Topo

Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Com morte de PM, bolsonaristas incitam motim e atacam lockdown, diz Freixo

Colunista do UOL

29/03/2021 10h50

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Após disparar com um fuzil contra colegas do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que tentavam acalma-lo, o policial Wésley Góes foi atingido, em Salvador, na noite deste domingo (28). Levado ao hospital, não resistiu aos ferimentos. Segundo a corporação, ele estava em surto psicótico.

Desde então, bolsonaristas nas redes sociais vêm bombando uma versão distorcida da história, sem informar que ele colocou em risco a vida de policiais e civis e vendendo o caso como um ato "heróico". A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PSL-DF), foi um deles, insinuando que o PM estaria protestando contra ordens para fiscalizar o isolamento social e incentivando um motim.

Após duras críticas à sua postagem no Twitter, ela o apagou. O tema se tornou um dos mais comentados na rede social na manhã desta segunda, sobrepondo-se às postagens sobre as mortes pelo coronavírus, às críticas contra o chanceler Ernesto Araújo (que comprou nova polêmica ao criticar a senadora Kátia Abreu nas redes sociais neste domingo) e às reclamações pela condução da pandemia por parte do governo Jair Bolsonaro (sem partido).

"Houve um caso grave de um policial que teve um surto e, lamentavelmente, veio a falecer por conta da ação de outros policiais. Sabemos como pode ser estressante o trabalho policial. Agora, a presidente da CCJ se aproveitar de um momento triste e de dor é um desrespeito à família e um senso de oportunismo vil, desonesto, grave e desumano", afirmou à coluna o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

"Tentar usar o caso para provocar motim de policial contra governadores num momento que temos mais de 310 mil mortos por uma crise sanitária sem precedentes é criminoso, ainda mais vindo da presidente da CCJ, que deveria proteger a Constituição", critica. "Mais uma vez ela se utiliza do cargo para pregar violência contra o Estado de Direito e a democracia."

Tuíte de Bia Kicis - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Bolsonaro vem atacando duramente governadores e prefeitos que adotam medidas de isolamento social, como quarentenas e lockdowns, para reduzir o número de mortes por covid-19. O governador das Bahia, Rui Costa (PT), vem sendo um dos alvos principais do presidente.

De acordo com Marcelo Freixo, o PSOL está entrando com ação no Conselho de Ética contra Bia Kicis pelo ocorrido. E afirmou ser importante que outros que tenham se indignado com a situação façam o mesmo. A coluna apurou que outros partidos de oposição devem entrar com representação contra a deputada.

Pelo padrão da reação nas redes sociais, o deputado acredita no envolvimento do "Gabinete do Ódio" - como ficou conhecido o grupo de servidores públicos que trabalha dentro do Palácio do Planalto para produzir notícias falsas contra adversários políticos e jornalistas.

"Não tenha duvida que esse governo feito de fanáticos irresponsáveis que não têm senso republicano está se aproveitando da tragédia de um servidor público para promover fanatismo e ódio", avalia.

Na porta do hospital para onde o policial foi levado, houve um protesto de policiais bolsonaristas e simpatizantes do governo federal. Sobre a possibilidade disso escalar, Freixo diz que qualquer política feita com fanatismo gera violência, mas que espera que todos tenham responsabilidade com a vida.

'Todos os recursos de proteção foram esgotados'

"Ocorrências críticas possuem muitas motivações e só podem ser esclarecidas após a abertura do processo investigativo. Mas ali foi um típico caso de um individuo que estava passando por um transtorno mental e estava desconectado da realidade. As imagens falam por si só", afirmou o comandante-geral da PM da Bahia, Paulo Coutinho, em coletiva à imprensa, nesta segunda (29).

Wésley Góes havia chegado no começo da tarde no Farol da Barra, um dos mais famosos pontos turísticos da cidade, e começado a atirar para o alto. Fazia um protesto sobre a desonra e a violação da dignidade dos policiais.

"Enquanto os disparos não estavam oferecendo riscos para a tropa e para as pessoas que circulavam, protegemos a integridade do soldado. Sempre temos esse cuidado, temos expertise de atender ocorrência dessa natureza", explicou o comandante.

"Foram utilizadas outras alternativas, porém ele estava com uma arma de grande poder de letalidade e em determinado momento todos os recursos de isolamento e proteção foram esgotados."