Topo

Esse conteúdo é antigo

BA: Soldado da PM morre após ter surto psicótico e ser baleado em Salvador

Mattheus Miranda

Colaboração para o UOL, em Salvador

28/03/2021 17h11Atualizada em 29/03/2021 16h32

Um soldado da PM (Polícia Militar) mobilizou uma equipe do Bope (Batalhão de Operações Especiais) ontem à tarde ao caminhar em torno do Farol da Barra, em Salvador, e atirar para o alto e contra veículos da corporação. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) baiana confirmou ao UOL a morte do militar, que foi baleado por policiais após ter um "surto psicótico", de acordo com o comunicado.

Após 3h30 de negociação, ele disparou um fuzil contra guarnições do Bope. Aproximadamente às 18h35, o soldado Wesley Soares Góes, que trabalhava na 72ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar) há quatro anos, verbalizou que havia chegado o seu momento, fez a contagem regressiva e iniciou os disparos. Após pelo menos dez tiros, o soldado foi baleado e levado para o Hospital Geral do Estado - não foi esclarecido se ele chegou morto à unidade de saúde.

Vídeos obtidos pelo UOL (veja acima) mostram o soldado fardado e fazendo pelo menos um disparo com arma de fogo bem próximo à entrada do farol, ao lado de um carro estacionado com a porta aberta e uma grade derrubada, que provavelmente protegia o local. Também é possível ver o momento exato em que o soldado efetua disparos em direção às viaturas, caindo em seguida, ao ser baleado. A SSP confirmou que ele efetuou disparos com arma de fogo para cima.

Nas imagens, é possível ouvir uma frase repetida mais de uma vez pelo soldado, que não teve seu nome revelado e tinha o rosto pintado de verde e amarelo.

"Os nossos objetivos primordiais são preservar vidas e aplicar a lei. Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores", declarou o comandante do Bope, major Clédson Conceição.

Wesley Soares Góes com rosto pintado em verde e amarelo antes de ser baleado - Alberto Maraux/SSP - Alberto Maraux/SSP
Wesley Soares Góes com rosto pintado em verde e amarelo antes de ser baleado
Imagem: Alberto Maraux/SSP

A ocorrência se iniciou às 14h, quando o militar chegou armado com fuzil e pistola na Barra. Imediatamente ele iniciou disparos de fuzil para o alto. "Comunidade, venham testemunhar a honra, ou a desonra do policial militar do estado da Bahia", gritou o homem, antes e depois de efetuar um disparo em frente ao Farol da Barra.

O local foi isolado e pessoas saíram correndo nas imediações quando começou a ação do soldado. Além do Bope, policiais do CPR-Atlântico (Comando de Policiamento Regional) também foram mobilizados para a ocorrência.

A Aspra (Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares) lamentou a morte de Wesley e convocou uma manifestação em protesto pelo ocorrido.

A Bahia vive atualmente um lockdown para tentar conter o avanço da pandemia de covid-19. As medidas restritivas foram prorrogadas na sexta-feira (26) até 5 de abril, e incluem um toque de recolher entre 18h e 5h.

Repercussão

A morte do soldado teve repercussão entre políticos, sendo que a manifestação da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) no Twitter gerou repúdio de opositores.

A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) escreveu uma mensagem na qual dizia que Wesley Soares Góes "foi abatido" porque "disse não às ordens de Rui Costa (governador da Bahia)", sugerindo que o soldado havia se recusado a fiscalizar quem descumprisse as medidas de restrição impostas na cidade. A investigação ainda está em curso, mas até o momento não está claro a motivação de Wesley para o ato.

Mais tarde, Bia Kicis apagou o tuíte e justificou, dizendo que aguardará investigação para se pronunciar novamente. Porém, outros deputados como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) repetiram o teor do discurso da deputada, atribuindo ao soldado uma frase com conotação política que teria sido dita por ele durante o incidente.

Deputados de oposição reagiram, dizendo que Kicis e outros bolsonaristas estão incentivando um motim de PMs na Bahia. Segundo Marcelo Freixo (PSOL-RJ), os bolsonaristas estão "manipulando uma tragédia para atacar a Constituição e a Democracia".