Ela precisa ser presa para não fazer mais vítimas", destacou Dias.

Ele pretende procurar a Defensoria Pública do Estado para ser assistido em ação judicial que deve ingressar contra a pessoa que realizou o procedimento irregular em Susana.

Hidrogel não é proibido

O cirurgião plástico Davi Pessoa afirma que a substância usada para aumentar o volume dos glúteos de Susana não é usada pelos cirurgiões plásticos devido ao risco que o hidrogel tem, tanto de causar embolia pulmonar, quanto de infecção na área aplicada e necrose de tecidos.

"O hidrogel ele não é proibido, mas é difícil encontrar um cirurgião plástico que use porque não se encontra estudos falando sobre a substância. Não é proibida, mas é proscrita", explica o cirurgião plástico Davi Pessoa.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) libera o uso do hidrogel, mas ele é proibido pelo FDA (Food and Drug Administration), agência dos Estados Unidos que regula a comercialização de produtos, alimentos e remédios.