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Em seis dias, cinco da mesma família morrem de covid-19 no interior do RS

A família Bonaldi, de Cruz Alta (RS): Jorge (adoeceu mas não precisou ser internado), Paulo, Angelita (foi internada mas recebeu alta), Achiles, Maria Vergilia, João (adoeceu mas não precisou ser internado), Rodrigo (recebeu alta depois de 15 dias de UTI) e Sérgio - Acervo pessoal
A família Bonaldi, de Cruz Alta (RS): Jorge (adoeceu mas não precisou ser internado), Paulo, Angelita (foi internada mas recebeu alta), Achiles, Maria Vergilia, João (adoeceu mas não precisou ser internado), Rodrigo (recebeu alta depois de 15 dias de UTI) e Sérgio Imagem: Acervo pessoal

Lucas Azevedo

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

24/03/2021 17h06

Ao mesmo tempo em que uma parcela significativa da população faz vistas grossas para a epidemia do novo coronavírus que assola o Brasil, famílias inteiras estão sendo dizimadas. E isso pode ocorrer em um curto período de tempo, não dando chance para que os familiares que ficam vivam seus lutos.

Esse é o caso da família Bonaldi, do município de Cruz Alta (RS), a 350 km de Porto Alegre. Em seis dias, cinco familiares morreram vítimas da covid-19.

"Quando a gente estaria fazendo a missa de sétimo dia de um, nós estávamos enterrando o outro", lamenta Jorge Luis Corrêa Bonaldi.

A morte mais recente foi a de Sergio Correa Bonaldi, 47 anos. Ele estava internado desde o dia 12, no Hospital São Vicente de Paulo, e teve o óbito confirmado ontem.

Sergio já estava inconsciente na semana passada quando seu irmão, Paulo Ricardo Corrêa Bonaldi, 62, morreu na quarta-feira (17). No dia seguinte, o outro irmão, Achiles Atílio Bonaldi, 58, faleceu. Já na sexta-feira, Maria Vergilia Corrêa Bonaldi, 83, a matriarca, e Salete Ribeiro da Silva Bonaldi, 61, mulher de Paulo, foram declaradas mortas.

Segundo familiares, eles tinham comorbidades e contraíram o vírus no último mês. Os sete filhos de Maria Vergilia ficaram doentes. Quatro passam bem.

"Eles adoeceram há mais ou menos 24 dias. Tinham comorbidades, especialmente diabetes. A mãe ficava na casa do meu irmão, ambos meio que isolados. A gente já tinha esse cuidado, porque a sabíamos da gravidade disso", conta Jorge.

Ele lembra que há dois meses adoeceu junto com o filho, mas não precisaram ser hospitalizados. "Em mim deu forte, mas não atingiu os pulmões. Deu dor de cabeça, perdi olfato, diarreia, todos os sintomas clássicos. Mas não precisamos ser internados."

Jorge explica que, segundo os médicos, uma variante do vírus, mais nociva, acometeu seus familiares. "Quando eu e meu filho pegamos, foi um tipo de cepa. Agora, o médico nos relatou que uma variante infectou minha mãe e meus irmãos. A agressividade dela dá para se ver pela tomografia dos pulmões. De um dia para o outro eles vão se deteriorando. É um inimigo invisível que te deixa impotente", diz.

Os Bonaldi são uma família tradicional e muito unida de Cruz Alta. Há 40 anos o patriarca, Eurico Bonaldi, instalou no bairro Jardim América uma oficina mecânica que funciona até hoje. Ao redor do estabelecimento, moram todos os irmãos.

"Meus três irmãos estavam sendo medicados em casa. Mas, na sexta-feira (12), o Paulo começou a saturar mal. Então uma equipe da prefeitura levou os três para a UPA. Lá, decidiram internar eles no hospital. Eles foram hospitalizados juntos. Todos precisaram de intubação. Cinco dias depois, na quarta-feira, o Paulo morreu. Depois o Achiles, a mulher do Paulo e a nossa mãe", narra Jorge. Nessa terça foi a vez de Sergio, 47.

Jorge conta que não foi permitido fazer velório dos parentes. "Por medidas de precaução, tínhamos apenas quatro horas para liberar os corpos no hospital e enterrar."

Muito abalado pelas perdas, mas ao mesmo tempo um pouco mais aliviado, já que seus outros três irmãos foram liberados do hospital, Jorge deixa uma mensagem: "Tivemos um pedaço arrancado de uma família muito unida. Mas peço que as pessoas se cuidem. Porque só nós sabemos tudo aquilo que estamos passando nesse momento. Quando se perde alguém já é difícil, agora perder cinco pessoas, três irmãos, uma cunhada e a mãe em uma semana, é inexplicável. Eles são arrancados de você por um inimigo invisível, o que te deixa impotente".