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Assassino confesso de Ana Cláudia é condenado a 32 anos de prisão em SP

 Ana Cláudia Conceição Silva foi assassinada em 2015 - Arquivo Pessoal
Ana Cláudia Conceição Silva foi assassinada em 2015 Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

18/03/2021 14h16

Assassino confesso da jovem Ana Cláudia Conceição Silva, Manoel dos Santos Eleotério foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a 32 anos de prisão pelo estupro e assassinato da adolescente, ocorridos em 2015 na cidade de Cubatão, litoral de São Paulo. A decisão foi dada ontem, seis anos após Ana Cláudia ser morta pelo rapaz, que conheceu na internet, e desaparecer por meses.

"Foram muitos anos de desespero, de angústia, mas eu nunca, nunca mesmo, pensei em desistir", contou ao UOL a mãe da adolescente, Ana Cristina da Conceição Silva, de 56 anos. "Desde ontem (17), quando soubemos da sentença, parece que um peso enorme saiu do meu coração. Sei que a Justiça não vai trazer a minha filha de volta. Mas me sinto muito mais aliviada em saber que ela (a Justiça) foi finalmente cumprida".

No dia 18 de novembro de 2015, Ana Cláudia, então com 17 anos de idade, saiu de casa para encontrar um rapaz que havia conhecido na internet. E desapareceu. Durante sete meses, os familiares realizaram manifestações para incentivar o prosseguimento das investigações sobre o seu desaparecimento. O caso teve, à época, repercussão nacional.

Uma das irmãs da jovem conseguiu acesso à senha do perfil de Ana Cláudia no Facebook, encontrando uma conversa entre ela e um rapaz. Os dois haviam marcado um encontro exatamente no dia em que Ana Cláudia desapareceu. Era Manoel dos Santos Eleotério, que na época tinha 24 anos e havia usado um nome falso.

Segundo relatos que constam dos atos processuais, a ossada da vítima foi encontrada em um matagal, no Bolsão 8, próximo ao Rio Pilões, em Cubatão, numa área contígua à Rodovia dos Imigrantes. O rapaz confessou o crime e, segundo a polícia, se mostrou sempre muito frio e desprovido de qualquer arrependimento.

A dor como impulso para recomeçar

Durante esses seis anos em que lutou para ver justiça, a mãe da jovem acabou se envolvendo em outros casos parecidos ao drama vivido por Ana Cláudia.

Ana Cristina - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A mãe de Ana Cláudia, Ana Cristina da Conceição Silva
Imagem: Arquivo pessoal

Com o tempo, passou a ser procurada pelos moradores do bairro Bolsão 7, onde mora com o marido, uma filha e um neto, em busca de conselhos, e acabou aceitando o encargo de atuar como líder comunitária. Em 2020, candidatou-se a um cargo eletivo de vereadora de Cubatão, tornando-se suplente.

"A dor me deu a força que eu precisava para ajudar outras pessoas. Não podia ficar parada, calada, esperando a conclusão do caso da minha filha", conta Ana Cristina. "Hoje eu digo para as mães, para as famílias que me procuram, com problemas parecidos ao que a minha filha viveu, que não desistam nunca de pedir por justiça".

Superando as reviravoltas jurídicas

Advogado da família de Ana Cláudia, Mário Badures conta que o caso teve algumas reviravoltas, que tiveram de ser superadas legalmente. Para começar, o rapaz contou três versões diferentes à polícia. A primeira, que a menina estaria grávida de um traficante, que a teria matado. Na segunda, ele teria levado a jovem para passear em sua moto, quando em determinado momento ela caiu do veículo, batendo a cabeça no chão.

Somente depois de algum tempo, o rapaz revelou que teria tentado manter relações sexuais forçadas com a vítima e, diante de sua resistência, acabou por estrangulá-la, escondendo o corpo em um matagal.

A acusação, segundo Badures, era de "estupro [crime sexual] com resultado morte". Mas a Justiça de Cubatão, onde o caso estava sendo julgado, optou por levar o réu a júri, o que é vetado pela Constituição Federal, que prevê que somente casos de crime doloso contra a vida podem ser submetidos a júri. "O acusado foi então brindado com uma absurda absolvição, vindo por entender não ter prova da existência do estupro", recorda o jurista.

"Em perícia realizada no celular do acusado, descobrimos em seu histórico de navegação que, entre as buscas mais realizadas na Internet, apareciam sites de garotas de programa e até mesmo textos sobre quanto tempo um corpo leva para se decompor. Sem contar o fato de que o rapaz ainda estava sendo processado por causa de um outro caso semelhante, de estupro seguido de morte".

De acordo com Badures, mesmo após a primeira decisão, que definiu pela absolvição do réu, a acusação entrou com recurso. Ontem, no julgamento de recurso de apelação, que correu em segredo de Justiça, Manoel foi, então, condenado a 32 anos de detenção, em regime fechado.

"A condenação era o único resultado possível para a família da vítima, covardemente estuprada e morta com perversidade por um maníaco que aterrorizou a cidade de Cubatão. A sentença devolve a tranquilidade para a família e serve de exemplo para a sociedade que sofre, em demasia, com o aumento de violência doméstica, sexual e feminicídios", conclui o advogado.

O UOL não conseguiu contato com a defesa de Manoel dos Santos Eleotério.