Comércio popular baixa as portas, mas segue nas calçadas
Três pontos tradicionais do comércio popular paulistano tiveram comerciantes ludibriando a fase mais restritiva do Plano São Paulo para trabalhar. Enquanto as portas dos estabelecimentos das ruas Santa Ifigênia e 25 de Março, além da região do Mercado Municipal da Lapa, estavam fechadas, vendedores continuavam trabalhando nas calçadas.
Com crescente contínua de casos confirmados e de mortes em decorrência da covid-19 em São Paulo, o governo estabeleceu restrições, válidas a partir de hoje, para comércios, serviços, restaurantes, viagens e instituiu um toque de recolher na madrugada -cuja fiscalização é inexistente. O transporte público registrou lotação hoje cedo.
Entre as principais mercadorias oferecidas nos comércios populares estavam softwares, CDs, DVDs, aparelhos automotivos, serviço de TV a cabo ilegal, entre outros. Também havia pessoas vendendo comida e bebida alcoólica, com caixas de som que intercalavam músicas dos estilos funk, sertanejo e forró.
Na Santa Ifigênia, na região central, a rua mais cheia entre as três, havia pontos em que os vendedores fechavam até a rua, impossibilitando a passagem de carros.
Na esquina com a rua Aurora, por exemplo, próximo da delegacia do bairro, policiais civis relataram que, além do comércio irregular, o local ficou inseguro recentemente, com furtos e roubos.
Na 25 de Março, também no centro, as principais ruas de acesso a ela estavam fechadas por agentes com coletes da prefeitura, que utilizavam cones e fitas métricas.
Um deles explicou à reportagem que a passagem era liberada apenas para fornecedores, empresários da região ou pessoas cadastradas.
A região do Mercado da Lapa era a menos cheia, mas ocorreu a mesma estratégia. Havia camelôs e vendedores ambulantes oferecendo produtos a pedestres e também motoristas.
O motorista Cleber Soares, 32, que foi até a 25 de Março para arrumar a tela do aparelho celular espatifada, contou que não sentia medo da aglomeração. "Até quando iam segurar o povo em casa? Os governos politizaram a questão e já passou um ano. Um ano dentro de casa, como faz para colocar comida na mesa?", questionou.
A vendedora de açaí Elisa Maria da Silva, 52, afirmou que voltou a vender seu produto no último mês. "Meu marido morreu, meus filhos estão precisando de assistência. A gente tem medo? Tem medo, claro. Mas vai fazer o quê? É lutar todo dia e temer a Deus", disse.
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