Chacina de Osasco: Justiça ouve 6 de 40 testemunhas no primeiro dia do júri
O novo julgamento de dois dos acusados da chacina de Osasco e Barueri —a maior da história de São Paulo, com 17 mortos e 7 feridos— começou hoje no Fórum de Osasco. Das 40 testemunhas arroladas para o julgamento pela acusação e defesa, 16 foram dispensadas e seis foram ouvidas hoje. A previsão é de que o júri termine na quinta-feira (25).
Estão sendo julgados novamente dois dos quatro acusados: o ex-cabo da Polícia Militar Victor Cristilder Silva dos Santos e o guarda civil de Barueri Sérgio Manhanhã. Não foram divulgados detalhes dos depoimentos das testemunhas e a imprensa não pôde entrar no Fórum.
Prestaram depoimento dois sobreviventes da chacina e o filho de uma delas, todas testemunhas de acusação. E também dois delegados da Polícia Civil e um capitão da PM —três testemunhas comuns a ambas as partes.
Réus recorreram e TJ determinou novo júri
Em 2017, Manhanhã havia sido condenado a 110 anos de prisão pela participação em 11 mortes e duas tentativas de homicídio. Em 2018, Cristilder foi condenado a 119 anos de prisão por 12 mortes e quatro tentativas.
Cristilder foi julgado sozinho em 2018, pois ele recorreu na fase de pronúncia —quando a Justiça decide quais acusados vão a júri.
Cristilder e Manhanhã recorreram e o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou o processo em relação a eles e permitiu o novo júri para ambos.
Segundo a acusação, Cristilder, Manhanhã e os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain teriam se juntado na noite de 13 de agosto de 2015 para matar as vítimas, que estavam em diferentes pontos de Osasco e Barueri. Foram mortos 16 homens e uma adolescente de 15 anos.
Eleutério foi condenado a 255 anos de prisão e Henklain, a 247.
Caso Cristilder e Manhanhã sejam absolvidos neste segundo júri, não cabe mais recursos.
Chacina teria sido motivada por vingança
Segundo as investigações, a motivação da chacina seria vingar as mortes do PM Admilson Pereira de Oliveira e do guarda-civil Jeferson Luiz Rodrigues da Silva, que ocorreram dias antes em Osasco e Barueri, respectivamente.
Para o promotor de Justiça Marcelo Alexandre de Oliveira, o crime foi "um ato de covardia imenso" que "destroçou as vidas de mais de 20 famílias". Antes do júri, ele disse que a Justiça precisa dar uma resposta para o caso e chamou os réus de "bandidos, terroristas travestidos de policiais" e afirmou que "Osasco não vai mais tolerar esse tipo de coisa".
O advogado dos réus, João Carlos Campanini, disse que Cristilder e Manhanhã não podem ter praticado o crime juntos, pois não se conheciam e que houve apenas um contato entre o PM e o guarda civil para tratar do empréstimo de um livro de direito, tanto que Manhanhã não teria o PM na sua agenda. "Como pode ter havido uma combinação?", questionou antes do júri.
O relatório da Polícia Civil, ao qual o UOL teve acesso, mostra o contrário. Perícia realizada nos celulares de ambos os acusados mostra que eles conversaram por sinais na noite e no momento dos crimes, ocorridos entre 20h04 e 22h51. O PM mandou para o guarda municipal sinais de positivo antes e depois do horário dos crimes. O guarda respondeu com um sinal de positivo.
A juíza que preside o júri, Elia Kinosita, proibiu o acesso da imprensa ao Fórum de Osasco em virtude da pandemia de covid-19. Familiares das vítimas e dos réus não podem permanecer no mesmo ambiente em que ocorre o julgamento, que era para ter ocorrido em novembro e foi adiado porque o advogado Campanini teve suspeita da doença.
Mães fazem vigília
Mães e amigos das vítimas da chacina e do guarda civil Sérgio Manhanhã prometem vir ao Fórum de Osasco todos os dias até o final do julgamento.
A professora de matemática Aparecida Gomes da Silva Assunção, 59, é a mãe de Leandro Pereira Assunção, mecânico industrial, pai de três filhos, e um dos mortos no Bar do Juvenal, local onde ocorreram 8 das 17 mortes.
"Ele trabalhava em Sorocaba e naquele dia, ele havia saído cedo para trabalhar e na volta, passou no bar para tomar uma cerveja, que ele nem chegou a beber, pois entrou no bar e logo depois chegaram os assassinos", contou.
Aparecida diz que não se satisfaz apenas com a expulsão dos PMs da corporação e exige Justiça. "Eles têm que ficar presos o máximo de tempo possível", disse.
Ela disse que organizou um esquema na escola que trabalha para fazer metade das aulas e, no intervalo, vir para o fórum.
A diarista Maria José de Lima Silva, 55, perdeu o filho caçula, Rodrigo Lima da Silva, de 16 anos, que foi o mais jovem dos mortos do sexo masculino. A namorada de Rodrigo estava grávida quando o crime aconteceu e a filha não conheceu o pai.
"Venho aqui por Justiça, pois amanhã ou depois eles podem matar mais", disse ela.
O UOL tentou falar com a esposa de Manhanhã, que estava com um grupo de amigos e familiares do guarda civil na porta do Fórum com faixas que alegam a inocência do acusado. Ela disse que só falaria na presença do advogado, que estava dentro do Fórum.
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