Eleição de igreja evangélica tem bate-boca e aglomeração; polícia é chamada
A eleição da nova diretoria na Igreja Assembleia de Deus Missões, na cidade de Campo Grande (MS), prevista para acontecer ontem, terminou em confusão e virou caso de polícia com várias denúncias.
Segundo apurou o UOL, o evento foi marcado por acusações da oposição ao pastor líder da congregação, Antônio Dionízio, de 70 anos, de tentativa de manipulação e censura pelo direito ao voto por parte dos membros.
Mas a história que teve aglomeração, xingamentos e até seguranças não começou ontem. Em outubro de 2020, o pastor estava recém-separado da esposa e engatou uma nova relação com outra mulher da igreja. Ele foi filmado dando um tapa no bumbum dela e o vídeo viralizou nas redes sociais.
A partir daí, a vida da igreja virou de cabeça para baixo e uma intensa disputa por poder se iniciou pela primeira vez em 22 anos. Dionízio sofreu uma tentativa de afastamento do cargo por outros ministros com a alegação de que o Estatuto da Igreja proíbe adultérios. A manobra acabou não surtindo efeitos.
Como o mesmo estatuto prevê eleições para a diretoria da congregação periodicamente, um grupo de oposição ao pastor se uniu para registrar a chapa, comandada pelo pastor Rudi Carlos, ex-parceiro do líder e agora rival.
O grupo de oposição acusa Dionízio de mudar o estatuto para se beneficiar, já que as regras foram alteradas para permitir a votação de menos de 5% dos mais de 8 mil membros que a igreja possui em Campo Grande.
No processo eleitoral, que começou em janeiro, o pastor líder da igreja chegou a indicar outro nome para representar sua chapa, mas mudou de ideia no meio do caminho e assumiu a cabeça das eleições, no que a oposição acusa novamente de golpe.
O que aconteceu ontem
Com as eleições marcadas para ontem, os membros da igreja foram surpreendidos com a presença de diversos seguranças que impediam a entrada das pessoas. Foram distribuídas pulseiras coloridas apenas para quem constava na lista de eleitores aptos a participar do processo eleitoral.
Ao UOL, o pastor opositor se revolta. "A reunião começou às 19h e meia hora depois tinha terminado. Tinham 300 pessoas ligadas ao pastor Dionízio lá dentro e outra 500, que estavam com a gente, do lado de fora", protesta Rudi Carlos.
Ele lembra a situação ocorrida ontem à noite. "Ele [Dionízio] distribuiu pulseiras para só gente dele entrar, mas conseguimos as pulseiras com pastores que não concordam com isso e nem assim entramos. Os seguranças estavam orientados a impedir a entrada da chapa", conta.
Membros da igreja que foram até à frente da sede acabaram formando uma grande aglomeração e houve empurra-empurra e xingamentos. Um pastor, identificado como Miguel Quevedo, opositor a Dionízio, passou mal e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado. Ele foi levado para a Santa Casa e identificou-se que o pastor havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Fontes ligadas ao grupo de oposição confirmaram que Quevedo está estável, mas que ele teria chegado a desmaiar e perder movimento de parte do corpo. O hospital confirmou a internação, mas informou que não dá detalhes sobre o estado de saúde dos pacientes.
Vizinhos chamam a polícia
Por causa da aglomeração em meio à pandemia do novo coronavírus e da confusão, os vizinhos do prédio chamaram a polícia que tentou acalmar os ânimos. Três viaturas compareceram ao local para dispersar quem estava do lado de fora.
A eleição estava prevista para às 19h, mas às 22h ainda havia tumulto do lado de fora. Membros da oposição acusam o grupo de Dionízio de impedir a entrada de pelo menos 500 membros para votar. Segundo eles, todos seriam opositores.
O pastor Rudi não confirma qual será o próximo passo, mas fontes ligadas a ele afirmam que a oposição deverá ir à justiça para cancelar as eleições.
Disputa por salário alto
Além de o vídeo ter dividido uma das maiores igrejas de Campo Grande, a disputa pelo controle da Assembleia de Deus Missões também passa por uma mega estrutura.
Quem vencer o pleito irá comandar uma entidade com mais de três dezenas de funcionários espalhados pela cidade. O salário do presidente está estimado em R$ 40 mil, segundo apurou o UOL.
Pela eleição, a chapa vencedora foi a do pastor Dionízio, mas a situação ainda está longe do fim. "Não vamos aceitar o resultado porque isso não é eleição. A gente registrou a chapa no prazo e não precisaríamos nem de pulseira. Vamos à justiça", revelou.
Procurada, a Igreja informou que não se manifesta sobre casos internos e que não irá falar sobre as eleições. O UOL tentou contato com o pastor Dionízio, mas ele não respondeu até a publicação da reportagem.
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