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Caso Henry: Secretário justifica privilégios a Monique e Jairinho na prisão

Caso Henry: Jairinho e mãe de Henry também ficaram juntos em sala de diretor por 40 minutos - Reprodução/TV Record
Caso Henry: Jairinho e mãe de Henry também ficaram juntos em sala de diretor por 40 minutos Imagem: Reprodução/TV Record

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/04/2021 08h38

Durante as duas horas em que permaneceram no presídio considerado a porta de entrada para o sistema prisional do Rio de Janeiro, Dr. Jairinho e Monique Medeiros ficaram isolados dos demais detentos na penitenciária José Frederico Marques, em 8 de abril, por risco à integridade física, segundo documento entregue ao Ministério Público estadual, ao qual o jornal O Globo teve acesso.

Entregue no dia 14 de abril pelo secretário de Administração Penitenciária do Rio, Raphael Montenegro, o documento confirma que o casal ficou na sala de Ricardo Larrubia da Gama, o diretor da prisão, por pelo menos 40 minutos.

Gama pediu para ser afastado do cargo no dia 12 de abril após denuncias na imprensa de que o casal teve direito a regalias durante o período. À data mencionada, o UOL revelou que Monique e Jarinho tiveram minutos de privacidade - nos quais trocaram beijos e abraços, o que é proibido - na sala do diretor.

No documento endereçado à Justiça de Tutela Coletiva do Sistema Prisional e Direitos Humanos, reproduzido por O Globo, Montenegro escreve:"No caso concreto, tendo em vista a prévia de ordem de transferência, entendeu o Diretor [da prisão] não haver sentido de se realizar [o remanejamento] de todo o efetivo carcerário apenas para aguardar a chegada das viaturas do Grupamento de Serviço de Escolta, que os encaminharia às respectiva unidades".

O relatório mostra ainda que o casal chegou à prisão às 13h16 e dois minutos depois foram encaminhados ao setor de triagem, onde permaneceram por 15 minutos. Cerca de 18 minutos depois foram para a audiência de custódia, na própria unidade.

O casal voltou da audiência às 15h03 e foi encaminhado a um ambiente de uso comum, registra o documento:

Com a iminente chegada de novos internos para triagem e classificação, diante da repercussão dos crimes dos quais os internos Jairo e Monique são suspeitos, e a classificação de alto risco à segurança pessoal dos mesmos, foi a interna Monique encaminhada à sala de segurança e o interno Jairo, à sala do diretor"

Já na sala do diretor, Monique e Jarinho formalizaram o pedido de "seguro", no qual declararam temer pela integridade física. Ao final do documento, Montenegro afirma que "declinou de abrir qualquer procedimento disciplinar contra o [então] diretor do presídio Frederico Marques".

Café na sala do diretor, denunciam agentes

Policiais penais ouvidos pela reportagem dizem ter visto Jairinho e Monique sendo recebidos na unidade pelo próprio diretor, com o político permanecendo na sua sala —o que é irregular. Lá, ficou a portas fechadas com o diretor.

De acordo com relatos ao UOL, Jairinho dava gargalhadas e conversava com o diretor no local. Os agentes contam ainda que o próprio diretor ordenou a compra de pão, refrigerante e café.

Os policiais penais afirmam que a ação foi registrada pelas câmeras da unidade —as imagens foram encaminhadas ao MP-RJ, de acordo com a Seap.

Jairinho permaneceu o tempo inteiro na sala do diretor e só deixou o local para ir à audiência de custódia - sem algemas e sem o uniforme da Seap -, segundo os agentes. Os servidores contam ainda que Jairinho não passou pela revista de praxe.

Já Monique foi levada para uma sala de segurança, localizada no mesmo corredor da sala da direção. Um episódio chamou a atenção dos guardas: durante a revista corporal feita em Monique, uma agente perguntou informalmente o motivo de ela não ter denunciado as agressões de Jairinho ao menino Henry. Monique permaneceu em silêncio.

Segundo os agentes, Jairinho agia com naturalidade - falava alto e ria enquanto conversava com o diretor -, enquanto Monique aparentava estar sob o efeito de medicamentos.

Despedida com beijo e abraço

Antes de deixarem a unidade, Monique foi chamada até a sala do diretor, onde se despediu de Jairinho com um abraço e um beijo - o que é proibido. De acordo com os agentes, o diretor permaneceu do lado externo, supostamente para dar privacidade ao casal.

O episódio aconteceu, segundo contam os servidores, por volta das 15h30 de 8 de abril, quando viram Monique no corredor que dá acesso à sala de diretor. O contato entre o casal durou menos de um minuto, segundo o relato dos policiais penais que presenciaram a cena.

Conforme a denúncia, Jairinho e Monique sequer foram levados para a carceragem da unidade, como é de praxe nesses casos.

Por volta das 16h, Jairinho foi transferido para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó. Já Monique foi levada para o Instituto Penal Ismael Sireiro, em Niterói. O casal cumpre período de isolamento de 14 dias antes de ingressarem no sistema prisional, protocolo adotado pela Seap desde o início da pandemia.