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Laudo cita fartura de comida e corrente em casa onde menino ficou em barril

Barril onde menino de 11 anos ficava em Campinas - Felipe de Souza/UOL
Barril onde menino de 11 anos ficava em Campinas Imagem: Felipe de Souza/UOL

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

11/02/2021 09h12

O laudo da perícia feita pelo Instituto de Criminalística aponta que a casa onde o menino de 11 anos que era mantido dentro de um barril, em Campinas (SP), tinha "fartura" de comida, ventiladores e condições adequadas para o desenvolvimento de uma criança, apesar de ele ter sido vítima de maus-tratos e privação. O UOL teve acesso ao documento.

A perícia foi realizada em 30 de janeiro, mesma data em que o caso foi descoberto pela Polícia Militar. A casa ainda não havia sido revirada por moradores indignados com o caso.

Segundo o relatório, a casa em si era bastante espaçosa, apesar de simples. Com sala, cozinha, banheiro, dois quartos e garagem, ventiladores estavam espalhados em todos os cômodos.

Um dos quartos tinha uma beliche e colchões. Na sala, brinquedos, uma TV, um videogame, roupas infantis menores que a do menino e pacotes de fralda.

Na cozinha, uma cafeteira de cápsulas, batedeiras, micro-ondas, fogão e panelas. Os armários estavam com grande quantidade de mantimentos. A geladeira estava tão cheia que até a circulação de ar poderia ser prejudicada, segundo os peritos.

Já do lado externo, um corredor levava ao local onde o tambor estava.

barril - Felipe de Souza/UOL - Felipe de Souza/UOL
Comida abundante e ventiladores estavam à disposição de garoto torturado
Imagem: Felipe de Souza/UOL

Para evitar que os vizinhos vissem o garoto, uma manta foi colocada entre uma telha de fibrocimento e o barril. Já o tonel propriamente dito tinha aproximadamente 1 metro de altura e 58 centímetros de diâmetro.

O barril ficava em uma área externa, sem cobertura superior. Uma pequena parede de tijolos, com um buraco, fazia a "separação".

Quando foi periciado, a perícia encontrou uma colher de plástico, uma casca de banana "enegrecida" e fezes dentro do tonel. O utensílio doméstico fez com que a Polícia Civil confirmasse a suspeita de que ele era alimentado ali mesmo, e não saia do barril nem para fazer necessidades.

Fora isso, os peritos também acharam um parafuso grande no fundo do tambor. Ele era usado para fixar a corrente que amarrava a criança, e um cadeado prendia todo o esquema.

"O laudo pericial identifica elementos que poderão identificar as partes envolvidas, bem como a dinâmica do fato. Por exemplo, o fato de colocar a criança dentro de um barril é agravado por terem parafusos fixados na base dele que prendiam correntes no corpo, impedindo totalmente a locomoção do menino. Isso aumenta a situação de permanência da vítima no local, mesmo que o autor do crime não esteja no local", explicou o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Sincresp), Eduardo Becker.

O perito também aponta que os itens encontrados na residência agravam ainda mais a situação, já que a casa tinha todas as condições para o desenvolvimento de uma criança.

"Havia aparelhos eletrônicos que são incompatíveis com a justificativa de falta de dinheiro. Em um cômodo tinha aparelhos de R$ 4 mil e a criança naquela situação. Havia número de colchões superior a quantidade de pessoas que habitavam a casa. Havia máquina de café de cápsula, que é um artigo de luxo", completou.

Investigações ainda continuam

O relatório da perícia ajudou a Polícia Civil a montar uma parte do quebra-cabeças envolvendo a história do garoto.

Porém, algumas dúvidas ainda precisam ser esclarecidas, como o paradeiro da mãe biológica.

Fontes afirmaram à reportagem que buscas foram feitas em fóruns, internet, hospitais, cemitérios, mas sem nenhuma confirmação da mulher que abandonou a criança aos sete dias de vida ao pai. Ele mesmo, em depoimento, havia dito que não tinha ideia do paradeiro dela.

As apurações paralelas, comandadas pelo Ministério Público e Prefeitura de Campinas, também seguem, porém sem novas informações. Os órgãos não confirmam nenhum dado pelo caso estar em segredo de justiça.

A Câmara de Vereadores criou uma comissão para apurar as falhas nos procedimentos adotados no tratamento e assistência social à família do menino.

Segundo o presidente da comissão, Paulo Haddad (Cidadania), a ideia é seguir por 'outra linha' para não apresentar resultados iguais às outras investigações.

"Vamos verificar, por exemplo, se o número de conselheiros tutelares é adequado para aquela região. Temos uma informação de que faltariam ao menos três vagas para deixar um quadro mais propício para o bom atendimento", afirmou ao UOL. A primeira reunião do grupo deve acontecer, no mais tardar, na segunda-feira que vem.

Pai, madrasta e meia-irmã seguem presos. O menino continua em um abrigo da cidade, aguardando decisão da Vara da Infância e Juventude para definir se vai morar com parentes que pediram a guarda ou vai ser levado à adoção.