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Cadeirante morre de covid-19 sete dias após dar à luz no Tocantins

Nádia Guerra Çakmak tinha 37 anos - Acervo pessoal
Nádia Guerra Çakmak tinha 37 anos Imagem: Acervo pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

11/03/2021 15h50

A maquiadora Nádia Guerra Çakmak, 37, morreu ontem vítima da covid-19, sete dias após um parto cesárea de urgência realizado em um hospital particular em Palmas. Ela estava internada em um leito de UTI desde fevereiro, e, com o agravamento do estado de saúde, o bebê foi retirado às pressas com cerca de 30 semanas de gestação. O recém-nascido está bem de saúde e não foi infectado pelo novo coronavírus, segundo a família. Não há informação sobre a alta dele.

Nádia é cadeirante e ficou conhecida no Tocantins depois que iniciou relacionamento com o também cadeirante turco Metehan Çakmak, 26. O casal se conheceu por meio do Instagram, em 2018, e desde então mostrava uma vida de superação. A maquiadora ficou paraplégica com 22 anos, após sofrer um acidente de carro no Pará e ter três vértebras fraturadas. Já Metehan Çakmak sofre de uma doença degenerativa chamada paraparesia espástica familiar.

Eles se casaram em 2019, em cerimônia religiosa no Brasil e em registro civil na Turquia. No ano passado, Nádia ficou grávida naturalmente, mesmo com diagnóstico de vários médicos que ela não poderia engravidar. Ela tinha o sonho de gestar um bebê e ser mãe, mas acabou adotando uma menina há cinco anos, durante um primeiro casamento que durou 11 anos.

Çakmak também foi infectado pelo novo coronavírus, mas não necessitou de internação hospitalar. Já Nádia precisou ser internada na segunda semana de fevereiro, e ontem veio a óbito por complicações da covid-19. A família não divulgou o local do enterro. Ontem, após saber da morte da mulher, Çakamk publicou no Instagram uma imagem dizendo que estava de luto e escreveu que Nádia "tornou-se um anjo".

Nádia tinha problemas nos pulmões. Devido a uma série de infecções urinárias depois que ficou paraplégica, ela teve sepse e tromboembolia, perdendo 70% da capacidade de um pulmão.

Desde que ela foi internada, Çakmak vinha publicando fotos e mensagens, escritas em turco, pedindo orações e demonstrando amor pela mulher, além da espera pela chegada do bebê, que se chama Efraim Ali. Çakmak contou no Instagram que o bebê nasceu no último dia 4.

"Sua mãe e você tiveram momentos muito difíceis, mas meu senhor os protegeu todas as vezes. Agora, você vai abrir seus olhos para o mundo hoje para a saúde de vocês dois! Sua mãe e eu te amamos mais do que tudo. Você é o nosso tesouro mais precioso nesta vida. Em breve, você vai se juntar à nossa família e nos trazer saúde, alegria e paz! Que Deus dê cura e força para você e sua mãe", escreveu Çakmak.

Em uma das publicações, Çakmak mostrou uma foto de Nádia deitada em uma maca, sendo socorrida em uma ambulância para o hospital, e segurando a mão dele. Na mensagem, o turco diz que o coração, o corpo e a alma dele não podem ficar sem a mulher. "Você é o amor da minha vida, metade do meu coração e minha parceira de vida! Rezo por você a cada momento, e que meu senhor a cure! Sinto tanto a sua falta, estou te procurando por toda a casa... Te amo mais do que tudo! (...) Eu não quero um mundo sem você", afirmou.

Morando há quase dois anos no Brasil, Çakmak não conseguiu emprego, apesar das inúmeras tentativas. Nádia era aposentada e recebia cerca de R$ 1,5 mil, mas complementava a renda trabalhando em casa fazendo maquiagens, sobrancelhas e embelezamento de unhas.

Os dois vendiam alimentos feitos com receitas turcas na praia, mas por conta da pandemia do novo coronavírus precisaram suspender as vendas. Desde então, a situação financeira ficou mais difícil. Quando Nádia estava com cinco meses de gestação, ela decidiu fazer uma vaquinha para arrecadar dinheiro para comprar um carro para atender as necessidades da família. A meta é arrecadar R$ 40 mil, mas até agora, a campanha recebeu apenas R$ 2.780,00.