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Henry: Polícia descarta ouvir mãe; defesa diz: 'A quem interessa silêncio?'

Monique Medeiros, mãe de Henry, é investigada por homicídio - Tania Rego/Agência Brasil
Monique Medeiros, mãe de Henry, é investigada por homicídio Imagem: Tania Rego/Agência Brasil

Herculano Barreto Filho e Tatiana Campbell

Do UOL e colaboração para o UOL, no Rio

20/04/2021 15h50

A Polícia Civil do Rio já está elaborando o relatório final da investigação do assassinato do menino Henry, morto na madrugada de 8 de março, que deve ser concluído até sexta-feira (23) com pedido de prisão preventiva (com prazo indeterminado) do vereador Dr. Jairinho (sem partido) e da professora Monique Medeiros por homicídio duplamente qualificado —com emprego de tortura e recursos que impossibilitaram a defesa da vítima.

Os delegados que estão à frente da investigação praticamente descartam a possibilidade de a mãe da criança de 4 anos ser ouvida novamente, apesar dos apelos feitos pela defesa de Monique, que acusa Jairinho por agressões e manipulação após o crime.

O delegado Antenor Lopes, diretor do DGPC (Departamento Geral de Polícia da Capital), que coordena as investigações, disse ao UOL que a decisão final será do delegado Henrique Damasceno, responsável pelas investigações conduzidas pela 16ª DP (Barra). Mas confirma que a tendência é de que Monique não seja ouvida novamente.

"Sinceramente, não sei o que ela teria a acrescentar na investigação agora que toda a versão dela foi desmontada. Já temos elementos para encerrar a investigação. Ela já mentiu. Quem garante que vai dizer a verdade agora?", questionou.

A mãe de Henry Borel relatou à sua defesa que, desde o final do ano passado, quando começou a se relacionar com Jairinho, sofreu agressões físicas e verbais do parlamentar e que, após a morte da criança, foi manipulada para ajudá-lo. Ela definiu o relacionamento deles como abusivo.

A defesa também diz que Monique pretende dar detalhes do que aconteceu no apartamento da Barra da Tijuca na madrugada de 8 de março, quando a criança morreu.

Desde a última sexta-feira (16), a Polícia Civil vem se manifestando sobre a possibilidade de concluir o inquérito sem ouvir de novo a mãe de Henry. O delegado Antenor Lopes já havia dito que não existiam indícios de que ela estivesse sendo vítima de ameaças. "Nós já julgamos ter elementos suficientes para apresentar o relatório final ao MP [Ministério Público] e em seguida ao Judiciário", afirmou.

'Ela está com covid', diz delegado sobre depoimento

Questionado por jornalistas hoje à tarde na saída da 16ª DP (Barra) se a mãe de Henry seria ouvida novamente, o delegado titular Henrique Damasceno rebateu: "Como? Ela está com covid".

Presa desde 8 de abril com Jairinho por suspeita de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas e investigada por envolvimento no crime, Monique foi isolada ontem por estar infectada, segundo a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária).

A secretaria informou que Monique foi encaminhada ao Hospital Penal Hamilton Agostinho, no complexo de Gericinó em Bangu, zona oeste do Rio, onde foi diagnosticada com covid-19.

Mas a defesa da professora trouxe uma versão diferente. "Não tem exame final ainda confirmando [a doença]. Foi um isolamento por precaução", afirmou a advogada Thaise Assad. A defesa informou ter solicitado "acesso à documentação hospitalar".

Defesa quer depoimento via videoconferência

"Ainda que seja verdadeira a contaminação de Monique por covid, permanece como imprescindível nova audição de Monique no inquérito policial, ainda que por videoconferência, eis que: a quem interessa o silêncio de Monique?", questionaram os advogados, em nota assinada por Thiago Minagé, Hugo Novais e Thaise Assad.

Segundo os defensores, também foi feito um pedido ao procurador-geral de Justiça do Rio, reforçando a presença de um promotor para acompanhar o inquérito.