Dedicado e pontual, morto pelo Bope estava há 13 anos na PM e vivia sozinho
O soldado da Polícia Militar Wesley Soares Góes, 38, morto na noite de domingo (28) após atirar contra agentes que negociavam sua rendição na orla do Farol da Barra, em Salvador, servia a corporação desde 2008. Há pelo menos sete anos, estava lotado na 72ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar) de Itacaré, cidade ao sul do estado e distante 250 km da capital.
Ao UOL, colegas de trabalho o descreveram como um profissional "tranquilo", "dedicado" e que amava o que fazia. Sob condição de anonimato, para evitar possíveis represálias, eles criticam as equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) por não tê-lo "vencido pelo cansaço".
Um oficial que atuava na mesma unidade afirma que, mesmo diante da reação do soldado, os agentes deveriam optar pelo uso de mecanismos não letais.
Após passar cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem diante de um dos principais pontos turísticos da capital baiana, o PM acabou sendo alvejado por volta das 18h30, pouco depois de disparar o seu fuzil na direção de policiais que tentavam demovê-lo do protesto solitário.
O soldado, que tinha o rosto pintado de verde e amarelo, chegou a ser socorrido por uma ambulância do Samu (Serviço Móvel de Urgência) para o HGE (Hospital Geral do Estado), mas não resistiu aos ferimentos.
'Nunca demonstrou tendência para surto'
Ele chegou ontem ao seu posto de trabalho pouco antes das 9h, quando começaria um plantão de 24 horas até a manhã de hoje. Lá, pegou um fuzil e uma pistola e saiu sem ser notado pelos demais policiais.
"Só fomos dar falta dele depois que vimos que o seu carro não estava lá", narrou ao UOL um oficial da mesma unidade.
Segundo ele, o soldado sempre foi pontual. Nas poucas ocasiões em que iria se atrasar, ligou para avisar. Desta vez, nada falou. Tampouco externou qualquer insatisfação.
"Até então, ele nunca demonstrou estar sofrendo nada do ponto de vista psicológico, nem em conversas com a gente, nem de maneira formal levada a seus superiores. Ou seja, ele nunca demonstrou tendência para um possível surto", diz o oficial.
Familiares do soldado também afirmam desconhecer sinais de que pudesse sofrer de algum transtorno.
"Aparentemente, ele era um policial normal, calmo, sem problemas. Não merecia morrer como morreu. A própria ficha dele na polícia prova o que ele era. Nunca respondeu por nada errado."
Natural de Belo Horizonte (MG), o PM não era casado, não tinha filhos e morava sozinho em Itacaré. Os pais do policial residem na vizinha Itabuna. Wesley Góes foi enterrado hoje.
Nas redes sociais, pessoas próximas lamentaram a sua morte. Uma amiga escreveu que ele sempre foi um rapaz alegre e carinhoso e que tinha a música como hobby. Nas horas de folga, tocava sanfona.
"Foi uma ação precipitada. Gerenciamento de crise se aplica quando há um refém, mas ali, ele não oferecia riscos à sociedade. Todo mundo estava em local seguro. Os moradores estavam filmando das janelas de seus apartamentos, a imprensa estava distante. É difícil entender", opinou o colega de companhia.
Comandante da PM lamenta desfecho
Em entrevista na manhã de hoje, o comandante da PM da Bahia, coronel Paulo Coutinho, afirmou que os agentes do Bope atiraram contra Góes porque tinham sido alvos de disparos de fuzil.
"Foram utilizados todos os procedimentos, de acordo com a doutrina de gerenciamento de crise que é utilizada no mundo, desde o processo negociativo inicialmente, utilização progressiva da força. Infelizmente, houve por parte do provocador o disparo contra a tropa de intervenção, que teve que reagir imediatamente", afirmou.
"Eu gostaria de deixar bem claro que a gente lamenta profundamente esse episódio e nos solidarizamos mais uma vez com a família do policial militar e com a nossa tropa. O objetivo da ocorrência não era esse. Nós tínhamos um prognóstico melhor. Infelizmente, existem variáveis que não ficam na mão da polícia quando ela intervém, e sim do provocador, quando ele faz o disparo tentando atingir policiais militares e qualquer dispersante", acrescentou Coutinho.
O comandante disse que, em 13 anos na corporação, o soldado nunca apresentou nada para que a instituição se preocupasse com sua saúde mental.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.